
Produtos inovadores, práticos e com belo design são os princípios que movem o trabalho de Henrik Otto, vice-presidente mundial de design do grupo Electrolux. O sueco esteve em Curitiba para uma palestra sobre design sustentável esta semana, dentro da programação da Bienal Brasileira de Design 2010. O evento será realizado até 31 de outubro na capital. Em entrevista à Gazeta do Povo, Otto afirmou que design sustentável não pode ser considerado um marketing competitivo. "Seria possível uma empresa insustentável? É um dos itens que têm de ser preenchidos obrigatoriamente. Do contrário, ninguém comprará seus produtos e não sobreviverá no mercado." O mestre em design industrial falou também sobre sua filosofia de trabalho, iniciativas no campo do design e o que pensa sobre o setor no Brasil e no mundo. Confira os principais trechos da entrevista:
Qual o conceito de design que sua equipe de profissionais da Electrolux busca?
Ele é construído no que chamamos de filosofia de pensamento. Significa que, em todo o design criado, o consumidor está em primeiro lugar. Claro que pensamos na parte funcional, mas também na questão emocional, em como a pessoa vai se sentir quando usar o produto. A ideia é transmitir calma e conforto e que, ao reutilizá-lo, reviva a impressão positiva que já teve antes.
Como surgiu o projeto Ergorapido (aspiradores para limpeza instantânea da Electrolux, em várias cores), que mescla função e design?
Reinventamos uma categoria de produto. Foi um dos primeiros projetos realizados no qual trabalhamos muito solidamente a visão do consumidor como parte do processo. Principalmente na Europa e Estados Unidos, percebemos que, ao fazer visitas surpresas em casas com crianças pequenas, o aspirador de pó estava sempre solto em qualquer lugar da casa, porque sempre há o que limpar, como cereal ou macarrão. Foi o ponto de referência para pensarmos em um produto para limpeza instantânea. O aspirador de pó tradicional é muito grande para isso. Constatamos que precisávamos criar um produto flexível e que pudesse ficar visível, mais como um design da casa do que algo a ser escondido.
O senhor está à frente de iniciativas da Electrolux, como a campanha War on White (Guerra ao Branco). O que defende sobre esse tema?
War on White é uma expressão, definitivamente, válida, porque o consumidor quer individualizar sua casa. O único motivo pelo qual escolhe o branco ou o prata é porque não tem outras opções. A campanha é uma maneira de criar uma discussão sobre o quanto é expressiva a aceitação dos clientes por produtos coloridos. O setor de lavanderia nos Estados Unidos, por exemplo, tem cores muito fortes. Eles têm um alto nível de maturidade para a aceitação de grande variedade. O mesmo ocorre na Ásia e há a tendência de chegar à Europa.
Como criador e jurado do Design Lab (concurso mundial organizado pela Electrolux, este ano com quase dois mil inscritos), como avalia sua evolução?
Todo ano escolhemos projetos por tópicos, que deve ser algo relevante. Queremos que seja uma competição inspiradora, que traga perspectivas para novos designers de todo o mundo e a oportunidade de encontrarmos novos talentos para possível contratação. Temos contratados no Brasil, Itália, Austrália e Cingapura. Tudo que os competidores trazem se torna inspirador dentro da empresa, seja para designers, engenheiros ou pessoal de marketing. O mais importante para o vencedor é ganhar seis meses de estágio dentro do setor de design industrial, para adquirir experiência e começar a trabalhar.
Sendo coordenador de uma equipe de 150 designers em sete países de quatro continentes, o senhor percebe diferentes conceitos de design de um lugar para outro?
Absolutamente, porque temos diferentes tipos de psicologia social, diferentes maneiras como as pessoas vivem suas vidas. Essas características definem as necessidades e preferências de cada cliente. Mas existe o mesmo tipo de segmento no mundo todo, seja no Brasil ou na China, quando se fala de valores e maneiras que gostariam de ser vistos por amigos e familiares.
Qual o seu olhar especificamente sobre o Brasil?
Vejo a sociedade brasileira muito a frente, aberta, expressiva, de cultura e pessoas vibrantes. É uma sociedade muito extrovertida, arrojada na maneira de se expressar através da comida, das roupas. E isso, obviamente, significa que qualquer produto que o brasileiro queira, tenha um design mais gritante, para atender todas as expectativas. Então, tem de se criar produtos que, em meio a toda essa fome de cultura e cores alegres, destaquem-se.
Quais são as tendência para o futuro?
O design vai para um caminho individual. Olhe para sua casa e verá que é uma extensão de sua personalidade. Há as pessoas seguras consigo mesmas, muito expressivas, e as inseguras, que pensam que é mais importante o que os outros pensam. O que de fato se deve fazer é pensar em quem passa mais tempo dentro de sua casa e se a quer para si ou para os outros.



