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O Brasil fechou um acordo com os países islâmicos para permitir que a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) possa ser credenciada na ONU. Porém, a entidade não poderá tocar no assunto de discriminação contra homossexuais. O veto dos muçulmanos à participação da ONG brasileira teve apoio dos Estados Unidos e do Vaticano.

O conflito entre os países islâmicos e o Brasil em torno do preconceito contra pessoas por causa de sua sexualidade trará à tona a capacidade ou não da ONU em debater assuntos considerados delicados para algumas religiões. Mas não são só questões religiosas que estão em jogo, uma vez que a discriminação à ONG brasileira teve apoio dos Estados Unidos.

No próximo ano, a ONU realiza sua conferência sobre discriminação, racismo e intolerância religiosa. Mas o assunto de ataques contra homossexuais não poderá entrar na agenda, daí os países do Islã estarem recusando a participação da ABGLT.

As nações árabes se recusam a falar do assunto de discriminação contra homossexuais e lembram que a prática é um crime em vários locais, supostamente diante de uma interpretação do Corão. O Brasil e outros países ocidentais alertam que não querem que esses governos aceitem o homossexualismo, mas apenas que reconheçam que não se pode discriminar alguém por sua opção sexual.

O acordo foi cuidadosamente costurado nos bastidores. Pelo entendimento, os países islâmicos não irão se opor ao registro da ABGLT. Mas vão proibi-la de tratar do assunto. O Brasil se compromete também a respeitar a agenda da conferência, que até agora não inclui temas de discriminação contra homossexuais por oposição dos muçulmanos. Para o Itamaraty, o acordo foi uma "vitória". "O acordo foi importante para o Brasil, para o Irã e para o processo. Juntos, derrubamos um mito de que é impossível negociar temas sensíveis", afirmou a embaixadora do Brasil na ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo.

Mas nos discursos desta quinta (16), os países islâmicos deixaram claro que não vão querer que o tema entre na agenda. Quem mais lutou contra a idéia é o Irã. "A área de atividade dessa ONG não está em nossa agenda", afirmou M. Baedinejad, vice-embaixador de Teerã na ONU. "Não vamos abrir mão de nossa posição", disse. Na prática, sua declaração sinaliza que o Irã não aceitará que o tema seja incluído na agenda da ONU.

Falando em nome de todo o continente africano, a delegação do Egito garante que vai "monitorar todos os passos" da ONG para garantir que ela não levante o assunto. "Essa ONG não deve tocar no assunto em nenhuma só ocasião. Esse tema não tem relevância e representa mais uma distração", afirmou o representante do Cairo.

"Não podemos desviar a atenção para outros assuntos e nem deixar que um tema seqüestre o debate", afirmou o representante da Arábia Saudita na ONU, Ahmed Al Aquil. Para o representante da Nigéria, país com uma maioria muçulmana, não há mais espaço para que "temas polêmicos" entrem na agenda.

Já a União Européia saiu em defesa do Brasil, alegando que é "lamentável" que os países islâmicos considerem o tema como "irrelevante". "Essa questão está, sim, dentro da agenda da ONU, já que estamos falando de discriminações contra seres humanos", afirmou um diplomata francês, em nome de todos os 27 países da UE.

Os europeus insistem que enquanto os muçulmanos pressionarem por transformar o debate em uma plataforma contra o Ocidente, vão continuar pressionando pela inclusão do tema de orientação sexual na agenda. "Não há como isso vingar", completou um diplomata nigeriano.

A política do governo Luiz Inácio Lula da Silva é a de aproximação aos países árabes; há quatro anos, o País já retirou da agenda da ONU uma proposta que pedia que a opção sexual de uma pessoa não fosse motivo de discriminação. A proposta foi engavetada depois que os países islâmicos alertaram que a iniciativa poderia minar a tentativa de Lula de se aproximar dos árabes.

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