Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Símbolo

A feminista que não via o homem como inimigo

São Paulo (AE) – Vítima do machismo, ela sempre foi. Afinal, com aquela cara, afirmavam machos de todo o planeta, não restava a Betty Friedan alternativa senão a de liderar um movimento como o incendiário feminismo dos anos 1960 e 70. Foi sob o impacto de livros como A Mística Feminina, que ela publicou em 1963, que as mulheres norte-americanas (e, depois, de todo o mundo) saíram às ruas bradando por igualdade, ameaçando milênios de dominação masculina. Sábado, dia em que completava 85 anos, Betty sofreu uma parada cardíaca em sua casa em Washington. Será enterrada hoje em Nova Iorque.

Filha de judeus russos, Betty foi casada durante 22 anos. Teve três filhos e nove netos. Nos revolucionários anos 1960, ela já era uma mulher madura quando escreveu seu best seller que logo se transformou num dos livros mais influentes daquela época. Foi a década que entrou para a história como a que mudou tudo, embora tenha sido preparada pela anterior e tenha tido desdobramentos importantes na seguinte. Mas os anos 60 foram realmente especiais.

O livro de Betty rapidamente se tornou uma espécie de pedra de toque do movimento feminista. Ali se ouvia uma voz que racionalizava um fenômeno crescente – cada vez mais as mulheres saíam de casa para trabalhar; o homem deixava de ser provedor e a nova mulher passou a reivindicar liberdade sexual e igualdade de direitos. O que A Mística Feminina discute (e o livro até hoje é muito vendido) é que a mulher não deve se autodefinir, ou ser definida, apenas pelas funções biológicas. O casamento e a maternidade são importantes – Betty nunca rejeitou a família –, mas a mulher deve aspirar a muito mais do que atender a filhos e maridos.

Para ela, o inimigo não era o homem, mas a crise econômica que afetava (afeta até hoje) a ambos. Há pouco mais de 10 anos, em setembro de 1995, sua participação na 4.ª Conferência Internacional Sobre a Mulher, em Pequim, foi marcada pela polêmica. Betty poderia ter invocado Glauber Rocha, quando dizia que estavam confundindo sua loucura com sua lucidez. Na fase final, ela estava mais empenhada em criar uma aliança política do que em defender uma bandeira feminista. A globalização é o inimigo, anunciava. Betty foi das primeiras a perceber um novo fenômeno – em Pequim, as mulheres dos fundamentalistas islâmicos se opunham a que os direitos das mulheres fossem considerados direitos humanos. A última década só tem feito radicalizar essa discussão.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.