Um dos principais motores da Economia, a construção civil também é responsável por índices preocupantes. Dados apresentados pela Organização das Nações Unidas (ONU) durante a conferência sobre mudanças climáticas no ano passado, no México, apontam que o setor consome 40% da energia produzida, é responsável pela extração de até 30% dos materiais do meio natural e gera 25% dos resíduos sólidos do planeta. A boa notícia é que o setor começa a se preocupar com isso e a desenvolver produtos que diminuam o impacto no meio ambiente desde a base da construção: os tijolos.
"A constatação de que a construção é um dos principais agentes poluidores não é nova. É a partir disso que se tem buscado soluções que minimizem os efeitos", diz o engenheiro civil Fernando Arns, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e coordenador do projeto Ecohabitare Sistemas Sustentáveis. Junto com os alunos da instituição, ele desenvolveu um tipo de tijolo ecológico feito a partir de pó de mármore. "Fizemos um levantamento e constatamos que 51% das marmorarias do estado ficam no entorno de Curitiba. O volume de resíduo é muito grande: cerca de 500 quilos por dia em cada empresa", afirma.
O uso do pó de mármore possibilita a redução da quantidade de cimento necessária para a formação do bloco e faz com que o produto tenha mais resistência mecânica, preço competitivo e dispense o uso de reboco, elenca o professor.
Saibro
Ideia parecida, mas baseada nas formas naturais de fabricação, foi desenvolvida pelo empresário Wolni Duwe, sócio da Ecotijolo, que há oito anos pesquisa possibilidades para reduzir o impacto ambiental da construção civil. Ele criou um tijolo feito da mistura de saibro (combinação de argila e minerais normalmente usada nas quadras de tênis), cimento e água. "Usa-se apenas o que sobra do saibro. Não é preciso extraí-lo e degradar o meio ambiente."
Tanto o bloco feito com resíduo de mármore quanto o produto feito com saibro dispensam o processo de queima pelo qual passa um tijolo cerâmico comum. "Depois de confeccionados (em prensa hidráulica com pressão de oito toneladas), os tijolos de saibro são mergulhados em tambores de água reaproveitada da chuva e secos naturalmente. Esse processo garante até o dobro de resistência ao produto", diz Duwe, que construiu a própria casa com o bloco. O produto desenvolvido com pó de mármore não precisa ser umedecido e sai da prensa direto para a secagem.
Método
Para o professor, além da preservação ambiental, as vantagens são a rapidez para concluir uma obra e a limpeza no canteiro. Os tijolos têm dois furos, por onde passam as tubulações dos sistemas hidráulico e elétrico. "Dispensam-se as vigas com caixaria de madeira, e o ferro que sustenta as paredes é colocado nos furos do bloco", explica Arns. "Uma casa de 100 metros quadrados fica pronta em até dez dias."
Esta praticidade é atestada pelo construtor e engenheiro civil Anderson Zamo, proprietário da Ecoideia Construtora Sustentável. Ele garante que há ganho de 20% em produtividade e economia de até 30%. "O preço do tijolo ecológico é maior. O milheiro custa cerca de R$ 450, contra R$ 350 do tijolo cerâmico. Porém não se usa reboco nem cal. Pode-se partir direto para a fixação de revestimentos."
Desafios
Como ainda não há uma norma de qualidade exclusiva para os blocos ecológicos, segue-se o padrão de produção com base nas regras da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) em relação a blocos de concreto e cerâmica. "Temos a patente do tijolo ecológico com pó de mármore e agora é preciso criar uma cultura de uso desse e de outros produtos com o mesmo apelo", diz o professor da PUC PR. "Quando houver uma norma específica, será possível requerer um selo verde para uma certificadora, como, por exemplo, o Green Building."
Com a criação da norma, Arns diz que será possível usar tijolos ecológicos em obras financiadas pela Caixa Econômica Federal e em programas de habitação como o Minha Casa, Minha Vida. Além do pó de mármore, até o fim do ano, o projeto Ecohabitare vai estudar o uso da caliça (fragmento de argamassa resultante da demolição de obras de alvenaria) para a fabricação de tijolos e outros materiais. "Um dos itens da sustentabilidade é aproveitar os resíduos gerados na comunidade. O mármore é um caso específico de Curitiba. Já a caliça da construção está presente em todos os locais."



