
Amenizar o estresse da rotina na metrópole ou reviver a infância são bons motivos para quem escolhe morar em casas que mais parecem chácaras, cercadas por áreas verdes, com direito a jardim e quintal. Dá trabalho cuidar de residências nesse estilo, mas viver com ares de campo dentro da cidade não é impossível.
Em Curitiba, há regiões onde a proximidade com a natureza e a vizinhança tranqüila lembram cidades do interior. A maioria desses locais está na região norte, considerado o cinturão verde da capital paranaense.
Bairros como Botiatuvinha, São João, Cachoeira, Pilarzinho, Vista Alegre, Taboão e Barreirinha ainda têm oferta de terrenos com muita área verde alguns já com casas construídas. Outras regiões, como Campo de Santana, Ganchinho e Umbará, ao sul,também têm essa vocação.
"Nesses locais até a qualidade do ar é melhor", comenta o diretor da JBA Imóveis, Ilso Gonçalves. Com experiência de mais de vinte anos no mercado, ele diz que a busca de imóvel que possibilite contato com a natureza, fora de condomínios fechados, não é prioridade para o comprador curitibano.
"O cliente que procura um local mais tranqüilo e afastado do centro hoje é minoria, mas acredito que essa tendência vai ser mais forte nas próximas gerações", observa.
Normas
A consciência ambiental vem evoluindo entre a população, muita gente vê a legislação como entrave para construir em áreas arborizadas. A lei municipal 9806/2000, que institui o Código Florestal de Curitiba, é que estabelece condições para proteção e preservação das coberturas vegetais da cidade.
Para construir em terrenos com parte da sua área coberta por bosque nativo relevante é obrigatória uma faixa de manutenção de 3 metros entre a edificação e a bordadura do bosque.
Há exigências, mas também compensações. A arquiteta Vivian Millarch, do Studio Arch, explica que a legislação estabelece isenção ou redução sobre o valor do terreno para o cálculo-base do IPTU, de forma proporcional à taxa de cobertura florestal.
Em áreas atingidas por bosque nativo relevante, o desconto pode ir de 30% a 100% do valor do IPTU.
"Já para terrenos que possuem espécies imunes de corte, como a araucária, a redução é de 10% por árvore, até o limite máximo de 50%", diz a arquiteta. Onde a vegetação é relevante, a taxa de utilização máxima permitida pode ser limitada a 30% da área do terreno.
Há restrições de construção para terrenos em fundo de vale. No entanto, o que parece um entrave acaba sendo vantagem para potenciais compradores: áreas arborizadas ou em fundo de vale podem ter valores abaixo da média de mercado justamente por causa das exigências ambientais.
Benefícios
"É possível adaptar o projeto da construção às limitações do terreno, sem perder qualidade. O desenho do imóvel tem de ser adaptado", comenta Vivian. Ela, que optou por morar em bairro mais afastado, reconhece que as regras para preservação são necessárias e geram qualidade de vida. "Se o projeto da casa for bem planejado e executado, não haverá problemas e sim benefícios", ressalta.
De acordo com a prefeitura, Curitiba tem mais de 77 milhões de metros quadrados de vegetação nativa de porte arbóreo, entre bosques públicos e áreas particulares.
Consideram-se bosque nativos relevantes os que possuam as características dos nativos, e que pela tipologia florestal, localização e porte sejam inscritos no cadastro do setor especial de áreas verdes da secretaria municipal do Meio Ambiente.
As regras ambientais, de construção e de uso do solo são geridas pelas secretarias de Urbanismo e do Meio Ambiente da cidade.
Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
ExperiênciaPara viver e trabalhar feliz
Juliana Luna mora em uma chácara dentro de Curitiba. A área de 3 mil metros quadrados, no Botiatuvinha, fica a 10 quilômetros do centro. Há quatro anos residindo no local, Juliana, que é instrutora de yoga, conta que desde que chegou à capital paranaense procurava uma casa onde pudesse morar e exercer a profissão.Acertou no alvo. Na "chácara urbana", ela montou o centro Yoga Santa Felicidade. Hoje, diz que não há lugar melhor para viver, estudar e dar aulas.
A cearense Juliana morou, antes, na França e na Índia. Decidiu que, quando retornasse ao Brasil, viveria onde pudesse ter contato diário com a natureza. Após alguns meses de procura em Curitiba, adquiriu o imóvel, na região de Santa Felicidade, com a casa pronta no terreno e não fez adaptações. No local, além de espaço para aulas de yoga, funciona também um centro de meditação. "Temos aquecedores porque aqui é mais frio do que no centro da cidade. Mas não há problemas de segurança nem de acesso ao centro e a outros bairros. A vizinhança é tranquila. Morar aqui só traz benefícios."




