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Geleira Helheim - Repentinamente e sem aviso, o gigantesco rio de gelo aumentou de velocidade, soltando icebergs com uma velocidade ainda maior na direção do oceano na costa su­­deste da Groenlândia. A velocidade de degelo do glaciar Helheim, que segue a fenda árida da costa montanhosa, quase dobrou em apenas alguns anos.

Os sinais de alerta dispararam na medida em que esse padrão passou a se repetir em glaciares de toda a Groenlândia. Afinal, a ilha possui uma grande cobertura de gelo, um reservatório de água congelada que poderia elevar o nível do mar em seis metros se lançado ao oceano todo de uma vez.

Meia década mais tarde, há poucas boas notícias e muita in­­certeza. "Aparentemente, a rapidez do degelo era sustentada apenas por um curto período de tempo, embora nenhum desses glaciares tenha retornado ao fluxo ‘normal’ de velocidade ainda", diz Gordon Hamilton, especialista em geleiras da Universidade do Mai­­ne.

Entender por que o degelo das geleiras da Groenlândia acelerou tanto na primeira metade da década – e se esse ritmo está diminuindo – é muito importante para saber com que velocidade os níveis do mar vão subir conforme o planeta se aquece.

A questão ganha urgência na medida em que os cientistas correm para organizar suas últimas descobertas em tempo para as ne­­gociações globais sobre o novo pacto climático marcadas para dezembro em Copenhague.

Os cientistas dizem que a cobertura de gelo da Groenlândia, que tem espessura de até três quilômetros e cobre uma área quase igual à do México, está perdendo cerca de 200 milhões de metros cúbicos de gelo por ano, o equivalente a 80 mil piscinas olímpicas.

A dinâmica da cobertura de gelo na Groenlândia – e das co­­berturas ainda maiores na An­­tár­­tida – não foram incluídas pelo painel de especialistas da Organi­­zação das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas em 2007 porque o fenômeno não era bem mapeado na época.

A ideia sobre o que acontece na Groenlândia está apenas começando a se formar e os cientistas ainda estão no escuro sobre como iniciou o processo, o quanto dele se deve a variações naturais, à ação humana e ao aquecimento global.

Hoje, a explicação mais aceita é que a camada de gelo da Groen­­lândia está derretendo devido às temperaturas mais altas dos oceanos.

Antes, os cientistas acreditavam que o principal fator era a água descongelada que se infiltrava pela base das geleiras, lubrificando a camada de rochas ao fundo. Agora, eles estão movendo suas atenções para as correntes oceânicas que, acredita-se, estariam enviado água mais quente das latitudes ao sul para os fiordes glaciais da Groenlândia.

Em julho, os oceanos do mundo apresentaram as temperaturas mais quentes em quase 130 anos de registros.

Meteorologistas dizem que se trata de uma combinação de fatores que inclui o fenômeno natural El Niño, o aquecimento global produzido pelo homem e uma série de alterações climáticos.

Coincidindo com a diminuição do gelo no mar do Polo Norte e o derretimento da camada de gelo permanente do Ártico, a descoberta do que acontece nos glaciares da Groenlândia no início desta década elevou o senso de urgência entre os cientistas que estudam o impacto da mudança climática no norte gelado.

O fato também tem sido usado por grupos de defesa do ambiente, como o Greenpeace, para destacar a importância de se chegar a um acordo em Copenhague para limitar as emissões globais de gases do efeito estufa.

Temendo que um possível acordo esteja em perigo, ministros de Relações Exteriores da União Europeia anunciaram recentemente que estão aumentando os esforços para que os países enfrente o aquecimento global.

O relatório de 2007 do Painel Intergovernamental sobre Mu­­dança Climática fez projeções de que o nível do mar subiria entre 20 e 60 centímetros neste século. Ao acrescentar o impacto potencial do degelo das camadas de gelo na Groenlândia e na Antártida, muitos cientistas estimam que a elevação será duas vezes maior.

As últimas medições indicam que Helheim está fluindo 10,5 quilômetros por ano, um pouco abaixo da maior marca, registrada em 2005, mas ainda 50% mais rápido do que seu ritmo normal.

Se o mundo continuar a esquentar, aumentos repentinos da aceleração de degelo glacial po­­dem se tornar mais frequentes, exaurindo o gelo em terra. Mas ninguém pode dizer com certeza se isso vai demorar cem anos ou mil.

"É preocupante saber tão pouco", diz Ian Howat, especialista em glaciares da Universidade de Ohio.

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