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História

Contexto da época foi essencial

Diz a biologia que as características gerais de um indivíduo são determinadas por uma combinação cumulativa das interações entre seus genes e o ambiente ao qual esses genes são expostos ao longo da vida. A história de Charles Darwin parece encaixar-se perfeitamente nesse roteiro.

Filho e neto de intelectuais da alta classe britânica, ele provavelmente tinha os genes necessários correndo na família para se destacar nas atividades científicas. Seu avô paterno, Erasmus, por exemplo, foi um importante filósofo e botânico que já refletia intensamente sobre a evolução e a origem das espécies no fim do século 18.

Somado a essa base genética, Darwin tinha muitos fatores "ambientais" atuando a seu favor quando elaborou sua teoria. Havia muitas ideias no ar. O momento era propício para uma revolução científica. "Foi um contexto social que produziu o darwinismo, não foi algo que saiu só da cabeça dele", diz o biólogo Nelio Bizzo, da Faculdade de Educação da USP.

Vaticano se mostra aberto ao darwinismo

Genebra - O Vaticano admite que as teorias desenvolvidas por Charles Darwin e os dogmas da Igreja Católica não são contraditórios e dá claros sinais de que está disposto a aceitar o evolucionismo como uma das teorias que explica pelo menos parte do desenvolvimento humano. A Santa Sé prepara para março uma conferência inédita dentro do Vaticano para debater o Darwinismo e chega a indicar que, séculos antes, alguns de seus principais nomes já falavam em teorias similares às de Darwin.

O chefe do Conselho de Cultura do Vaticano, arcebispo Gianfranco Ravasi, admitiu que a Igreja chegou a ser hostil a Darwin. Mas alerta que ele jamais foi condenado formalmente pela Santa Sé.

Ao anunciar o evento que ocorre em Roma em março e que está sendo considerado como um marco no debate entre religião e ciência, o arcebispo fez questão de indicar que papas – entre eles Pio XII e João Paulo II – chegaram a aceitar a teoria da evolução no passado.

A constatação de Darwin de que o homem poderia vir de uma evolução do macaco não condiz com a história contada no livro de Gênesis. Mas o Vaticano tem uma resposta: Apesar de o homem compartilhar 97% de seus gens com macacos, os 3% restantes é o que distingue a raça humana como "única", inclusive com a existência da fé.

      São Paulo - No dia em que Charles Darwin completaria 200 anos, a atual crise financeira-econômica mundial oferece um cenário ideal para estudar o legado do grande naturalista. Assim como o asteroide que caiu sobre a Terra há 65 milhões de anos alterou radicalmente o clima do planeta, levando os dinossauros à extinção e permitindo a ascensão dos mamíferos (até então pequenos animais noturnos que viviam à sombra dos grandes répteis), o colapso de Wall Street detonou uma sequência de eventos que alteram profundamente o ambiente econômico mundial.

      Empresas, bancos e modelos de negócios que não conseguirem se adaptar às novas condições correm o risco de desaparecer da face da Terra, tal qual os dinossauros. Alguns gigantes do setor financeiro já foram extintos. Novos negócios sustentáveis, antes sufocados pelo ambiente especulativo e de consumo desenfreado, agora têm uma chance para florescer, tal qual os pequenos mamíferos do cretáceo.

      Esse é o princípio da evolução por seleção natural, descoberto por Darwin em meados do século 19, após sua viagem de volta ao mundo a bordo do H.M.S. Beagle e publicado em 1859, no livro A Origem das Espécies – para muitos, a obra mais importante da história da ciência. Darwin enxergou algo fundamental e revolucionário sobre o funcionamento da natureza: um mecanismo pelo qual espécies podem evoluir, diferenciar-se e originar novas espécies por meio de forças exclusivamente biológicas, sem necessidade de intervenção divina ou atos sobrenaturais. Um mecanismo tão poderoso que, como Darwin bem previu, abriu caminho para novos – e polêmicos – campos de estudo a respeito da existência humana.

      O primeiro passo de Darwin para chegar a sua teoria foi perceber que todos os indivíduos – inclusive os membros de uma mesma espécie – são anatomicamente e fisiologicamente diferentes entre si. Alguns nascem com pernas um pouco mais longas, com a visão um pouco mais aguçada, com antenas mais sensíveis ou com a capacidade de digerir alimentos melhor do que seus pais e irmãos.

      Se alguma dessas características calha de ser vantajosa no ambiente em que aquele organismo vive – por exemplo, a capacidade de viver mais tempo sem água em um ecossistema árido ou uma coloração de asa que se camufla melhor com a cor da casca de uma árvore –, esse indivíduo terá melhores chances de sobreviver e, consequentemente, de deixar descendentes com características genéticas iguais às dele para compor as gerações futuras (chamada seleção positiva). Já os indivíduos menos adaptados sofrem o efeito contrário: em média, vivem menos e deixam menos descendentes (seleção negativa).

      Deixe a seleção natural agir por tempo suficiente e as variedades menos aptas tenderão a desaparecer da população, substituídas pelos descendentes das variedades mais bem adaptadas. É o que Darwin chamou de "luta pela sobrevivência". Novas espécies surgem quando uma variedade se separa da população original e segue um caminho evolutivo diferente, tal como as linhagens do homem e do chimpanzé divergiram de um ancestral comum.

      Por mais polêmica que ainda seja do ponto de vista religioso, a teoria da evolução por seleção natural é hoje um pilar central das ciências biológicas, tão indispensável para explicar o desenvolvimento de uma joaninha quanto a resistência de bactérias a antibióticos ou a resposta de uma floresta ao efeitos do aquecimento global. Como disse o geneticista ucraniano Theodosius Dobzhansky, em 1973: "Nada na biologia faz sentido, a não ser sob a luz da evolução".

      Além da Biologia

      A analogia sobre a crise financeira serve para mostrar que as teorias de Darwin – agrupadas no que se convencionou chamar de "darwinismo" – foram mais longe ainda: extrapolaram os limites da biologia e colonizaram outras áreas da ciência, influenciando várias esferas do pensamento humano.

      Mais até do que uma analogia, a evolução por seleção natural é um elemento crucial da teoria econômica moderna, segundo o economista José Eli da Veiga. "A ideia é que qualquer sistema evolutivo obedece às leis do darwinismo. E a economia é certamente um sistema evolutivo", diz Veiga.

      No que se aplica à evolução de plantas, besouros, peixes e sabiás, a teoria de Darwin já é ponto pacífico na ciência. É quando se tenta aplicar a seleção natural aos seres humanos que a coisa fica complicada. A mera sugestão de que o Homo sapiens era uma forma evoluída de macaco e não um ser especial criado por Deus foi suficiente para detonar uma batalha entre ciência e religião que persiste até os dias de hoje.

      A versão mais moderna desse debate se dá no campo da "sociobiologia", uma ciência controversa que busca integrar conceitos biológicos ao estudo do comportamento humano. Umas de suas disciplinas, como previu Darwin, é a chamada "psicologia evolutiva". O raciocínio básico da sociobiologia é o de que, se o comportamento dos animais resulta de processos evolutivos, e os seres humanos são animais que evoluíram como todos os outros, então seu comportamento social deve ser, também, influenciado por processos biológicos – e não apenas culturais.

      O tema é extremamente polêmico entre biólogos, antropólogos e sociólogos. "Não há nada no ser humano que não seja explicado por leis biológicas", diz o biólogo Mário de Pinna, vice-diretor do Museu de Zoologia da USP. Para ele, o ser humano continua a ser moldado pela seleção natural, tanto culturalmente quanto biologicamente.

      O geneticista Sérgio Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), discorda. "A evolução humana, do ponto de vista biológico, acabou", diz. "Temos uma cultura que vai diretamente contra a seleção natural. Temos a medicina: pessoas que deveriam morrer não morrem." Hoje, segundo Pena, a única seleção relevante é a cultural. "Evoluímos tanto que um dos produtos da nossa própria evolução é uma nova maneira de evoluir", diz. "Tomamos as rédeas do nosso próprio destino como espécie."

      Importância atual

      As discordâncias mostram que a obra de Darwin está longe de virar história e que muitas das questões levantadas por ele continuam tão importantes no século 21 quanto eram no século 19. "É realmente notável que um naturalista daquela época pudesse fazer perguntas que permanecem relevantes tanto tempo depois", diz o ecólogo Thomas Lewinsohn, da Universidade Estadual de Campinas.

      "A palavra de Darwin não é uma palavra sagrada, que não pode ser questionada. É uma teoria viva, em constante desenvolvimento, que pode e deve ser sempre reexaminada."

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