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O ex-chanceler Celso Amorim, atualmente assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, disse em entrevista ao jornal inglês The Guardian que o Brasil não vai “pressionar” o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, a deixar o poder.
A pressão sobre o líder chavista aumentou nas últimas semanas, depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que Washington deve iniciar uma ação militar por terra na Venezuela contra o narcotráfico, após uma operação em águas internacionais no Mar do Caribe e no Oceano Pacífico que já deixou mais de 80 mortos.
A agência Reuters afirmou que, em uma ligação com Trump em novembro, Maduro recebeu um prazo de uma semana para deixar a Venezuela, mas não atendeu ao ultimato.
Na entrevista, publicada nesta segunda-feira (8), Amorim disse que o recente anúncio de Trump de que o espaço aéreo venezuelano deve ser considerado “completamente fechado” é equivalente a “um ato de guerra”.
“A última coisa que queremos é que a América do Sul se torne uma zona de guerra – e uma zona de guerra que inevitavelmente não seria apenas uma guerra entre os EUA e a Venezuela. Acabaria tendo envolvimento global e isso seria realmente lamentável”, disse Amorim.
“Se houvesse uma invasão, uma invasão de verdade […], acho que sem dúvida veríamos algo semelhante ao Vietnã – em que escala é impossível dizer”, acrescentou o assessor, que acredita que outros países poderiam se juntar à Venezuela para repelir uma ação americana.
“Conheço a América do Sul […], todo o nosso continente existe graças à resistência contra invasores estrangeiros”, disse Amorim.
O ex-chanceler afirmou que “se cada eleição questionável desencadeasse uma invasão, o mundo estaria em chamas”, em referência à eleição presidencial que Maduro fraudou no ano passado para continuar no poder.
“Se Maduro chegar à conclusão de que deixar o poder é o melhor para ele e para a Venezuela, será uma conclusão dele [...] O Brasil jamais imporá isso; jamais dirá que isso é uma exigência [...] Não vamos pressionar Maduro para que renuncie ou abdique”, disse Amorim ao Guardian.
O assessor disse que preferia não especular se o Brasil poderia ser uma opção para asilo político ao ditador chavista, “para não parecer estar incentivando”, mas alegou que “o asilo é uma instituição latino-americana [para] pessoas tanto de direita quanto de esquerda”.
Nesse momento da entrevista, segundo o Guardian, Amorim lembrou que o primeiro governo Lula recebeu o ex-presidente equatoriano Lúcio Gutiérrez, após este ser deposto em 2005. “Até enviamos um avião para buscá-lo”, disse o assessor, que era chanceler do Brasil à época.
O Guardian também citou o exemplo do ditador paraguaio Alfredo Stroessner, que se exilou no Brasil quando foi deposto, em 1989.







