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Uma janela para o diálogo entre os generais que detêm o poder em Mianmar e o símbolo da democracia Aung San Suu Kyi, em prisão domiciliar, parece ter sido entreaberta neste sábado, após pressão das potências ocidentais pelo início das negociações com a oposição.

Falando aos repórteres, após informar o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre sua visita de quatro dias a Mianmar, o enviado especial Ibrahim Gambari disse ter visto uma "brecha de oportunidade" para possíveis negociações entre a junta e Suu Kyi, que recebeu Gambari duas vezes em Yangon, onde está sob prisão domiciliar.

"Das minhas conversas, ela parece muito ansiosa para estabelecer diálogo (desde que não existam pré-condições)", disse Gambari.

O General Sênior Than Shwe, que ultrajou o mundo ao usar força militar contra manifestações pacíficas lideradas por monges, propôs diálogo direto caso Suu Kyi abandone o "confronto" e seu apoio às sanções e à "total devastação".

Analistas de Mianmar advertem contra o otimismo, pois no passado esperanças de mudança foram reprimidas repetidas vezes durante os 45 anos de domínio militar contínuo, pontuados pela morte de 3.000 pessoas pelo exército num levante em 1988.

Dois anos depois, a Liga Nacional pela Democracia (LND) de Suu Kyi venceu as eleições com larga margem, mas os generais ignoraram o fato e ela passou 12 dos últimos 18 anos na prisão.

Mas o porta-voz da LND Nyan Win, que rejeitou inicialmente a oferta de Than Shew como irreal, disse no sábado que isso pode abrir uma oportunidade para falar sobre negociações.

"Podemos dizer que é uma melhoria significativa em relação ao passado. Eles nunca se comprometeram a falar com ela", disse Nyan Win.

Suu Kyi, de 62 anos, ainda não se pronunciou. Ela está confinada, sem acesso a telefone, e precisa de permissão oficial, raramente concedida, para receber visitas.

No entanto, no que parece ser outra atitude com o objetivo de apaziguar a ira internacional, a televisão estatal transmitiu imagens raras de Suu Kyi pela primeira vez em quatro anos na noite de sexta feira.

O texto se referia a ela respeitosamente como "Daw Aung San Suu Kyi", uma mudança da época em que o nome de seu pai, Aung San, era omitido para esconder a ligação dela com o herói da independência do país.

No sábado, jornais oficiais citaram um oficial sênior da junta dizendo ao enviado do ONU que "grupos antigoverno devem se comprometer a ajustar suas políticas".

MAIS PRESSÃO

Em Nova York, Grã-Bretanha, França e Estados Unidos, que pedem sanções mais duras contra o regime, circulou a primeira versão de uma declaração do Conselho de Segurança exigindo que a junta liberte presos políticos e converse com a oposição.

Uma declaração não tem força legal, mas, se um texto com palavras duras for aprovado pela China, até agora o aliado mais próximo a Mianmar no Conselho, isso transmitirá uma mensagem bem clara à junta.

O brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, enviado especial da ONU para direitos humanos em Mianmar, disse ter esperanças de uma ação internacional, dado o forte consenso no Conselho de Direitos Humanos, onde mesmo a China e a Rússia concordaram com uma resolução condenatória.

Há quatro anos Pinheiro tem seu pedido de visto a Mianmar negado, mas ele diz que ainda espera ir ao país, e que há sinais positivos apesar da resistência da China e da Rússia contra ações do Conselho de Segurança.

"Não vamos nos desesperar neste momento", disse.

"Não posso garantir que algo positivo acontecerá, mas acho que estamos vivendo um momento em que as coisas estão andando, e talvez a famosa 'comunidade internacional' tenha algum efeito."

A junta diz que 10 pessoas foram mortas nos confrontos, mas governos ocidentais afirmam que o número de vítimas deve ser bem mais alto.

O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, disse que a Grã-Bretanha contestou os dados. "Acreditamos que tenha havido muito mais mortes do que o regime admite", declarou.

"E temos graves preocupações sobre as centenas, possivelmente milhares, de monges, freiras e outros que simplesmente desapareceram."

Brown reuniu-se com uma delegação em apoio à democracia em Mianmar como parte do dia global de protestos.

"Quero que a União Européia imponha mais sanções ao regime, para deixar absolutamente claro que não toleramos os abusos que vêm acontecendo", disse ele à delegação.

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