
Manchas nas paredes, pintura descascada, piso descolando e a sensação de que a casa está úmida e fria. Se as consequências são bem conhecidas, as causas da umidade são diversas e merecem estudo detalhado para tratar e acabar com o desconforto."Umidade tem a ver com a questão do clima. Se a edificação é feita em uma cidade muita úmida é preciso ter cuidados na hora de projetar, estimulando a ventilação que é a principal arma para a dispersão do vapor da água, evitando a umidade", diz Ana Virgínia Sampaio, coordenadora do Laboratório de Conforto Ambiental da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Estudar o ambiente externo, entendendo a posição do terreno em relação ao sol e tentando captar a brisa dominante é o principal aspecto a ser levado em conta no projeto, defende a professora. "Uma edificação no centro da cidade onde há muita barreira para o vento, pedirá a criação de uma ventilação com efeito chaminé (quando há diferença de temperatura entre o ar externo e o ar no interior do ambiente, promovendo a troca de ar pela diferença de pressão)", afirma.Apenas atentar para a ventilação não é suficiente, os problemas de umidade podem vir do solo, de instalações hidráulicas deficientes e mesmo de problemas na construção vizinha. "Para conter as infiltrações é preciso promover a correta impermeabilização, porque os materiais empregados nas obras concreto, tijolos, argamassas são porosos por natureza e permitem a penetração da umidade", diz Eliene Ventura, coordenadora técnica da Vedacit/Otto Baumgart, empresa especializada em materiais para impermeabilização.
As infiltrações severas causadas pela má ou pela falta de impermeabilização podem danificar a estrutura do imóvel. Cláudio Geraldo Giovannoni Slosaski, professor do curso de pós-graduação em Patologias das Construções da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), explica que a impermeabilização garante a qualidade, durabilidade, conforto e salubridade da edificação.
"A impermeabilização das fundações é uma das etapas da construção que apresenta o melhor custo-benefício. Representa 1% do valor da obra e, se for deixada de lado, pode levar embora de 10% a 15% desse valor em reparos", aponta.
Resultados garantidos dependem de um projeto adequado, bons materiais e uma construção de qualidade, ressalta Sérgio Pousa, presidente do Instituto Brasileiro de Impermeabilização (IBI).
A falta de impermeabilização durante a construção da casa obrigou as arquitetas Fernanda Menosso e Rose Raitani a promover uma reforma na residência de Tânia Mara Couto, que sofria há muito tempo com infiltração em várias paredes, especialmente na sala de jantar. "Quase todas as paredes acabam fazendo bolha próximo ao rodapé", conta Fernanda. Outro agravante é a falta de ventilação em vários ambientes.
As paredes com mais sinais de umidade fazem divisa com um terreno em aclive, onde a umidade da terra infiltra e cria bolhas, descascando a tinta e estragando o visual, comenta Fernanda.
Antes de chegar à solução final foram várias as tentativas. "A princípio, não queria quebrar a parede até chegar ao tijolo, mas depois de apenas refazer a pintura e nada adiantar, fiquei convencida de que era a única alternativa", diz Tânia.
O processo de reforma incluiu descascar a parte mais úmida, aplicar impermeabilizante nos tijolos e quatro camadas de argamassa plástica com impermeabilizante. "O segredo foi deixar secar muito bem cada uma das camadas", lembra Fernanda.
Na parede principal da copa as arquitetas sugeriram o revestimento de filetes de pedra São Tomé. "Ela absorve a possível umidade que ainda ocorra e tem um ótimo acabamento", argumenta a arquiteta. A outra parede e o pilar receberam pintura em tinta látex, mas passaram por todo o processo de reforma. A obra completa durou 20 dias e teve custo de R$ 1.700 incluindo material e mão de obra.
Tentativa e erro
O diagnóstico de um problema de infiltração requer paciência e habilidade. "Não há outra forma senão eliminar hipóteses, começando pela mais provável", diz a arquiteta Marina Rodrigues.
Há pouco mais de um mês ela conseguiu solucionar a infiltração que enfrentava há dois anos na cobertura onde mora. "Foi um sufoco, gastei muito dinheiro até encontrar o foco. Perdi alguns móveis e parte do piso", lembra. Marina relata que em um primeiro momento considerou que a umidade era decorrente da chuva, mas as tentativas de soluções paliativas não surtiram efeito. "Depois, quebrei e troquei a manta asfáltica de toda a parte superior do apartamento, fiz um teste de estanquidade (deixando água sobre a manta por cinco dias), que parecia estar certo, mas em pouco tempo o problema voltou."
Depois de vários testes, ela chegou a conclusão que o problema estava no apartamento vizinho. "Parte da água da chuva que deveria ser escoada pelo cano do vizinho, passava por fora do cano e caia direto do nosso lado, assim nossa calha não vencia. Foi preciso arrumar a calha do vizinho, isolar os canos e reformar a manta asfáltica do chão do apartamento dele", explica Marina, alertando que em casos como esse é preciso ter uma dose de paciência e habilidade para negociar.




