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A queda drástica no preço do petróleo é uma das principais ameaças à economia russa. Operários em um poço em Bashkor­tostan | Sergei Karpukhin/Reuters
A queda drástica no preço do petróleo é uma das principais ameaças à economia russa. Operários em um poço em Bashkor­tostan| Foto: Sergei Karpukhin/Reuters
  • O presidente russo Vladimir V. Putin e o rei Salman da Arábia Saudita, em novembro. Na época, ele era o príncipe herdeiro

Com o preço do petróleo 50 por cento mais barato que no ano passado, o rublo desvalorizado, a recessão iminente e o país já tendo que usar o fundo de reserva, a economia russa está correndo contra o relógio – embora seja difícil até entender o tamanho do buraco segundo as medidas tomadas pelo Kremlin.

O "pacote anticrise" recentemente divulgado pelo Ministro das Finanças, Anton Siluanov, parecia mais uma lista de compras de meias-medidas e uma promessa vaga de dez por cento de corte no orçamento.

"O plano é uma bobajada, muito falatório e pouca ação", resumiu o oligarca Aleksandr Y. Lebedev.

O presidente Vladimir V. Putin foi sucinto, repetindo que, além de manter um controle rígido sobre as finanças do governo, "é preciso mudar a estrutura da economia".

Apesar disso, empresários, economistas e ex-membros do governo esperavam que a reação do Kremlin fosse semelhante a de 2008, última vez que os preços do petróleo despencaram, administrando o desastre, mas não fazendo mudanças fundamentais.

"Eles estão tentando se aguentar, usando de estratégia na esperança que o preço do petróleo suba; a intenção é fazer só uns ajustes e torcer para que a crise desapareça. Não há apetite para reformas drásticas. O negócio é esperar", afirma Kenneth S. Rogoff, professor de Economia de Harvard.

A questão é: será que os US$385 bilhões do fundo do governo vão durar até o barril voltar a subir? Rogoff, que também trabalhou no FMI, observa que os governos geralmente subestimam a rapidez com que as reservas nacionais são utilizadas. Para os especialistas em energia, pode levar um bom tempo até que o valor atual, que é de menos de US$50, ganhe fôlego para voltar à média dos US$100 dos últimos anos. Há a possibilidade, porém, de a Arábia Saudita ajudar. Há tempos os sauditas vêm pressionando Putin para desistir do apoio ao presidente sírio, Bashar al-Assad – e reafirmam sua influência, resultado da capacidade de redução da produção, o que faria subir os preços.

Não se sabe até que ponto seus representantes foram explícitos ao definir a relação da situação do petróleo com a questão síria nas negociações em Moscou, mas qualquer demonstração de enfraquecimento do suporte russo a Assad pode ser um dos primeiros sinais de que o tumulto no mercado petrolífero está causando um impacto no estadismo global.

Enquanto isso, as medidas russas para proteger a economia incluem uma injeção de mais de US$22 bilhões para os bancos e principais estatais.

O plano blinda dois tesouros eleitoreiros de Putin: a população idosa e os membros da segurança – e vai usar mais de US$2,7 bilhões para equiparar a aposentadoria, castigada pela inflação que chegou a 11,4 por cento no ano passado. Não foram anunciados cortes nos gastos militares. O governo vai destinar US$700 milhões para a agricultura. O objetivo é ajudar os agricultores a aumentar a produção e frear a disparada de preços ocorrida com a proibição de exportação de alimentos do Ocidente, retaliação pelas sanções impostas pela União Europeia e EUA pela anexação da Crimeia e as ações no leste da Ucrânia.

Os aumentos chegaram a superar os quinze por cento em 2014 – e alguns itens básicos, como o açúcar, chegaram a subir 40 por cento.

A reação do Kremlin se fia na confiança de que o preço do petróleo vai se recuperar logo e na bravata de que os russos suportam qualquer coisa, inclusive comer menos, pela pátria.

Recentemente no Fórum Gaidar, principal conferência econômica realizada no país, três analistas ofereceram visões bem diferentes da economia nacional.

O primeiro-ministro Dmitri A. Medvedev definiu a dependência nas exportações de matérias-primas "coisa do passado", sem dizer com o que as substituirá.

Alexei Ulyukayev, ministro do Desenvolvimento Econômico, afirmou que a Rússia tem dinheiro suficiente para superar as dificuldades até retomar o crescimento, daqui a um ano ou dois. Só Siluanov, o ministro das Finanças, mostrou preocupação ao dizer: "Não há paz no Ministério, só tensão".

Lebedev propôs medidas imediatas para estimular o crescimento econômico, incluindo a desregulamentação do setor madeireiro, subsídio dos financiamentos agrícolas e a expansão do setor da construção com a liberação de terras públicas.

Os analistas garantem que, por enquanto, não há pânico no Kremlin. Igor Yurgens, presidente do Instituto de Desenvolvimento Contemporâneo, organização de pesquisa liberal, disse: "É tolerável. Ainda temos vodca, comida na mesa e pepino em conserva. Daremos um jeito".

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