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Os asteroides “invisíveis” que são uma ameaça à Terra

Pesquisa da Unesp revela asteroides invisíveis na órbita de Vênus que podem atingir a Terra.
Pesquisa da Unesp revela asteroides invisíveis na órbita de Vênus que podem atingir a Terra. (Foto: Imagem criada utilizando Google AI/GAZETA DO POVO )

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Uma nova ameaça espacial acaba de ser revelada: asteroides que compartilham a órbita de Vênus e que, por sua posição no céu, escapam da detecção pelos telescópios atuais. A descoberta, feita por uma pesquisa internacional liderada pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e publicada na prestigiada revista Astronomy & Astrophysics, aponta um risco real de colisão com a Terra em escalas de milhares de anos, com potencial para devastar grandes cidades.

Esses objetos, invisíveis à nossa tecnologia, são um alerta urgente para a defesa planetária. O estudo, que contou com o financiamento de agências brasileiras como CNPq e FAPESP, além de apoio internacional, detalha os riscos e os desafios na detecção.

Entenda a fundo os perigos revelados pela pesquisa.

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O que é essa nova ameaça de asteroide identificada por pesquisadores da Unesp?

Trata-se de uma população de asteroides "invisíveis", chamados "Asteroides Coorbitais de Vênus". Eles compartilham a órbita de Vênus ao redor do Sol, o que os torna extremamente difíceis de detectar com os telescópios atuais.

Embora não possam ser vistos facilmente, simulações mostram suas órbitas instáveis. Em ciclos de cerca de 12 mil anos, esses asteroides podem passar perigosamente perto da Terra. Alguns, com até 300 metros de diâmetro, teriam o potencial de causar devastação em larga escala em caso de impacto.

Por que esses asteroides são tão difíceis de serem detectados pelos telescópios atuais?

A principal razão é que eles permanecem muito próximos do Sol na perspectiva da Terra, já que compartilham a órbita de Vênus. Nossos telescópios atuais têm um "viés observacional": eles são mais eficientes em detectar objetos mais excêntricos.

Asteroides excêntricos possuem órbitas mais alongadas, que os levam para regiões mais distantes do Sol, tornando-os mais visíveis. No entanto, a maior parte da população perigosa e ainda não vista tem baixa excentricidade. Isso significa que suas órbitas são mais circulares, mantendo-os "escondidos" perto do Sol. Mesmo observatórios avançados os veriam por pouquíssimos dias ou semanas, apenas em condições muito específicas de elevação e elongação solar.

Como a excentricidade da órbita desses asteroides influencia o risco de colisão com a Terra?

A excentricidade é um parâmetro que mede o quão "alongada" é a órbita de um asteroide. Quanto menor a excentricidade, mais circular e próxima ao Sol a órbita é.

Paradoxalmente, essa população "invisível" de baixa excentricidade é justamente a que representa a principal ameaça de colisão. Por estarem tão "escondidos" perto de Vênus, são difíceis de detectar. Suas órbitas instáveis podem, em ciclos de milhares de anos, levá-los a passagens extremamente próximas da Terra, com potencial para devastação em larga escala em caso de impacto.

Quais seriam os potenciais impactos se um desses asteroides atingisse a Terra?

Se um desses asteroides, com cerca de 300 metros de diâmetro, atingisse a Terra, os impactos seriam devastadores. Simulações indicam a formação de crateras de 3 a 4,5 quilômetros e a liberação de energia equivalente a centenas de megatons de TNT.

Isso seria suficiente para destruir grandes cidades e causar devastação em larga escala se atingisse uma área populosa. Um evento desse tipo corresponde a um Nível 8 na Escala de Torino, capaz de provocar destruição localizada ou um tsunami, caso o impacto ocorra no mar.

É possível detectar esses asteroides com a tecnologia atual?

Não, a tecnologia atual não é suficiente para detectar toda a população desses asteroides. Mesmo observatórios avançados só conseguiriam avistar alguns em condições muito específicas, como janelas de visibilidade de uma a duas semanas.

Esses objetos permanecem "escondidos" por meses ou anos devido à sua órbita próxima ao Sol e à baixa excentricidade. Isso os torna "efetivamente indetectáveis" pelos programas de observação regulares, evidenciando a necessidade de missões espaciais dedicadas para mapear essa ameaça oculta.

Quais alternativas estão sendo propostas para melhorar a detecção desses objetos?

Para melhorar a detecção desses asteroides "invisíveis", a principal alternativa são telescópios espaciais voltados para regiões próximas ao Sol. Eles operariam a partir de órbitas próximas a Vênus.

Missões como a Neo Surveyor (Nasa), que orbitará o ponto L1 Sol-Terra, e a proposta Crown (China), uma constelação de telescópios em órbitas semelhantes à de Vênus, são cruciais. Elas poderiam oferecer uma cobertura mais abrangente e contínua, superando as limitações dos observatórios terrestres.

Qual é a origem desses asteroides coorbitais de Vênus e como eles chegaram a essa órbita?

Acredita-se que os asteroides coorbitais de Vênus se originaram no Cinturão Principal de Asteroides, localizado entre Marte e Júpiter. Eles chegaram à órbita de Vênus após complexas interações gravitacionais, principalmente com Júpiter e Saturno. Essas interações os desviaram gradualmente para órbitas mais internas.

Uma vez lá, foram temporariamente capturados em ressonância com Vênus. Esse estado, porém, é efêmero, durando, em média, cerca de 12 mil anos. Após esse período, podem se aproximar da Terra ou ser ejetados do Sistema Solar.

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Conteúdo editado por: Jones Rossi

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