
Teto de gesso rebaixado, luz indireta, piso de porcelanato, luminárias assimétricas e armários planejados. Os itens da lista, que até pouco tempo figuravam apenas nas decorações de apartamentos de médio e alto padrão, passam a fazer parte da composição dos imóveis populares. Para fazer com que tudo caiba nos ambientes, o público da classe C adere também à contratação de profissionais de arquitetura e design de interiores.
"Nos últimos cinco anos, esse perfil de consumidor descobriu as vantagens de ter um serviço especializado na hora de decorar a casa", comenta a vice-diretora da regional Paraná da Associação Brasileira de Designers de Interiores (ABD), Karin Brenner.
Dados da associação apontam que na última década o setor cresceu 500% e boa parte desse desempenho se deve a esse novo mercado, afirma o consultor de marketing da ABD, especializado em produtos para reforma e decoração, Ricardo Botelho. "Estamos assistindo ao despertar do mercado de decoração para a chamada classe C. Agora os profissionais, os fabricantes e as lojas precisam aprender a criar produtos e formas de atendimento dentro das condições dessas famílias, que têm mais acesso a informação e estão interessadas em mobiliar a casa com bom gosto", analisa.
Considerando números da Fundação Getúlio Vargas, as famílias dessa fatia do mercado recebem entre R$ 1.115 e R$ 4.807 por mês e representam 46% dos rendimentos de pessoas físicas. "São mais de 90 milhões de pessoas que gastam cerca de R$ 600 bilhões por ano. Não é uma cifra a ser desprezada pelo mercado de decoração", destaca Botelho.
Alguns profissionais despertaram para essa realidade e estabelecem formas de contrato que atendem às necessidades dos clientes. "Essas famílias, normalmente, não fazem a decoração da casa toda de uma só vez. Acabo fazendo o projeto por partes", diz a arquiteta Juliana Cararo, que há dez anos busca atender clientes nessa faixa de renda. "Para baratear os projetos, a alternativa é misturar materiais econômicos e investir em alguns produtos nos detalhes", afirma.
Sonho
A enfermeira Edina Marahara comprou um sobrado na planta no bairro Xaxim há dois anos. Dos R$ 140 mil pagos pelo imóvel, R$ 100 mil foram financiados em 25 anos. O imóvel ficou pronto há pouco mais de dois meses e a mudança foi feita há 15 dias. "Como usei toda a economia para a entrada, a decoração da casa está sendo feita devagar", relata. Edina mora com a mãe e o filho de 15 anos.
Mesmo com o aperto, ela não abriu mão de um antigo sonho. "Sempre quis a supervisão de um profissional na decoração para ter a casa com bom aproveitamento de espaço e com tudo combinando."
Juliana foi contratada para fazer o projeto luminotécnico e de mobiliário do primeiro piso da casa, composto por uma sala, para dois ambientes, cozinha e lavabo. O preço do contrato foi de R$ 2.500 e incluiu a orientação para a compra dos materiais, além de consultorias por telefone para dúvidas que surgiam durante a execução. "Ela (Juliana) ajudou a encontrar boas soluções de iluminação e um excelente preço de porcelanato", comenta Edina, que parcelou o pagamento para a profissional em três vezes, "mas poderia ser em até cinco", diz.
A previsão é gastar cerca de R$ 20 mil com móveis e decoração. A cozinha foi feita com móveis planejados (por R$ 4.800) e os móveis da sala estão encomendados e custarão cerca de
R$ 7 mil. "Fiz vários orçamentos e a Juliana ajudou a encontrar uma marca de qualidade e com bom preço", diz.
A coordenadora do Curso de Design de Interiores da UniCuritiba, Micheline Marcos, explica que as indústrias de móveis planejados lançaram marcas com acabamentos menos refinados que custam menos da metade dos produtos premium e recomenda ainda recorrer à marcenaria, porém com acabamentos mais simples. "São formas de baratear um móvel de R$ 8 mil para até R$ 2 mil."
Reaproveitamento
Há casos em que é possível economizar aproveitando móveis e outros materiais que se tenha em casa em um novo projeto de decoração. "Os móveis de família, eletrodomésticos antigos, sobras de madeira e outros materiais podem ser usados na decoração. São soluções inteligentes e sustentáveis que um profissional ajuda a projetar", comenta a arquiteta e professora do curso Técnico de Decoração do Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) Caroline Afonso.
Esse é o caso de uma estante, com mais de 30 anos, transformada em cristaleira no projeto da sala da designer gráfica Andréa Penteado. Com uma pintura e acabamento em pátina, o produto foi repaginado. "Fiz essa e outras adaptações no projeto feito pela arquiteta (Juliana) e consegui adequar a decoração às minhas condições", relata.
Reaproveitar também está sendo a palavra de ordem no apartamento da recepcionista Andréa Posselt de Lima. Ela optou pela compra de um apartamento antigo, com cômodos amplos. A impossibilidade de preencher os 82 metros quadrados com móveis logo após a compra, há dois anos, obrigou Andréa a esperar e economizar. "Guardei dinheiro para fazer uma reforma completa e decidi contratar a consultoria de uma arquiteta. Imaginava que seria um orçamento exorbitante, mas paguei R$ 1.700 em três vezes", diz Andréa Lima.
A arquiteta Patrícia Vertuan de Oliveira prestou a consultoria para a recepcionista e revela que nesse formato o preço é mais baixo e é possível resolver várias questões relacionadas à decoração. "Costumo fechar pacotes com algumas horas de consultoria. Caso o cliente precise estender o trabalho, negociamos novamente. Assim não pesa no bolso", explica. Durante os encontros, o cliente pode apresentar suas ideias, mostrar o espaço disponível e sanar dúvidas para que o arquiteto ou designer desenvolva uma diretriz sobre a disposição do mobiliário e composição.






