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Beate Zschäpe se entregou à polícia em 2011 | MICHAELA REHLEAFP
Beate Zschäpe se entregou à polícia em 2011| Foto: MICHAELA REHLEAFP

Depois de cinco anos de julgamento e mais de 600 testemunhas ouvidas, um tribunal alemão condenou nesta quarta-feira (11) Beate Zschäpe à prisão perpétua pelo seu envolvimento no assassinato de dez pessoas como membro de um pequeno grupo neonazista — um caso que provocou grande comoção na Alemanha. 

Zschäpe, agora com 43 anos, pertencia a uma célula neonazista chamada National Socialist Underground (NSU) que matou 10 pessoas entre 2000 e 2007 em uma série de assassinatos racistas na Alemanha. Oito das vítimas eram turcas, uma era grega e uma era policial da Alemanha. As autoridades originalmente pensavam que os assassinatos dos turcos eram o trabalho de gangues na comunidade alemã-turca, mas as conseqüências de um assalto a banco em 2011 ajudaram a levá-los a pistas que implicavam a NSU. O grupo também foi responsável por dois atentados a bomba que feriram 23 pessoas, além de vários assaltos a banco. 

Em novembro de 2011, Uwe Böhnhardt e Uwe Mundlos roubaram um banco em Eisenach, na Alemanha. A polícia os encontrou rapidamente, mas os dois homens estavam mortos, no que parecia ser homicídio seguido por suicídio. Suas mortes levaram Zschäpe a atear fogo no apartamento deles na cidade de Zwickau e, em seguida, se entregar à polícia, levando ao eventual esclarecimento dos assassinatos anteriores. 

Embora o apartamento tenha sido seriamente danificado no incêndio, a polícia encontrou um DVD que reproduzia o desenho animado da Pantera Cor-de-Rosa, mostrando os locais de ataque e as fotos das vítimas executadas. Acredita-se também que Zschäpe tenha entregado o mesmo DVD em vários meios de comunicação na época.

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Na Alemanha, à medida que surgiam detalhes sobre os assassinatos, havia indignação generalizada de que um grupo neonazista pudesse ter existido por tanto tempo, realizando ataques violentos, principalmente contra homens turcos, sem que houvesse intervenção policial.

Em 2012, Heinz Fromm, então chefe da agência de inteligência interna da Alemanha, renunciou depois que foi revelado que seu escritório havia destruído vários documentos relacionados aos casos. Um inquérito parlamentar também culpou o preconceito pela falta de progresso, dizendo que os investigadores falharam em investigar os neonazistas como possíveis culpados pelos assassinatos que visavam principalmente os imigrantes, restringindo o foco aos membros das próprias comunidades das vítimas. 

Em uma coletiva de imprensa nesta semana, Gamze Kubasik, cujo pai Mehmet Kubasik foi morto pelo grupo em 2006, disse: "A NSU matou meu pai, mas os investigadores destruíram sua honra". 

Lição para combater o extremismo

Zschäpe raramente falou ao longo do julgamento, que começou em 2013. Mas em 2015, ela escreveu uma longa declaração que seu advogado leu no tribunal, alegando que ela não participou ou sabia das mortes. Ela reconheceu, no entanto, sentir-se "moralmente culpada" por não ter feito mais para impedir os ataques. 

Outras quatro pessoas que ajudaram o grupo ao longo dos anos também foram sentenciadas nesta semana, embora cada uma delas cumpra menos de 10 anos de prisão. 

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O ministro do Interior da Alemanha, Horst Seehofer, disse que o caso "deve ser uma lição e uma tarefa para combatermos o extremismo nacionalista na Alemanha com todos os meios necessários". 

Mas nem todos ficaram satisfeitos com o fato de a decisão do tribunal realmente encerrar o caso. Um legislador alemão, Uli Grotsch, disse que outros partidários da NSU ainda podem estar foragidos. 

"Estamos lidando com uma rede neonazista bem organizada que ainda está operando em segredo, e não podemos descartar que uma série de assassinatos como a provocada pela NSU possa acontecer novamente a qualquer momento", disse à agência de notícias Associated Press.

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