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França

A filha adotiva de Jacques Chirac

Paris (AE) – Na véspera de concluir seu segundo mandato presidencial, Jacques Chirac, sempre atento à felicidade de seus súditos, lhes faz uma surpresa. Ele lhes oferece um "embrulho de presente" do qual sai o quê? Uma filha. Uma filha crescida (48 anos).

Ela se chama Anh-Dao e é vietnamita. Ela não é filha de sangue dos Chirac (Jacques e Bernadette), mas adotiva. A história é bonita como uma telenovela. Chora-se ante todas as reviravoltas.

Estamos no fim da guerra do Vietnã, por volta de 1980. Há milhares de refugiados vietnamitas nos mares orientais, a "boat people". Muitos fugitivos desses barcos jamais chegaram a lugar algum. Outros são salvos e acabam chegando na América, na Europa. Entre estes, uma jovem de 20 anos, Anh-Dao. Ela comove Jacques Chirac, então prefeito de Paris, que adota a jovem vietnamita.

Esta bela "boa ação" havia permanecido secreta, só tendo sido divulgada, ruidosamente aliás, no início de 2006. Anh-Dao, que se casou duas vezes desde aquela época, narra seu "conto de fadas" em um livro recém-lançado, "La fille de coeur" (A filha de coração, editora Flammarion).

A história é comovente. Ahn-Dao começa prevenindo que o livro não foi absolutamente ditado pelo Eliseu. Não! Ela resolveu entrar para a literatura por conta própria e para "louvar a bondade" do casal Chirac.

Seguem-se lembranças. Ela conta os dias deliciosos no Castelo dos Chirac, em Bitty. "O grande prazer de "papy" (papy é Chirac, evidentemente), era ir a pé à fazenda vizinha buscar o leite recém-ordenhado, vestindo caça jeans e camisa, com seu cântaro de ferro branco na mão."

Mas não é que os jornalistas buscam sempre a pequena vilania, mesmo nessa história tão bela como uma fábula de La Fontaine? Por exemplo, eles se permitiram descobrir que o livro de Anh-Dao é insosso. Outros, ainda mais mesquinhos, se espantam pela história ter saído pouco antes da próxima campanha presidencial.

E há pior: no jornal Le Monde, um artigo aborda o encontro de Chirac com a jovem. Segundo o livro de Anh-Dao, eis como isso se passou na sua chegada na França, quando foi recebida na prefeitura de Paris com outras fugitivas dos barcos: "Eu soluçava num canto quando um grande senhor se aproximou de mim e me estendeu um lenço de cambraia imaculado."

Le Monde apresenta uma versão um pouco diferente. Ele nos informa que antes de ser adotada pelos Chirac, a jovem Anh-Dao devia ser recolhida por outra pessoa, Bernard Billaud, ex-diretor de gabinete de Chirac. Bernard Billaud fala disso a Jacques Chirac. Eis o que se passa então, segundo Le Monde.

"O apartamento dos Billaud é pequeno! Nós vamos levá-la para casa", teriam decretado então Jacques e Bernadette Chirac, sem se preocupar com o sofrimento que poderiam causar. Depois eles fizeram o bem de Anh-Dao, discretamente, durante alguns anos."

E hoje, em seu livro de memórias, ela fala disso tudo? Absolutamente. Bernard Billaud está completamente ausente do livro de Anh-Dao. Talvez ela não tivesse espaço. Felizmente, encontrou algumas linhas para dizer o quanto deseja que seu "papy" concorra na próxima eleição presidencial. "Um Chirac, tão grande, tão generoso, tão confiável, por esse poder que emana de sua natureza, merecia ser eleito."

Decididamente, os presidentes franceses gostam de informar seus povos, no fim de seus mandatos, que têm uma filha oculta: foi assim com Mitterrand que exibiu, com certo atraso, sua filha natural, Mazarine, até então um "segredo de Estado." Mazarine era fruto de amores adulterinos, o que convinha ao personagem fascinante mas cheio de sombras que era Mitterrand.

Chirac também nos brinca com uma filha, mas apenas "adotiva": um belo e luminoso romance, mas, talvez, a se acreditar no Le Monde também maculado por algumas sombras.

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