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Violência

15 anos depois, genocídio em Ruanda ainda causa mortes

Campos de refugiados na República Democrática do Congo sofrem com ataques de milícias, falta de alimentos e conflitos internos

Habitantes manuseiam laptop de R$ 170: acesso ao conhecimento para tentar construir um futuro de paz | Julio Cesar Lima
Habitantes manuseiam laptop de R$ 170: acesso ao conhecimento para tentar construir um futuro de paz (Foto: Julio Cesar Lima)
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Veja a localização de Goma

A paz ainda não chegou aos países do centro da África. Cidades como Bukavu e Goma, na região norte da República Democrática do Congo, sofrem com uma rotina de pilhagens e assassinatos que persiste desde a década de 1990 e que se intensificou nos últimos tempos.Um boletim divulgado no mês passado pela Monuc (United Na­­tions Mission DR Congo), a missão da ONU para a região, relata que aproximadamente cem pessoas fo­­ram atacadas nos últimos me­­ses, incluindo refugiados e estrangeiros que trabalham em missões humanitárias.Na origem dessa guerra, uma das mais longas no continente, está o genocídio ocorrido em Ruanda em 1994, quando 850 mil pessoas da etnia tutsi foram massacradas pelas milícias da etnia hutu, predominante no país. Des­­de então, cerca de 2 milhões de pes­­­­soas cruzaram a fronteira en­­tre Gisenyi – do lado ruandês –para Goma, na República De­­mo­­­­crática do Congo, na tentativa de sobreviver à guerra.A fuga em massa, no entanto, não garantiu a segurança. Além de problemas de saúde ocasionados pelas precárias condições dos campos de refugiados, também houve no campo de Goma a incorporação de dezenas de milhares de tutsis vindos do vizinho Burundi.Além disso, forças rebeldes hu­­tus continuaram a perseguição aos tutsis em território congolês e mantiveram o controle armado sobre os campos de refugiados, e também sobre a alimentação recebida por meio da ajuda internacional.Um oficial uruguaio, que preferiu não se identificar, vive há um ano em Goma e integra as forças de paz da ONU. Para ele, a vida na província é cercada de expectativa. "Esse lugar é como areia movediça, o dia começa calmo, mas não sabemos como vai acabar", co­­menta.

O número de tropas de diversas nacionalidades paradas na região faz jus ao comentário. Milícias ugan­­­­desas, tropas hutus de Ruan­­da e partidários do ex-ditador do Congo, Joseph Mobutu, permanecem em constante alerta.

A imprensa também está sob pressão. Em setembro, o jornalista Bruno Chirambiza, que trabalhava para um jornal de Bukavu, foi assassinado, e outras quatro pessoas estão sob proteção por causa das constantes ameaças de morte partidas principalmente das tropas insurgentes.

Para o jornalista Florent Babi, secretário executivo da organização Campagne Pour La Paix, os pro­­blemas estão longe de terminar. "Iniciou-se um processo de volta, mas logo foi interrompido devido às ações dos grupos. Com isso, as pessoas ficam temerosas e desistem de voltar para suas ca­­sas", disse.

Sobrevivência

No campo de refugiados de Mu­­gunga, a 15 quilômetros de Goma, vivem atualmente 6 mil famílias. A maioria dos refugiados morava nas cidades de Rutshuru e Wa­­likale, próximas à fronteira com Uganda, mas foram expulsos pela violência da região. Este campo chegou a ter mais de 400 mil pessoas no final dos anos 90, até que foi dividido e hoje passa por uma reestruturação.

A assistência médica recebida é básica. As crianças estudam em uma escola improvisada por lo­­nas. Por estar localizada em uma área vulcânica, a terra escura e cheia de pedras formadas por restos de lava é imprópria para o cultivo de alimentos.

Enquanto a maior parte dos refugiados depende da ajuda es­­trangeira, o casal Jean Paul e Dé­­vote tenta sobreviver costurando roupas em um ateliê ao ar livre, na frente do campo. Ao custo de seis dólares por peça de roupa – vestidos ou camisas – é possível juntar 150 dólares no final do mês e garantir a sobrevivência. "Ao menos conseguimos o suficiente para comprar comida", disse Jean Paul.

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