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"Me movo como educador porque, primeiro, me movo como gente.” – Paulo Freire.
Mais que uma modalidade de ensino, a EJA é uma resposta humana e social a um problema estrutural e persistente: a exclusão educacional de milhões de brasileiros.
Hoje, o Brasil contabiliza mais de 70 milhões de pessoas com 25 anos ou mais que não concluíram a Educação Básica. Além disso, quase 40 milhões de trabalhadores estão na informalidade, segundo o IBGE (2022). A ausência de escolarização formal, em grande parte, alimenta esse ciclo de desigualdade. A falta de acesso à educação impacta diretamente na renda e nas oportunidades profissionais.
A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos nos ensinos fundamental e médio na idade própria e constituirá instrumento para a educação e a aprendizagem ao longo da vida. (Redação dada pela Lei nº 13.632, de 2018). Art. 37 da LDB 9.394/96.
A EJA é, portanto, um mecanismo reparador e promotor de inclusão. Mas enfrenta desafios sérios: o Censo Escolar mostra que, entre 2008 e 2024, o número de matrículas caiu de mais de 4,3 milhões para pouco mais de 2,5 milhões — perda de quase 2 milhões de estudantes. A pandemia acentuou ainda mais essa evasão, com redução de mais de 500 mil matrículas em um único ano. Essa retração exige reflexão e reinvenção urgente das práticas pedagógicas.
Mais do que garantir acesso, é preciso assegurar permanência, participação, aprendizagem e continuidade dos estudos. A EJA precisa se moldar às realidades do estudante que trabalha, cuida da família, enfrenta longos deslocamentos, e que, muitas vezes, carrega marcas da exclusão social e educacional.
Esses sujeitos, muito além de lacunas escolares, possuem uma rica bagagem de saberes adquiridos na vida e no trabalho. Precisam de propostas que respeitem suas singularidades, seus ritmos, suas experiências e seus sonhos. Uma EJA conectada ao mundo do trabalho, ao empreendedorismo, à construção de vínculos e ao pertencimento. Uma EJA que compreenda que números são pessoas e histórias de vida.
A Educação de Jovens e Adultos precisa ser compreendida como espaço de construção de novos percursos. Aprender, para esse público, é mais que adquirir conteúdos — é resgatar a autoestima, vislumbrar oportunidades, reorganizar tempos e escolhas, ressignificar a trajetória pessoal.
É nesse sentido que a EJA cumpre sua função reparadora, escolar e extraescolar, com um olhar atento à inclusão, à justiça social e à transformação de vidas. A educação para jovens e adultos não pode ser uma oferta residual, mas um compromisso real com o direito de aprender — em qualquer idade, em qualquer tempo.
Nesse contexto, é essencial valorizar boas práticas que vêm rompendo com modelos tradicionais. O SESI busca inovar ao integrar os princípios da Educação ao Longo da Vida com a proposta da Nova EJA. Com base na LDB, Art. 37, §1º, a Nova EJA respeita as características dos estudantes, seus interesses e contextos.
A iniciativa propõe uma matriz curricular por áreas de conhecimento e competências, reconhecendo saberes formais, informais e não formais. O uso de metodologias ativas, ambientes múltiplos de aprendizagem — distribuídos entre escola, trabalho e vida —, com ênfase em projetos e situações práticas de vida e trabalho, são exemplos de como o SESI tem adaptado sua prática pedagógica para ser mais significativa e atrativa. A certificação de competências adquiridas ao longo da vida e a elaboração de projetos de vida são estratégias centrais nesse processo. A proposta ancora a aprendizagem na realidade concreta dos estudantes, articulando educação básica e qualificação profissional.
Essa abordagem amplia as possibilidades de permanência e conclusão dos estudos, promovendo o protagonismo e preparando o estudante para o presente e o futuro.
Afinal, como disse John Dewey: “Se ensinarmos os estudantes de hoje como ensinávamos os de ontem, nós roubaremos deles o amanhã.”
Artigo escrito por Marina Pacheco Perbiche, orientadora pedagógica, e Helen Braga de Barros, Coordenadora de Educação para Gratuidade, EJA (Educação de Jovens e Adultos), Educação Continuada e Projetos Educacionais com o Poder Público no Sistema FIEP.



