
Mesmo após três anos do lançamento do Selo Casa Azul da Caixa Econômica Federal (CEF), o Paraná ainda não enviou projetos de construções sustentáveis para receber a certificação. De acordo com informações da CEF, até o presente momento não há projetos candidatos do Paraná e o estado que mais enviou propostas para análise foi São Paulo um selo já foi concedido ao empreendimento Paraisópolis e há mais dois em estudo.
De acordo com o conselheiro do Conselho Regional de Engenheiros e Arquitetos do Paraná (Crea-PR) e vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Paraná (Sinduscon-PR), Euclesio Manuel Finatti, o motivo para o baixo número de empreendimentos no Paraná que buscam o Selo Casa Azul se deve à incompatibilidade entre as exigências sustentáveis e o custo do processo. "Não conheço nenhuma construtora do Paraná que tenha o selo ou que tenha buscado o selo, justamente por esta questão do custo. As empresas que trabalham com a Caixa buscam obras nos programas como o Minha Casa, Minha Vida, que são obras mais simples, e trabalhar com a sustentabilidade desta forma é muito difícil. Existe uma relação não correta sobre o custo que a obra tem versus a exigência que o selo impõe, não é compatível", afirma Finatti.
O conselheiro não descarta a importância da sustentabilidade na construção civil atual, mas explica que o custo se dilui nos grandes empreendimentos. "Algumas empresas estão procurando introduzir isso, mas são em projetos maiores, de mais unidades. Mas é quase impossível você ter no módulo popular."
Segundo informações repassadas pela Caixa, o Selo foi pensado para todos os tipos de empreendimentos que o banco opera, inclusive o Minha Casa, Minha Vida, e o nível do selo (ouro, prata e bronze) depende da quantidade de critérios que forem atendidos.
Um exemplo de empreendimento grande que recebeu o Selo foi o Residencial Bonelli, de Joinville, Santa Catarina. De acordo com o diretor técnico da construtora Rôgga, responsável pela obra, Carlos Rebollo, a construção, com 45 apartamentos, não estava relacionada ao Minha Casa, Minha Vida e as mudanças do projeto convencional para o sustentável não foram tão significativas. "Dos critérios, 85% já eram atendidos pela empresa. A principal diferença foi na hora de desenvolver o projeto, que foi um pouco mais burocrático", afirma. Rebollo estima um aumento de 3% no custo da obra e diz que as principal mudança foi a ampliação da área permeável do terreno, que inicialmente seria simplesmente concretada.
A construtora Precon Engenharia também recebeu um selo pelo Ville Barcelona, vinculado ao Minha Casa, Minha Vida, em Minas Gerais. "Nossa solução, por ser industrializada, permite uma série de racionalizações de custo e encaixar os itens de sustentabilidade. A construtora gera [do início ao fim da obra], cerca de 28 kg por metro quadrado construído, quantidade muito inferior aos 150 kg por metro quadrado da construção tradicional", afirma o CEO da empresa, Marcelo Miranda.
Modelos do exterior têm mais apelo
Apesar do processo demorado em emitir a certificação internacional Leadership in Energy and Environmental Design (Leed), cerca de seis meses após a conclusão da obra, 50 empreendimentos brasileiros já a receberam e mais de 500 deram entrada no processo. Por aqui, a construtora Laguna já recebeu um certificado Leed e está em busca de outros.
Segundo a coordenadora de planejamento da construtora, Cássia Assumpção, os principais benefícios de adotar medidas sustentáveis desde o projeto veem depois da conclusão da obra. "Reduz o custo de operação do condomínio, reduz o consumo de água, de energia e melhora também a qualidade de vida de quem ocupa o ambiente, porque a certificação exige certos níveis de conforto, como a qualidade do ar, através do controle dos níveis de gás carbônico por meio de sensores. Além disso, todos os ambientes devem ter um sistema de ventilação que permita a renovação do ar. A gente utiliza ainda materiais que emitam baixo componentes voláteis, como tintas, vernizes e colas apropriadas para isso", explica.
Na ponta do lápis
"Preço" para ser sustentável é de 5%, em média
O custo das soluções sustentáveis chega a cerca de 5% do orçamento total de uma obra. No caso da Preco Engenharia, segundo o CEO da construtora, Marcelo Miranda, os acréscimos foram mínimos, porque a empresa já tinha a tecnologia sustentável como premissa. "O que tenho ouvido de empresários e executivos da construção civil que utilizam métodos tradicionais de construção é que esse custo pode chegar perto de 5% do custo da obra", afirma.
Diversos são os fatores que devem ser pensados para tornar uma obra sustentável. Dentre eles, os projetos devem promover a recuperação de áreas degradadas, locais para coleta seletiva, soluções alternativas de transporte, priorizar a iluminação e ventilação natural, o uso de lâmpadas de baixo consumo, sistemas de aquecimento solar, medição individualizada de gás, elevadores e eletrodomésticos eficientes, além de fontes alternativas de energia, entre outros.
Além dos custos com o projeto e desenvolvimento da obra, para receber o Selo Casa Azul da Caixa, as empresas também devem desembolsar uma taxa de análise que, segundo informações do banco, gira em torno de R$ 328 (dependendo do número de unidades habitacionais do empreendimento).





