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Um eleitor deposita sua cédula de votação para a eleição de meio de mandato, em uma seção eleitoral do Brooklyn, Nova York, em 6 de novembro de 2018 | ANGELA WEISS/AFP
Um eleitor deposita sua cédula de votação para a eleição de meio de mandato, em uma seção eleitoral do Brooklyn, Nova York, em 6 de novembro de 2018| Foto: ANGELA WEISS/AFP

O presidente dos EUA, Donald Trump, não aparecerá nas cédulas de votação, mas enfrentará o maior teste de sua presidência – até agora – nas eleições de meio de mandato desta terça-feira (6), que podem acabar em repúdio ou apoio à sua administração. 

A história não está do lado de Trump. Nas midterms (como são chamadas as eleições de meio de mandato nos EUA) desde 1862, o partido do presidente, em média, perde 32 assentos na Câmara e mais de dois no Senado. E nas 47 midterms que ocorreram no país desde 1826, o partido do presidente perdeu cadeiras em 41 delas. 

Vários cenários podem se formar. 

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O partido da oposição, Democrata, poderia ter um resultado semelhante ao que o presidente Barack Obama classificou como “derrota decisiva”, quando, em 2010, os republicanos conquistaram 63 assentos na Câmara. Poderia ser uma vitória rara para o partido do presidente – que ocorreu apenas três vezes nos últimos 100 anos: 1934, 1998 e 2002. 

Outra probabilidade está em algum ponto no meio do caminho, como em 1962 e 1990, quando o partido do presidente sofreu apenas perdas modestas. 

Analisamos uma série de resultados das eleições de meio de mandato dos EUA que ajudam a colocar a corrida eleitoral de 2018 em perspectiva. 

1. 1826 e a primeira ‘onda azul’

A população ficou com um gosto amargo na boca depois do impasse da eleição presidencial de 1824. Nenhum candidato tinha a maioria dos votos e então a decisão foi para a Câmara dos Representantes. 

O presidente da Casa, Henry Clay, apoiou John Quincy Adams em sua vitória sobre Andrew Jackson. Jackson e seus defensores disseram que houve uma "barganha corrupta" quando Adams nomeou Clay seu secretário de Estado. 

A partir daí, novas facções nasceram, substituindo os antigos partidos Federalistas e Democratas-republicanos. Adams, filho do segundo presidente do país, representou os republicanos nacionais; os partidários de Jackson passaram a se chamar democratas. 

As eleições de meio de mandato de 1826 se tornaram, assim, um referendo de 1824.

Em 1826, os democratas ganharam 113 assento na Câmara, contra 100 dos republicanos, e também tomaram maioria no Senado, que na época não era eleito diretamente. 

 2. Primeira vitória dos republicanos em 1858 

O Partido Democrático do Presidente James Buchanan estava dividido sobre a questão da escravidão, mesmo que Buchanan tenha apoiado a constituição pró-escravidão do novo estado do Kansas. 

Isso abriu espaço para que o jovem e antiescravista Partido Republicano conquistasse assentos suficientes para assumir o controle da Câmara dos Representantes nas eleições de 1858.

O Partido Americano e os Whigs quase desmoronaram, mas ainda conseguiram eleger alguns membros naquele ano. Embora os republicanos ainda precisassem de quatro lugares para conquistar a maioria, eles formaram uma coalizão de governo. 

Esta foi a última eleição de meio de mandato do congresso antes da Guerra Civil dos EUA.  

Embora os senadores americanos não tenham sido eleitos diretamente na época, os candidatos do Senado fizeram campanha e as eleições legislativas estaduais serviram como um agente das eleições do Senado. 

Este foi o ano em que o republicano Abraham Lincoln ganhou proeminência nacional por sua fracassada tentativa de concorrer ao Senado contra o democrata em exercício, Stephen Douglas. A corrida ao Senado ganhou atenção principalmente porque Douglas era amplamente considerado o candidato democrata à presidência nas eleições que viriam dois anos depois – o que realmente ocorreu. 

Lincoln e Douglas se enfrentaram em uma revanche para a presidência em 1860 e o resultado foi bem diferente. 

 3. A volta dos democratas em 1874 

Após a Guerra Civil, o Partido Democrata foi identificado como o partido da derrotada Confederação, tornando-se um partido regional no sul. 

Para piorar, os republicanos conduziram o que veio a ser chamado de "campanha da camisa com sangue", lembrando os eleitores de que talvez nem todos os democratas fossem rebeldes, mas todos os rebeldes eram democratas. 

Quase uma década depois do fim da guerra, este borrão começou a desaparecer quando os candidatos democratas ao Congresso venceram até nos estados do norte. 

O Partido Republicano controlou dois terços do Congresso após a reeleição de Ulysses S. Grant como presidente em 1872. Os democratas estavam tão sitiados que endossaram o candidato republicano liberal Horace Greeley em 1872, em vez de apresentar seu próprio candidato. O Partido Liberal Republicano foi um partido dissidente dos republicanos que estavam insatisfeitos com as políticas de Grant. 

No entanto, o público estava ficando frustrado com a corrupção na administração Grant e fatigado pela Reconstrução no Sul. Os nortistas se perguntavam por que as tropas federais ainda precisavam permanecer nos estados do sul. Para piorar a situação dos republicanos, houve o Pânico Econômico de 1873, uma grave depressão econômica de âmbito nacional que afetou os Estados Unidos até 1877. 

Como resultado, em 1874 os republicanos perderam surpreendentes 96 assentos na Câmara dos Representantes: enquanto os democratas ocupavam 168 assentos, os republicanos detinham 108, e os independentes 14. Os republicanos mantiveram o controle do Senado. 

4. Os ganhos recordes dos Republicanos em 1894 

Em 1892, o conservador democrata Grover Cleveland foi o primeiro presidente reeleito para mandatos não-consecutivos. Mas esse segundo mandato incluiu uma crise econômica em 1893 e uma grande greve no setor de carvão. 

Duas décadas depois de serem trucidados em 1874, os republicanos mais do que compensaram suas perdas, ganhando 116 assentos na Câmara e cinco assentos no Senado. A revista Smithsonian classificou a derrota democrata como "o maior apagão já registrado". 

Eles perderam assentos em seus redutos, como o Alabama, Texas, Tennessee e Carolina do Norte, quando partidos republicanos e populistas nesses estados concordaram em endossar o mesmo candidato. Dois anos depois, o republicano William McKinley pegaria onda neste momento para conquistar a presidência. 

 5. O Renascimento Republicano de 1946 

Depois da Grande Depressão em 1929, os republicanos eram vistos basicamente como o partido do ex-presidente Herbert Hoover (1929-1933). Perderam para os democratas que apoiavam as iniciativas do New Deal do presidente Franklin Roosevelt. 

Após a morte de Roosevelt em 1945, o vice-presidente Harry Truman parecia um substituto fraco, apesar de ter comandado a vitória final na Segunda Guerra Mundial. 

A economia do pós-guerra começou a ficar para trás e a Guerra Fria com a União Soviética tornou-se a questão central. Os republicanos adotaram o slogan "Já teve o bastante? Vote Republicano", culpando Truman pelos problemas do país. Eles conquistaram mais 56 assentos da Câmara e 13 no Senado. O partido Republicano (GOP, na sigla em inglês) não detinha as duas casas desde 1928. 

Mas a nova maioria republicana acabou sendo um trunfo para Truman. Ao concorrer em 1948, o democrata criticou o Congresso de "não fazer nada" ao justificar seus insucessos e acabou ganhando do republicano Thomas Dewey. 

 6. Os Bebês de Watergate em 1974

Os democratas já tinham maioria no Congresso em 1974. Mas depois que o republicano Richard Nixon renunciou à presidência e três meses após seu ex-vice-presidente, Gerald Ford, tomar posse, o Partido Republicano foi demolido no Congresso. 

A combinação do perdão de Ford a Nixon e uma crise de energia reforçaram a vitória democrata na Câmara por uma maioria de dois terços. Eles também conquistaram mais quatro assentos no Senado. 

"Em 1974, depois de Watergate, foi um dos grandes", disse Gary Rose, presidente do departamento de ciências políticas da Universidade do Sagrado Coração, ao The Daily Signal. "Havia um desgosto pelo presidente Nixon e pelo que os republicanos fizeram com Watergate". 

Os recém-eleitos democratas eram conhecidos como “bebês de Watergate”. Como muitos dos novos democratas eram liberais do norte, isso afastou a trajetória do partido dos moderados do sul que tinham ocupado a maioria das presidências de comitês. 

7. A revolução de Gingrich em 1994 

O presidente Bill Clinton, eleito em 1992, foi imediatamente investigado por causa de escândalos, como o que envolveu o empreendimento imobiliário de Whitewater em Arkansas. 

Clinton aumentou os impostos, mas não conseguiu a aprovação do seu projeto para a saúde pelo Congresso. Obteve a aceitação de gays no exército com sua política "Não pergunte, não conte" – uma ação pouco popular na época. 

"Clinton levou um baque em 1994", disse Rose. "A presidência de Clinton ficou à deriva em 1994". 

Com este pano de fundo, o deputado republicano Newt Gingrich e outros membros do GOP introduziram o “Contrato com a América”, que incluiu iniciativas para devolver o país à responsabilidade fiscal. 

Pela primeira vez desde 1952, os republicanos ganharam ambas as casas do Congresso, capturando 53 cadeiras na Câmara e sete assentos no Senado. Gingrich tornou-se o porta-voz do Congresso. 

Clinton mudou sua postura depois de perder o Congresso, declarando que "a era do grande governo acabou" em seu discurso do Estado da União em 1996, o que o colocou no caminho de uma reeleição sobre o candidato republicano Bob Dole em novembro daquele ano.

A ‘onda’ recente 

A segunda eleição de meio de mandato do presidente George W. Bush foi pior do que a primeira, à medida que os democratas reassumiram a Câmara e o Senado pela primeira vez em 12 anos. 

Com 31 assentos na Câmara, os democratas conseguiram fazer Nancy Pelosi, da Califórnia, a primeira presidente mulher da casa. No Senado, os republicanos perderam seis assentos. Dois independentes que acordaram com os democratas deram ao partido uma maioria de 51 votos. 

A participação de Nancy, porém, durou apenas quatro anos. Após a vitória de Barack Obama na corrida presidencial de 2008, surge o movimento Tea Party – a ala radical do Partido Republicano – e os republicanos retomaram a Câmara, ganhando 63 assentos, e embora os democratas ocupassem o Senado, os republicanos conseguiram seis cadeiras lá. 

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“Obama não foi odiado, mas o movimento Tea Party sentiu que o país estava indo para uma direção ruim, o setor de saúde estava com uma grande dívida, o papel do governo estava se expandindo, mais gastos estavam sendo feitos e estávamos no meio de uma recessão. Mas também não se pode ignorar que, sim, houve reações contra o primeiro presidente afroamericano”, disse Rose, da Universidade do Sagrado Coração. 

Obama foi reeleito em 2012, mas em 2014 os republicanos voltaram a ganhar nove cadeiras no Senado e conquistar a maioria. Além disso, o Partido Republicano ganhou mais 13 assentos na Câmara. 

Não é tão ruim 

Em apenas três ocasiões do século passado o partido de um presidente realmente ganhou assentos no Congresso. Isso aconteceu com o democrata Franklin Roosevelt em 1934, o democrata Bill Clinton em 1998 e o republicano George W. Bush em 2002. 

Mas algumas eleições não são nem um banho de sangue nem uma vitória para o presidente. 

Na corrida eleitoral de 1960, o democrata John F. Kennedy conquistou a vitória após uma disputa acirrada contra o republicano Richard Nixon. 

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Havia suspeita de fraude, mas, com o tempo, Kennedy se tornou popular por lidar com a crise dos mísseis de Cuba. 

Nas eleições de 1962, os republicanos conseguiram apenas quatro assentos na Câmara e três no Senado. E os democratas ainda eram a maioria quando Kennedy foi assassinado, em novembro de 1963, durante uma viagem ao Texas. 

Em 1988, George H.W. Bush conquistou uma vitória esmagadora para suceder o republicano Ronald Reagan como presidente, mas isso não persistiu na eleição de meio de mandato. Ainda assim, não foi um resultado horrível, dada a história das eleições. Os democratas ganharam oito assentos na Câmara e apenas uma vaga no Senado em 1990, mas isso fez pouca diferença, já que o partido já controlava as duas câmaras do Congresso. 

*Fred Lucas é correspondente do Daily Signal na Casa Branca e um dos apresentadores do podcast “The Right Side of History”.

2018 Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.
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