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Os ex-presidentes da Argentina, Néstor Kirchner (morto em 2010) e Cristina Kirchner (agora senadora), em 2007 | MZ JAMMartín Zabala
Os ex-presidentes da Argentina, Néstor Kirchner (morto em 2010) e Cristina Kirchner (agora senadora), em 2007| Foto: MZ JAMMartín Zabala

O Kirchnerismo está, mais uma vez, no centro de um escândalo de corrupção na Argentina. Uma operação deflagrada na quarta-feira passada (1º), chamada pela mídia de “cadernos das propinas” ou “cadernos da corrupção K”, prendeu seis ex-funcionários do governo Kirchner e vários empresários dos setores de construção e de energia. Seis executivos fizeram uma espécie de delação premiada e oito ainda permanecem presos. A ex-presidente e senadora Cristina Kirchner e vários funcionários de sua confiança foram chamados para depor no processo. Saiba o que desencadeou as investigações e o que revelaram as anotações dos cadernos de propinas. 

Como a história veio à tona? 

A investigação gira em torno de oito cadernos manuscritos por Oscar Centeno, ex-motorista de Roberto Baratta, um dos homens mais importantes do Ministério de Planejamento durante os governos dos Kirchner. 

Em diário bem detalhado, Centeno descreveu durante dez anos suas idas e vindas nas ruas de Buenos Aires como motorista levando bolsas de dinheiro que seriam propinas pagas por empresários a ex-funcionários do governo Kirchner para garantir participação em obras públicas. A semelhança com o caso brasileiro fez com que a imprensa internacional passasse a chamar a investigação de “Lava Jato argentina”. 

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Em seus cadernos, Centeno, que está em liberdade após fazer um acordo de colaboração com a Justiça, escreveu rotas, endereços, cifras, datas e nomes de funcionários e empresários, que supostamente se encontravam para acertar as propinas do esquema. 

Entre os mais de 30 endereços citados, aparecem frequentemente a Quinta de Olivos, residência oficial da presidência da Argentina, e o apartamento do casal de ex-presidentes Néstor e Cristina Kirchner, no bairro Recoleta, em Buenos Aires. 

A história veio à tona quando o jornal argentino La Nación publicou as anotações de Centeno, na terça-feira (31). Em janeiro, o jornalista Diego Cabot recebeu em sua casa uma caixa onde se encontravam os oito cadernos. Com a ajuda de repórteres do La Nación, a equipe escreveu a história de corrupção que, mais uma vez, abalou o movimento kirchnerista. 

O que foi descoberto e como estão as investigações? 

Centeno estava preso desde 31 de julho, acusado, segundo o jornal Clarín, de fazer parte de uma grande organização ilícita que se dedicou ao pagamento e cobrança de propinas e que, segundo estima a Justiça, movimentou mais de US$ 160 milhões. 

Um dia depois, o seu ex-chefe, Roberto Baratta, também foi preso, junto com outros três membros do governo Kirchner e nove empresários. As prisões foram ordenadas pelo juiz Claudio Bonadio. Baratta era mão direita do ministro Julio De Vido, que serviu por 12 anos no governo dos Kirchner e está preso devido a outro caso de corrupção, que envolve irregularidades na construção da grande termelétrica de Río Turbio. Segundo os cadernos de Centeno, Baratta ia toda semana à Quinta de Olivos para receber informações sobre quem cobrar. Quem supostamente definia os valores da propina eram De Vido e o ex-presidente Néstor Kirchner, morto em 2010.

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Os empresários presos na operação começaram a fazer acordos de colaboração com a Justiça em troca de liberdade. O primeiro a negociar foi o ex-CEO da Isolux, Juan Carlos de Goycoechea. O jornalista Diego Cabot detalhou as conversas que ocorreram na sexta-feira após as prisões. Segundo ele, Goycochea não tinha intenção de se declarar culpado e estava disposto a pagar fiança de 30 milhões de pesos (R$ 4.087.650), mas a dura postura do juiz Bonadio fez com que seu advogado mudasse a estratégia. “Daqui ninguém sai”, teria dito o promotor Carlos Stornelli, segundo relato de Cabot, deixando ao empresário duas opções: enfrentar o processo em detenção ou confessar. Goycochea optou pela delação. 

Seguiram o mesmo caminho os empresários Ángelo Calcaterra (primo de Macri) e Javier Sanchéz Caballero, da Iecsa, Héctor Zabaleta, do Grupo Technit, e Armando Losón, da Albanesi.  

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Quem são os principais envolvidos? 

Oscar Bernardo Centeno: Motorista de Roberto Baratta que dirigia o Corolla que transportava os milhões de dólares em propinas e que registrou detalhadamente durante dez anos todos os movimentos, endereços e personagens envolvidos no esquema. A participação dos demais envolvidos tomam por base os escritos de Centeno.

Nelson Lazarte: foi secretário de Baratta e uma dos mais importantes figuras na operação de arrecadação ilícita. 

Roberto Baratta: era mão direita de Julio De Vido. Seguia todos os movimentos do dinheiro e se reunia frequentemente com empresários, coordenando o pagamento das propinas. Ele respondia também a Néstor Kirchner. 

Julio De Vido: ex-ministro de Planejamento durante 12 anos do governo Kirchner. Comandava e estruturava o esquema de propinas e, conforme anotações dos cadernos de Centeno, se reunia com o ex-presidente Kirchner. 

Daniel Muñoz: era ex-secretário privado de Néstor Kirchner e responsável por receber as malas de dinheiro que chegavam ao apartamento do casal presidencial, no bairro Recoleta, em Buenos Aires. Morreu em março de 2016. 

Cristina Kirchner: No apartamento do casal Cristina e Néstor Kirchner chegava grande parte do dinheiro arrecadado de forma ilícita durante os três mandatos (um de Néstor e dois de Cristina). O esquema teria continuado mesmo após a morte de seu marido. 

Néstor Kirchner: O ex-presidente encabeçou a trama e deu ordens diretas para a arrecadação ilícita, segundo os cadernos. 

Quais as implicações para Cristina Kirchner? 

A senadora Cristina Kirchner deve prestar depoimento na investigação dos “cadernos de propinas” na próxima segunda-feira (13). Ela foi convocada pelo juiz federal Bonadio, por suspeita de ser parte da associação criminosa. O promotor Stornelli disse que já foram reunidas "provas documentais e testemunhais suficientes para dar este passo e seguir ouvindo as explicações". 

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Nesta quinta-feira (9), o Senado vai debater uma autorização de busca e apreensão no apartamento de Cristina. Segundo o jornal La Nacion, o pedido provavelmente será aceito pela câmara alta. Entretanto, são poucas as chances de que ela perca o foro privilegiado. Os peronistas defendem que isso não ocorra até que haja uma sentença sólida que a condene por suposta responsabilidade pela entrega das malas de dinheiro. Cristina é um dos nomes mais cotados para as eleições presidenciais de 2019, de acordo com pesquisas de opinião.

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