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A Al-Qaeda anunciou nesta terça-feira a morte de seu dirigente número 3 no Afeganistão, Mustafa Abu Al Yazid. O governo afegão comemorou a notícia, mas não soube dizer se essa notícia fará muita diferença na luta contra o terrorismo no próprio país e no vizinho Paquistão.

O egípcio Yazid era um dos fundadores da organização de Osama bin Laden. Segundo os Estados Unidos, a morte foi fruto de ataques com mísseis em áreas tribais do Paquistão. Além do líder extremista, morreram sua mulher, três filhas e a neta.

Yazid é acusado de colaborar financeiramente para a execução dos ataques de 11 de setembro de 2001, nos EUA. O diretor da CIA, Leon Panetta, disse que a morte do líder da Al-Qaeda é mais uma vitória contra o terrorismo, pois diminui a capacidade de a organização elaborar planos sofisticados.

O líder radical morto era o chefe das operações da Al-Qaeda no Afeganistão. "Nós não estamos certos sobre qualquer impacto significativo da morte de um dos membros da Al-Qaeda", notou um porta-voz do governo de Cabul nesta terça-feira. "Nós temos que fazer muito mais antes de falar em se fazer uma diferença. Diferença é uma palavra muito forte", complementou o funcionário Yazid também era conhecido como xeque Said al-Masri. A data da morte não foi confirmada pela Al-Qaeda.

O Taleban, por sua vez, ameaçou a realização de uma conferência de paz nacional, marcada para esta semana, antes mesmo de ela começar. O grupo ameaçou de morte os 1.600 delegados em mensagens gravadas em fitas cassete pela liderança dos insurgentes.

A reunião de três dias, que começa na quarta-feira numa tenda gigante na Universidade Politécnica de Cabul, vai discutir como promover a reconciliação com os combatentes, apesar do fato de os Estados Unidos enviarem mais tropas para a guerra que já dura quase nove anos. Mas a reunião também pode abrir fissuras numa sociedade profundamente dividida após décadas de conflito.

O presidente Hamid Karzai vai usar a conferência, conhecida como "jirga da paz" para buscar apoio a seu plano de oferecer incentivos econômicos ao Taleban e a outros combatentes insurgentes que queiram deixar os campos de batalha.

Na véspera da conferência, o Taleban disse em comunicado a empresas de comunicação, que a jirga não representa o povo afegão e que tinha como objetivo "assegurar os interesses dos estrangeiros".

Para reforçar a mensagem, a gravação em fita cassete foi mostrada aos integrantes governo subterrâneo do Taleban por um mensageiro. Na gravação, o presidente do conselho do Taleban, mulá Abdul Ghani, advertiu que "a punição aos participantes da jirga é a morte". As informações sobre a fita cassete foram transmitidas à Associated Press por um integrante do Taleban que tem apresentado informações confiáveis há anos.

Outro grande grupo insurgente, o Hizb-i-Islami, liderado pelo ex-primeiro-ministro Gulbuddin Hekmatyar, chamou a conferência de "exercício inútil" porque "apenas pessoas selecionadas" foram convidadas.

Um dos delegados disse à AP que levou a ameaça do Taleban a sério, embora ainda pretenda participar da conferência. Ele se recusou a permitir que seu nome fosse publicado, explicando que "se eles souberem que vou participar, haverá um suicida do lado de fora da minha porta".

Apesar disso, Karzai espera que a jirga tenha efeitos políticos ao apoiar sua estratégia de oferecer incentivos para combatentes do Taleban e alcançando a liderança insurgente, apesar do ceticismo de Washington de que o período é bom para a comunicação com líderes militantes.

"Este é um primeiro passo positivo porque todo mundo se deu conta de que a guerra não é a solução. Temos de ter uma solução política", disse Hamid Gailani, um importante legislador do sul do Afeganistão. "Se não houver entendimento e cooperação entre os governo afegão e as forças de coalizão, então será um Deus nos acuda."

Alguns integrantes de minorias étnicas afegãs também temem que Karzai possa estar muito ávido para sacrificar alguns de seus interesses na expectativa de chegar a um acordo com o Taleban que, assim como o presidente, são da etnia pashtun, a maior do país.

Cerca de 20% dos delegados serão mulheres, um grupo que também sofreu sob o regime do Taleban. Malalai Joya, que foi expulsa do Parlamento após um virulento ataque verbal aos senhores da guerra que dominam a legislatura afegã, disse temer que a jirga leve a uma eventual unidade entre os senhores da guerra e o Taleban. "Eles nos insultam com a palavra 'paz'", disse ela. "Eles querem apenas se unir a esses senhores da guerra criminosos e com o Taleban e o terrorista Gulbuddin Hekmatyar."

Embora membros ativos do Taleban não participem da convenção, alguns delegados que já tiveram participação no movimento islamita e certamente mantém contato com os militantes estarão presentes.

Dentre eles está Naeem Kuchi, um ex-comandante taleban que passou mais de dois anos sob custódia norte-americana na baía de Guantánamo. Kuchi esteve entre os comandante do Taleban que lideraram um massacre contra Hazaras étnicos na província de Bamiyan, local das antigas estátuas de Buda que foram destruídas durante o regime do Taleban.

Outro importante delegado que pertenceu ao Taleban é o mulá Abdul Salam Rocketi, que foi comandante das unidades militares do grupo no leste do Afeganistão. Ele expressou seu desapontamento com o fato de que os insurgentes não vão participar do encontro. "Nosso país está doente. Esta jirga é um tipo de prescrição, mas eu temo que esse remédio não vai consertar nosso país", disse Rocketi.

Abdul Salam Zaeef, ex-embaixador taleban no Paquistão e ex-detento de Guantánamo, disse que duvida que qualquer plano pelo qual se pague aos combatentes taleban para que deixem a guerra dará certo.

"Em sua maioria, eles lutam por sua liberdade", disse Zaeef, que não é um delegado da convenção. "As pessoas que estão lutando, lutam por razões ideológicas. Eles querem que os estrangeiros deixem seu país."

Ele reconheceu que os Estados Unidos têm o direito de exigir que o Afeganistão não seja usado para lançar ataques terroristas como os de 11 de Setembro. Outras questões devem ser deixados para os afegãos, disse ele.

"Se a questão com os Estados Unidos é o direito das mulheres, por que eles são bons com a Arábia Saudita e com o Catar", referindo-se aos reinos árabes apoiados pelos norte-americanos.

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