
Diminuir a incidência do sol nos edifícios e, com isso, reduzir o uso de energia é uma preocupação crescente na arquitetura contemporânea. Entre os recursos utilizados para isso, estão os brises ou brise- soleil (expressão de origem francesa, que significa quebra-sol).
O produto garante o controle de iluminação e ventilação dos ambientes, reduzindo a necessidade de cortinas, persianas ou venezianas e contribuindo para o uso racional do ar-condicionado, além de ser um elemento decorativo na fachada. "Em linhas gerais, os brises são uma série de lâminas, móveis ou não, localizadas em frente às aberturas dos edifícios. No caso de serem móveis permitem que, conforme a necessidade e a conveniência, sejam reguladas para aumentar ou diminuir a insolação", diz o arquiteto Boris Cunha, do escritório Willer Arquitetos Associados.
Ele explica que a utilização correta exige o estudo da insolação no local. A partir daí, são determinados os períodos em que a radiação solar incidirá de forma mais agressiva no prédio e se determinará a angulação e orientação das lâminas. "Cada local tem uma particularidade. Em Curitiba, por exemplo, tem-se uma situação de insolação mais favorável do que em outros lugares do país, que são mais quentes. No entanto, no inverno, que é mais rigoroso, é desejável que a área receba mais sol", diz Cunha.
Quanto à orientação, os brises podem ser verticais ou horizontais, dependendo da posição da fachada. "Para aplicação em fachadas voltadas para o norte, nordeste ou noroeste, o brise deve ser horizontal. Nas fachadas voltadas para leste ou oeste, onde o sol incide de forma mais baixa e chapada, usam-se brises verticais", afirma o arquiteto Manoel Dória, do escritório Dória Lopes Fiuza.
Ele lembra ainda da importância da angulação, determinada de acordo com o percurso do sol durante o dia. "Essa variação depende da latitude. Somente estudando o terreno é possível determinar o ângulo e o espaçamento entre lâminas corretos", diz.
No projeto da Clínica Quanta Diagnóstico Nuclear, em Curitiba, o arquiteto Adolfo Sakaguti utilizou brises metálicos e ondulados para unir a função do bloqueio solar e da estética tecnológica. "A clínica trabalha com recursos de alta tecnologia em prol da saúde, o ondulado tem uma característica mais orgânica, enquanto o metalizado traduz a tecnologia", diz Sakaguti.
Para Dória, outra vantagem do brise é a possibilidade de esconder elementos aparentes na fachada, como o ar-condicionado, por exemplo. "É um recurso que aumenta a eficiência energética e ainda é possível tirar partido estético, unindo tecnologia e sustentabilidade", aponta.
Materiais e custo
Os profissionais afirmam que qualquer que seja o elemento de fachada utilizado, há um impacto de custo na obra. "A fachada é um elemento muito importante esteticamente. É preciso pensar bem no material que se adeque à linguagem do prédio", diz Dória.
Algumas fabricantes oferecem as lâminas prontas para a instalação. "Esses produtos são, normalmente, de metais diversos, como alumínio pintado ou natural e aço inox", diz Cunha. Mas é possível fabricar os brises no canteiro de obras, barateando o custo. As duas situações ocorreram em projetos assinados pelo escritório Willer.
Em um clube de lazer em Londrina, optou-se por brises de madeira para conter o sol em áreas com grandes paredes de vidro. O brise foi construído no local com madeira aplicada em uma estrutura metálica. O preço do material ficou em R$ 200 o metro quadrado.
No Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco, no Acre, que está em fase de construção, serão utilizados brises metálicos pintados de cores fortes, para se contrapor aos outros elementos sóbrios da edificação. "Utilizamos o modelo Aero Brise da fabricante Hunter Douglas. A grande vantagem é que as lâminas são transfuradas, assim quem está dentro do edifício consegue ver o lado de fora", comenta Cunha. O produto custa, em média, R$ 800 o metro quadrado, dependendo do acabamento.
Manoel Dória optou por desenhar um modelo exclusivo para o projeto de um edifício em Florianópolis. "Usamos aço inox para a fabricação, mas o fato de fazer o desenho, deixou o projeto viável, com custo de R$ 250 a R$ 300 o metro quadrado instalado", conta. Dória sugere ainda o uso de vidro refletivo e concreto.
Qualquer que seja a opção é preciso fazer a manutenção adequada do brise. "Os metais praticamente não demandam manutenção, apenas limpeza com água e sabão neutro. No caso da madeira ou concreto, é preciso pintar regularmente e evitar o ataque de cupim", indica Cunha.
Aplicação pode ser feita após a construção
A especialista em fachadas de baixo impacto, a pesquisadora Mônica Marcondes, do Laboratório de Conforto Ambiental e Eficiência Energética (Labaut), da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), diz que o uso de brises é uma das soluções mais acessíveis e esteticamente viáveis para transformar uma fachada comum em eficiente energeticamente. "Mesmo que o prédio já exista é possível aplicar um brise, com uma estrutura metálica que pode ser parafusada na fachada."
O estudo de viabilidade é ainda mais importante neste caso. "Como o prédio está pronto, será preciso definir que tipo de brise ficará mais adequado. O recurso precisa ser tanto funcional quanto estético", comenta Cunha.
Como o preço é elevado, o uso do brise é mais comum em projetos de prédios comerciais, mas é possível usá-lo também em residências. A arquiteta Juliana Hofstaetter Zimer, especificadora técnica de produtos da Hunter Douglas no Paraná, explica que se deve escolher produtos mais leves para a aplicação residencial.
Na fachada de um residência construída com muito vidro, a empresa sugeriu o uso de um brise horizontal de lâminas bem finas de madeira. "Esse tipo de brise é discreto e não comprometeu a estética da casa. Os moradores conseguem contemplar o visual do jardim e da piscina sem que a sala receba tanto sol, comprometendo os móveis e a pintura", aponta Juliana.







