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No universo escolar, muito se fala sobre currículo, avaliação e desempenho, mas pouco se discute sobre algo tão essencial quanto aprender a ler e escrever: alimentar-se de forma consciente. A relação com a comida, muitas vezes vista como responsabilidade exclusiva da família, também é parte integrante da formação integral dos estudantes — especialmente na primeira infância, fase em que o desenvolvimento de hábitos saudáveis pode definir trajetórias de saúde física, emocional e social ao longo da vida.
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde, a alimentação inadequada na infância está associada ao aumento dos índices de obesidade, diabetes tipo 2 e transtornos alimentares. Mas os impactos não são apenas clínicos: eles se estendem ao comportamento, à aprendizagem e até à convivência. Crianças que não têm uma alimentação equilibrada podem apresentar mais irritabilidade, fadiga e dificuldades de concentração, afetando diretamente o processo educativo.
Diante disso, cresce a importância de a escola assumir um papel mais ativo na construção de uma cultura alimentar saudável. Não se trata de substituir a responsabilidade familiar, mas de ampliar os espaços de escuta, experimentação e educação para o cuidado com o corpo. É neste contexto que iniciativas pedagógicas voltadas à nutrição têm ganhado destaque, integrando saberes da saúde, da sustentabilidade, da cultura e da ciência alimentar ao dia a dia escolar.
Alimentação consciente na infância: um caminho possível pela educação
Um exemplo prático dessa abordagem vem da Educação Infantil do Colégio SESI da Indústria, em Curitiba, com o projeto “Encontro com a Nutri”. A proposta rompe com abordagens impositivas e convida as crianças a descobrirem os alimentos de forma lúdica e afetiva. Em parceria com a nutricionista da escola, as crianças percorrem um ciclo pedagógico que começa na horta, passa pela sala de aula e chega até a cozinha, onde tocam, cheiram, observam, cozinham e, se quiserem, experimentam. Tudo sem obrigatoriedade, mas com encantamento e protagonismo infantil.
O projeto busca desenvolver a autonomia alimentar, o respeito ao próprio corpo e a compreensão sobre o ciclo dos alimentos. Ao vivenciarem o preparo de receitas saudáveis e refletirem sobre desperdício e cuidado coletivo, as crianças vão muito além do paladar: elas constroem relações conscientes com o alimento como parte de uma ética do cuidado. Não por acaso, os reflexos já são percebidos nas famílias, que relatam mudanças de comportamento em casa e maior interesse por frutas, legumes e verduras antes rejeitados.
A escola, nesse cenário, torna-se um espaço de transformação silenciosa e contínua, onde cada descoberta sensorial é também uma descoberta de si e do mundo. Ao integrar alimentação ao currículo de forma transversal — conectando saúde, meio ambiente, cultura e matemática —, essas experiências mostram que comer bem também se aprende, e que educar para isso é investir em um futuro mais saudável e consciente.
Artigo escrito por Suelen Gostenski Batista Soares, orientadora pedagógica, e Débora Carvalho Seehagen Domiciano, coordenadora de Educação do Colégio SESI da Indústria, unidade Portão.



