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Soldado israelense na cidade de Sderot, no sul do país, em 13 de novembro. Militantes da Palestina na Faixa de Gaza anunciaram um cessar-fogo com Israel nesta terça-feira | JACK GUEZ / AFP
Soldado israelense na cidade de Sderot, no sul do país, em 13 de novembro. Militantes da Palestina na Faixa de Gaza anunciaram um cessar-fogo com Israel nesta terça-feira| Foto: JACK GUEZ / AFP

Facções palestinas em Gaza disseram ter concordado com um cessar-fogo com Israel mediado pelo Egito na terça-feira (13), após o pior surto de violência desde que os dois lados travaram uma guerra de 50 dias no verão de 2014, embora analistas tenham advertido que a situação de segurança continua frágil.

Ao pôr do sol, a troca de fogo que abalou Gaza e as comunidades israelenses vizinhas com explosões implacáveis parecia ter parado. A “sala de operações conjuntas” das facções armadas em Gaza – incluindo o braço armado do grupo militante Hamas, que governa o território – disse que um cessar-fogo foi alcançado e que permanecerá em vigor “desde que o inimigo sionista se comprometa a ele”. 

Após seis horas de reunião, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e seu gabinete de segurança não confirmaram o acordo, dizendo apenas que os militares israelenses foram “instruídos a continuar suas operações quando necessário”, mas veículos de notícias israelenses informaram que um cessar-fogo foi acordado. 

A relutância das autoridades israelenses em reconhecer um cessar-fogo ressalta o delicado equilíbrio que estão enfrentando quando tentam chegar a um acordo de longo prazo com o Hamas, que consideram um grupo terrorista empenhado na destruição de Israel. 

Antes do último confronto, os dois lados tinham estado perto de tal acordo. Ele teria implicado em ajuda econômica para Gaza, incluindo uma injeção de dinheiro e projetos de reconstrução internacionais, em troca do Hamas reprimir as manifestações na fronteira e impedir o uso de pipas incendiárias que foram lançadas para o outro lado da fronteira em Israel. 

Analistas dizem que os dois lados não estão interessados em outra rodada de conflito, mas que ambos estão lutando com a pressão interna para demonstrar força. Netanyahu, que está se aproximando de um ano eleitoral, tem sido criticado por sua abordagem por membros de direita de sua coalizão e por moradores israelenses perto de Gaza. O Hamas tem sido castigado por outras facções militantes em Gaza por lidar com o inimigo. 

“Mesmo que eles cheguem ao entendimento do cessar-fogo, vimos como eles são frágeis e não espero que dure muito”, disse Ofer Zalzberg, analista do International Crisis Group. 

A violência na segunda-feira e na terça-feira ocorreu no momento em que Israel e o Hamas pareciam prestes a chegar a uma trégua de longo prazo. A novo conflito foi desencadeado por uma operação israelense fracassada em Gaza no domingo, durante a qual sete militantes palestinos foram mortos, incluindo um comandante do Hamas. Um oficial israelense também foi morto. 

Os militares israelenses disseram que cerca de 460 foguetes foram lançados de Gaza para Israel. Mais de 100 foram interceptados pelo sistema de defesa aérea de Israel, mas outros atingiram prédios residenciais. 

Jatos israelenses responderam com mais de 160 ataques aéreos, que segundo as autoridades tiveram como alvo o Hamas e a Jihad Islâmica, a segunda maior facção militante de Gaza. Os ataques destruíram a sede da emissora de televisão Al-Aqsa, que é administrada pelo Hamas, outros prédios e o departamento de inteligência militar do Hamas. O Exército israelense disse que suas forças navais também atacaram navios do Hamas, bem como inúmeros armazéns de armas e unidades de fabricação. 

No centro da Cidade de Gaza, perto da orla marítima, o prédio de segurança de quatro andares do grupo militante foi reduzido a escombros, que se espalharam pela rua. Algumas casas foram danificadas também. 

“Ficamos apavorados. Todas as crianças da casa estavam gritando. O terror estava nos olhos de todos ao nosso redor”, disse Hafez Haboush, 29 anos, que mora ao lado do prédio da segurança. “Depois de ver essas cenas e o medo nos olhos das crianças, tive a consciência de que não quero ter filhos, para que eu não sofra com a perda deles em Gaza”. 

Hossam al-Shami, de 37 anos, disse que ele e sua família fugiram do seu apartamento alugado perto do prédio da televisão quando os ataques aéreos se aproximaram. A casa deles ficou muito danificada. 

“Espero que esta tragédia não volte a ocorrer. Estou procurando um novo lar para morar”, disse ele, acrescentando: “Não há lugar seguro”. 

Após interromper uma viagem ao exterior e retornar a Israel, Netanyahu permaneceu visivelmente silencioso. Moradores das cidades do sul de Israel, forçados a permanecer em ambientes fechados e próximos a áreas protegidas, expressaram revolta por que uma solução diplomática de longo prazo para as contínuas rodadas de hostilidades não tenha sido encontrada. 

Centenas de moradores da cidade de Sderot, no sul de Israel, protestaram na noite de terça-feira contra o cessar-fogo e Netanyahu. 

“Acho que é hora de o exército entrar e limpá-los, limpar todo o lugar”, disse Shabtai Biran, morador de Ashkelon, uma cidade litorânea a poucos quilômetros da ponta norte da faixa de Gaza. “Há inocentes aqui que estão se machucando”. 

Um morador de seu bairro, Shimshon, foi morto e duas mulheres ficaram gravemente feridas quando um foguete atingiu um prédio de apartamentos de três andares. O homem era um palestino de Hebron. 

Pressão popular

Durante todo o dia, um fluxo constante de políticos israelenses chegou à região. Alguns foram mais bem-vindos do que outros. Tzipi Livni, líder da oposição e ex-negociador de paz, foi expulso por moradores revoltados em Shimshon. Tamar Zandberg, chefe do partido de esquerda Meretz, também recebeu uma recepção fria. Ela disse que a situação estava insustentável para Israel e para os moradores do sul em particular. 

“O problema é que o primeiro-ministro está sempre buscando soluções de curto prazo. Embora eu apoie soluções de curto prazo, elas precisam fazer parte de um processo mais longo”, disse Zandberg. “Acho que, assim que houver um cessar-fogo, tudo precisa ser feito para se chegar a um processo de paz mais amplo”. 

Alguns membros da coalizão de Netanyahu estão pressionando por uma ação mais decisiva. O ministro da Educação de Israel, Naftali Bennett, líder do partido de direita Jewish Home, criticou as tentativas de fechar um acordo com o Hamas. Na terça-feira, depois que notícias de Israel informaram que Bennett tinha apoiado um cessar-fogo, seu gabinete divulgou um comunicado descrevendo-as como “completamente falsas”. 

“No gabinete, o ministro Bennett apresentou sua posição expressa nos últimos meses e seu plano de enfrentar a ameaça de Gaza”, disse o seu escritório. 

Mas Kobi Michael, analista do Instituto de Estudos de Segurança Nacional, disse que o público, o setor de segurança e os políticos israelenses estão em grande parte por trás dos esforços para chegar a uma trégua com o Hamas. 

“Israel não tem nenhuma opção”, disse ele. Ele observou que a Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia ocupada, não deve retomar o controle em Gaza. “A consequência é o reconhecimento do Hamas como o poder no controle da faixa de Gaza”, disse ele. 

Michael disse que a principal ameaça para o alcance de uma trégua vem da Jihad Islâmica, que se posicionou para se beneficiar da fraqueza do Hamas em meio à crescente infelicidade entre os dois milhões de residentes de Gaza. Os moradores de Gaza enfrentam severas restrições de comércio e viagens por Israel há mais de uma década, e a fronteira com o Egito é aberta apenas esporadicamente. 

Desde o início deste ano, o Hamas desviou parte do descontentamento interno para Israel, incentivando manifestações semanais ao longo da fronteira. Autoridades israelenses dizem que o Hamas usou os protestos na fronteira como cobertura para realizar ataques e se infiltrar no território israelense. 

Em Gaza, alguns foram às ruas na terça-feira para comemorar depois que o cessar-fogo foi anunciado. Um comício foi realizado perto do prédio da televisão para marcar a “vitória” contra Israel. 

Mas acordos de cessar-fogo anteriores duraram pouco e, em cidades israelenses como Ashkelon, as frustrações estão aumentando. 

“Não é certo que estejamos sentados aqui assustados. São eles que devem ter medo”, disse Biran, morador de Ashkelon, referindo-se ao Hamas.

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