
O acesso a espaços públicos para portadores de deficiência física é garantido pela Constituição Federal e por diversas leis federais e municipais, no caso de Curitiba. Mas a dificuldade de locomoção também se faz presente dentro de casa e no acesso aos condomínios. Mudar alguns itens no projeto arquitetônico é imprescindível para que portadores de necessidades físicas possam morar com conforto.
O especialista em arquitetura funcional e inspetor do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do Paraná (Crea-PR), Ricardo Mesquita, afirma que a adequação de um projeto arquitetônico para portadores de deficiência física não onera a obra. "Alguns arquitetos têm a ideia de que adequar um projeto implica em deixá-lo menos bonito e mais caro", diz Mesquita.
Para ele, parte dessa crença está ligada ao fato de não se ter conhecimento das necessidades dos cadeirantes. "Eles precisam de mais espaço, portas maiores e alguns itens de segurança. Mas o preço para fazer um corredor de 90 centímetros ou de um metro de largura é muito parecido", diz.
Lisandre Bebik, arquiteta da construtora Casteval que constrói casas adequadas, diz que o mais importante é facilitar o acesso aos cômodos com segurança. "As rampas, para facilitar a locomoção, e os pisos mais texturizados, para evitar quedas, são importantes para atender a acessibilidade", comenta.
No bairro de Santa Felicidade, em Curitiba, a construtora projetou uma casa com portas e corredores mais largos, sem escadas e com alguns itens de segurança, como as barras nos banheiros para facilitar a vida da proprietária do imóvel Iraide Dallabona, que tem uma deficiência física que a obriga a utilizar bengalas. "As portas de correr no closet, quarto e no banheiro facilitaram o acesso e deixaram o dia a dia mais seguro", diz Iraide.
Ela queria incluir um piso de mármore na sala, mas foi aconselhada pela arquiteta a colocar um tipo de piso antiderrapante. "O projeto foi todo desenvolvido de acordo com as minhas necessidades, mas minha família também tem mais conforto com essas adaptações."
Para Ricardo Mesquita, o ideal seria que em todos os projetos fossem previstos os possíveis problemas de locomoção. "Uma casa é um local para toda a vida. Ainda que não sofra acidente, o usuário ficará idoso e com algumas limitações."
Legislação
Para auxiliar os projetos a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) possui a norma 9.050, chamada Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, que visa "proporcionar à maior quantidade possível de pessoas, independentemente de idade, estatura ou limitação de mobilidade ou percepção, a utilização de maneira autônoma e segura do ambiente, edificações, mobiliário, equipamentos urbanos e elementos."
Mesquita aponta que, de acordo com as leis federais 7.853 e 10.098, todos os edifícios deveriam garantir o acesso dos cadeirantes. Mas não é o que ocorre. "A determinação não é cumprida à risca e falta punição para os que descumprem", avalia.
Quando não se tem um projeto adequado a única forma é adaptar, sem prejudicar o projeto arquitetônico. Foi o que Mesquita realizou no prédio onde mora Letícia Rodrigues Silva, de 21 anos. "Fui procurado pelo pai da menina que não se conformava em ter de carregá-la pela garagem", diz.
Até 2003, quando a obra foi realizada, o prédio só tinha acesso por escadas até o hall de entrada. "A preocupação dos moradores era que a obra prejudicasse o paisagismo e ficasse muito cara", lembra o arquiteto. Para que isso não ocorresse, Mesquita desfez o jardim e instalou um bloco de concreto, feito na mesma cor do piso do prédio. "Depois refizemos o jardim com todas as características anteriores."
A alteração custou cerca de R$ 2 mil e na divisão entre os moradores, significou R$ 7 por pessoa. "A Letícia era discriminada, a única moradora que entrava pela garagem e não pela porta principal. Com a obra ela ganhou dignidade", diz Antônio Rodrigues Silva, pai de Letícia.






