
Ouça este conteúdo
A formação médica no Brasil atravessa um período de crise, marcada por uma expansão acelerada e, muitas vezes, desordenada dos cursos de Medicina, particularmente na rede privada. Este fenômeno, impulsionado em parte pelo Programa Mais Médicos de 2013, fez crescer o número de faculdades de medicina preocupadas apenas com o lado lucrativo e resultou em uma perceptível queda na qualidade do ensino, evidenciada pelo baixo desempenho em avaliações como o Enade, onde apenas seis de 305 cursos atingiram nota máxima em 2023.
Além da qualidade comprometida, os estudantes do Fies enfrentam dificuldades financeiras, e veem o sonho da formação ameaçado por dívidas quase impagáveis, levando a uma evasão de 80% entre os beneficiários.
Os critérios de seleção de alunos, que por vezes priorizam a capacidade de pagamento ou inclinações ideológicas em detrimento do mérito e da ética profissional, também são fonte de preocupação.
As consequências se manifestam em falhas éticas dos estudantes e na formação de profissionais considerados medíocres, o que levanta sérias questões sobre o futuro da medicina e a segurança dos pacientes no país.
Saiba quais são os principais problemas e dilemas atuais dos cursos de medicina brasileiros:
Dificuldades financeiras para estudantes do Fies
Centenas de estudantes de Medicina que ingressaram via Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) enfrentam dificuldades financeiras, com coparticipações mensais que aumentam a cada semestre, tornando o pagamento inviável. A situação leva ao risco de desistência do curso e acúmulo de dívidas que podem ultrapassar meio milhão de reais, mesmo sem a formação. O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) relata que a inadimplência entre todos os beneficiários do Fies já atinge 60% e a evasão chega a 80%.
Expansão desordenada e queda na qualidade do ensino
Houve uma expansão desenfreada dos cursos de Medicina, especialmente os privados, impulsionada pelo Programa Mais Médicos em 2013, o que transformou as escolas em um negócio lucrativo. Essa expansão, muitas vezes por via judicial e sem critérios adequados de infraestrutura e corpo docente, resultou na queda da qualidade do ensino, com apenas seis dos 305 cursos avaliados no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) de 2023 atingindo nota máxima. Para o professor e pesquisador Bruno Luciano Carneiro de Oliveira, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), o problema não está na rede privada em si, mas na abertura desordenada, alheia às necessidades do sistema público de saúde e com processos de seleção pouco rigorosos.
Problemas éticos e desinteresse profissional
Há casos preocupantes de estudantes expondo pacientes em redes sociais, zombando de situações de vulnerabilidade ou realizando exames íntimos sem consentimento, demonstrando falha na formação ética. A ginecologista e obstetra Beatriz Barbosa observa um "desinteresse total em geral" entre os estudantes atuais, contrastando com a dedicação de gerações anteriores, e atribui isso à menor concorrência para ingresso e à busca por status, em vez de vocação genuína. O Conselho Federal de Medicina (CFM) expressa preocupação com a "ausência de senso crítico quanto a publicações nas redes sociais" e a necessidade de que o estudante de medicina compreenda a importância do sigilo médico como base da confiança.
Formação de profissionais medíocres
A "democratização" das faculdades de medicina, segundo Luiz Felipe Pondé, inundou o mercado com "profissionais medíocres e mal formados". Esses médicos, muitas vezes recém-formados e com conhecimento limitado, acabam empregados por operadoras de saúde de baixo custo, que se tornam objeto de escândalos, indicando uma "parceria" de oportunismo entre investidores e médicos despreparados. Essa situação leva a manobras de baixo caráter ético e atendimento técnico "muito abaixo da média", especialmente com pacientes idosos e de baixa renda, onde a vida do paciente "não vale nada".
Insuficiência das avaliações atuais
Embora o Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica (Enamed) tenha sido lançado para avaliar estudantes do último ano e instituições, especialistas apontam que a avaliação apenas no final do curso não é suficiente. Para Estevão Toffoli Rodrigues, da Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM), e Waldir Cardoso (Sindicato dos Médicos do Pará - Sindmepa), isso "desresponsabiliza a faculdade e coloca o peso da qualidade sobre o estudante", defendendo a necessidade de avaliações contínuas e a responsabilização das instituições, com o fechamento ou impedimento de vestibular para aquelas com má avaliação. Bruno Luciano Carneiro de Oliveira (UFMA) sugere uma combinação de avaliações periódicas para ajustes durante o curso e uma avaliação final focada na inserção no mercado de trabalho.
VEJA TAMBÉM:
Este texto compilou dados utilizando a ferramenta Google NotebookLM.
Conteúdo editado por: Jones Rossi





