
Johannesburgo - Filas gigantescas retilíneas, onduladas, em formato de meia-lua e até formando quadrados perfeitos foram ontem a imagem da eleição sul-africana, a quarta desde o fim do apartheid, há 15 anos.
Nem a face sorridente de Nelson Mandela, votando com a ajuda de um neto, nem os gritinhos de alegria do arcebispo Desmond Tutu dentro da seção eleitoral na Cidade do Cabo foram suficientes para apagar a visão de milhares de pessoas esperando por até cinco horas no frio, pacientemente. O comparecimento foi de cerca de 80% entre os 23 milhões de eleitores o voto é facultativo.
O resultado final é aguardado para o fim de semana, mas os primeiros resultados parciais já devem indicar hoje a vitória fácil de Jacob Zuma, do Congresso Nacional Africano.
Em alguns locais o clima foi tenso, com policiamento reforçado, mas os incidentes foram pontuais. No mais sério, o chefe de uma seção eleitoral na província de KwaZulu-Natal foi preso após terem sido encontradas cem cédulas pré-marcadas para o Partido Inkhata.
Sistema arcaico
No geral, o sentimento era de resignação com o arcaico sistema de votação sul-africano, baseado em poucas seções eleitorais, poucas cabines de votação e cédulas enormes. Eleitores, sobretudo os mais velhos, tinham dificuldade em encaixá-la nas urnas de papelão.
Máquina
Zuma deve ser eleito com entre 60% e 70% dos votos, enquanto os dois principais partidos de oposição, a Aliança Democrática e o Congresso do Povo, juntos, devem ter entre 20% e 30%. A popularidade do CNA deve-se à sua aura de partido da libertação da segregação racial e a uma bem engrenada máquina partidária.
Em frente a uma seção eleitoral na favela de Alexandra, o militante do CNA Nathi Nkabinde pediu desculpas para interromper uma conversa com a reportagem. Precisava passar uma mensagem de texto de seu celular para o escritório regional do partido, informando que, até aquele momento, 10 h, 197 pessoas haviam votado na eleição nacional e 196 na provincial (as urnas são diferentes). O crédito foi pago pelo partido para milhares de pessoas.
A boca de urna é tolerada na África do Sul, mas com regras. Numa seção, duas mesinhas do outro lado da calçada tinham partidários do CNA e do Partido Inkhata tentando atrair eleitores para um último esforço de convencimento. Irritado com o fato de a mesa adversária ter uma grande bandeira, o representante do CNA foi reclamar com o chefe da seção, que o autorizou a colocar a sua.



