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Se você pudesse determinar as qualidades mais importantes para seus filhos desenvolverem, quais escolheria? Habilidades em escrita, raciocínio lógico ou esportes? Ou, talvez, competências como empatia, resolução de conflito, tomada de decisões com responsabilidade ou resiliência?
No ambiente corporativo, pesquisas mostram que o que mais pesa na hora da contratação não é apenas o conhecimento técnico, mas as habilidades socioemocionais do candidato. Saber lidar com frustrações, trabalhar em equipe, agir com autonomia e responsabilidade são diferenciais cada vez mais valorizados, em todos os espaços.
Mas nem foi sempre assim. Durante décadas, nas universidades, emoções foram tratadas como interferências indesejadas nos processos de pesquisas e da aprendizagem. A virada de chave veio com os avanços da neuropsicologia, que passaram a evidenciar o papel das emoções no pensamento, no comportamento e na capacidade de aprender. Hoje, sabemos que um estudante que se sente seguro, acolhido e pertencente, aprende de maneira mais significativa do que aquele que está exposto à insegurança, violência ou exclusão.
No entanto, engana-se quem pensa que trabalhar habilidades socioemocionais significa apenas falar sobre sentimentos. Promover esse desenvolvimento envolve também abordar temas como cidadania, diversidade cultural, saúde e meio ambiente. Isso porque competências como empatia, escuta ativa e senso de coletividade se constroem na vivência prática, em diálogos e projetos com propósito.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, no relatório “O futuro da educação e das competências”, ressalta a importância de os sistemas educacionais desenvolverem conhecimentos, habilidades, atitudes e valores, para preparar os jovens para o futuro, desde a infância. Isso significa que, mais do que transmitir conteúdos, as escolas precisam preparar os estudantes para viverem em sociedade, com consciência, respeito e autonomia.
Como psicóloga escolar, observo diariamente como o desenvolvimento emocional influencia diretamente o comportamento e o desempenho dos estudantes. Quando um estudante se recusa a participar de uma atividade em grupo ou não sabe lidar com uma frustração em sala, o que está em jogo vai além do conteúdo: é a habilidade de conviver, comunicar-se e regular suas emoções. Por isso, os professores precisam de ferramentas que ampliem sua atuação para além do conteúdo tradicional.
Escolas que integram esse olhar em seu currículo têm colhido bons resultados. No Colégio Sesi, por exemplo, uma das ferramentas utilizadas é o programa Lekto, que oferece aos professores um suporte estruturado para o trabalho com o desenvolvimento integral dos estudantes, unindo aspectos sociais, emocionais e cognitivos. A partir da abordagem chamada Duplo Foco, os conteúdos escolares dialogam com questões do mundo real, promovendo reflexões sobre o contexto em que os alunos vivem. A ideia é que o aprendizado de conteúdos tradicionais caminhe junto à construção de valores e atitudes.
Nesse cenário, o papel do professor se transforma: ele deixa de ser apenas transmissor de conhecimento e passa a ser também um mediador de relações e emoções. Por isso, investir na formação dos educadores, e contar com o apoio da psicologia escolar para lidar com essas demandas é tão necessário quanto oferecer boas metodologias ou tecnologias.
Quando os estudantes têm espaço para debater questões sociais, os benefícios aparecem: redução de comportamentos violentos, fortalecimento da solidariedade, promoção da saúde mental e melhora na aprendizagem. A escola tem um papel fundamental, mas o desenvolvimento socioemocional também passa pelas vivências em casa. Quando família e escola caminham juntas, os resultados são ainda mais significativos. Educar o emocional é também preparar para a vida, e isso começa desde cedo.
Artigo escrito por Nadine Pereira Gritten, psicóloga e analista de Educação e Negócios no Sistema Fiep.



