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Arqueologia

“Masterchef neandertal”: como eles preparavam suas refeições há 50 mil anos

Descoberta revela que neandertais tinham técnicas de açougueamento distintas, sugerindo culturas alimentares próprias há 50 mil anos
Descoberta revela que neandertais tinham técnicas de açougueamento distintas, sugerindo culturas alimentares próprias há 50 mil anos (Foto: IMAGEM CRIADA UTILIZANDO Google AI/GAZETA DO POVO)

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  • Neandertais que viveram nas cavernas de Amud e Kebara, em Israel, entre 50 e 60 mil anos atrás, usavam estratégias de processamento de carne visivelmente distintas, mesmo caçando as mesmas presas e usando ferramentas semelhantes. Isso sugere tradições culturais únicas sobre como preparavam seus alimentos, passadas entre gerações.
  • Em Amud, os ossos eram muito mais fragmentados e queimados (até 40% com sinais de fogo), apresentando marcas de corte mais densas e menos retas (37,3% se cruzavam). Já em Kebara, os ossos estavam menos fragmentados (apenas 9% queimados) e as marcas eram mais lineares e longas (apenas 15,2% se cruzavam).
  • Em ambos os locais, os Neandertais caçavam principalmente gazelas-da-montanha (Gazella gazella), que representavam a maior parte das espécies na categoria de pequenas ungulados (15-45 kg). Além disso, eles também caçavam ungulados de médio porte, como gamos (Dama mesopotamica), cabras-selvagens (Capra sp.) e veados-vermelhos (Cervus elaphus). Em Kebara, havia também uma representação notável de grandes ungulados como auroques (Bos primigenius) e equídeos, que eram menos abundantes em Amud.
  • As variações observadas nas marcas de corte não podem ser explicadas pelo tipo de ferramenta utilizada (que eram similares) nem pela habilidade dos Neandertais açougueiros. As diferenças persistiram mesmo quando comparados apenas ossos de gazelas, indicando que não foi uma adaptação à presa ou ao tipo de osso.
  • Uma teoria é que, em Amud, a carne poderia ter sido processada em estágios mais avançados de decomposição (como carne maturada ou seca), o que dificultaria o corte e resultaria em marcas mais "emaranhadas". Outra possibilidade é que a organização interna do grupo, como o número de indivíduos trabalhando na mesma carcaça, também tenha influenciado essas técnicas.
  • A principal conclusão do estudo da Universidade Hebraica de Jerusalém, liderado por Anaelle Jallon, é que, apesar de compartilharem um amplo contexto tecnológico e ambiental no Paleolítico Médio do Levante, os grupos de Neandertais de Amud e Kebara demonstraram abordagens sutilmente diferentes na exploração de recursos animais. As análises detalhadas das marcas de corte fornecem evidências arqueológicas de estratégias de açougueamento (o processo de cortar e preparar a carne de um animal) específicas do grupo. Isso sugere que comportamentos de subsistência, como o açougueamento, podem ter sido influenciados por tradições socialmente transmitidas, assim como a tecnologia lítica (fabricação de suas ferramentas).

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