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Jamal Khashoggi, colaborador do Washington Post, morto no dia 2 no consulado saudita em Istanbul | MOHAMMED AL-SHAIKH/AFP
Jamal Khashoggi, colaborador do Washington Post, morto no dia 2 no consulado saudita em Istanbul| Foto: MOHAMMED AL-SHAIKH/AFP

A Arábia Saudita confirmou a morte do jornalista Jamal Khashoggi no consulado do país em Istambul, na Turquia. Segundo a CNN, um anúncio foi feito na televisão estatal saudita. Proeminente crítico do regime saudita e colaborador do Washington Post, compareceu ao consulado de Istambul em 2 de outubro para resolver questões burocráticas e nunca mais foi visto. A Turquia acusou Riad pelo crimes, mas as autoridades sauditas negam.

Khashoggi tinha marcado horário na representação diplomática para tirar documentos para se casar. O governo saudita chegou a dizer que ele deixou o edifício, mas sua noiva, que o acompanhava, afirma que ele nunca saiu de lá.

O ex-editor de jornal e consultor do ex-chefe de inteligência de seu país, deixou seu país em 2017 dizendo temer uma retaliação por suas crescentes críticas à política saudita na guerra do Iêmen e à repressão às divergências. Riad promove uma campanha de modernização desde que o príncipe Mohamed bin Salman foi designado herdeiro ao trono, em 2017. Mas a repressão aos dissidentes, com detenções de religiosos, personalidades liberais e de ativistas feministas, se acentuou desde então.

O que diz a Arábia Saudita

A televisão saudita informou que discussões entre o jornalista e pessoas que ele encontrou no consulado acabaram em uma briga que resultou na morte do colaborador do Washington Post.  "As discussões entre Jamal Khashoggi e aqueles com quem ele se reuniu no consulado do reino em Istambul degeneraram para uma briga corporal, levando à sua morte", informou a agência de notícias saudita (SPA).

Autoridades turcas dizem que Khashoggi foi morto por um grupo de 15 sauditas depois que ele entrou na representação diplomática. Vários desses supeitos têm ligações próximos com as forças de segurança da Arábia Saudita. 

O anúncio marca a primeira vez que autoridades sauditas reconhecem que Khashoggi foi morto dentro do consulado. Antes, autoridades sauditas disseram repetidamente que ele deixou o consulado vivo e que eles não tinham informações sobre seu paradeiro ou destino.

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O país implantou uma comissão para investigar a morte de Khashoggi e tem o prazo de um mês para emitir um relatório. Ele será formada por funcionários da área de segurança nacional, do Ministério do Exterior e do Ministério do Interior.  Também foi informado que o rei Salman ordenou a criação de um comitê ministerial, chefiado pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, para reestruturar a agência geral de inteligência do país. 

O governo saudita disse que demitiu dois funcionários de alto escalão e prendeu 18 pessoas como resultado da investigação inicial. Os demitidos incluem Saud al-Qahtani, conselheiro do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, e o vice-chefe de inteligência, major-general Ahmed al-Assiri. 

As investigações turcas

Na manhã desta sexta, promotores turcos interrogaram funcionários do Consulado da Arábia Saudita, informou a mídia estatal, sugerindo tentativas de estabelecer um processo criminal. A tomada de depoimento ocorre um dia depois que as autoridades turcas começaram a vasculhar áreas arborizadas fora de Istambul em uma aparente busca pelos restos mortais do jornalista. 

A imprensa turca afirma que teve acesso a áudios nos quais os assassinos de Khashoggi o torturam antes de esquartejá-lo, dentro do consulado e na presença do cônsul-geral. 

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A polícia da Turquia também informou que 15 agentes da inteligência saudita haviam entrado e deixado Istambul no dia 2 de outubro que estiveram no consulado no mesmo momento que o jornalista. 

Nesta sexta, investigadores realizam uma operação de busca em uma floresta de Istambul e em uma zona rural próxima à cidade.Eles afirmaram ter obtido "muitas amostras" das buscas no consulado e na residência do cônsul-geral saudita e dizem que vão tentar identificar traços do DNA de Khashoggi.

A reação americana

Em comunicado, a Casa Branca afirmou que está ciente do anúncio do governo saudita "de que a investigação está progredindo" e diz que vai continuar "seguindo de perto as investigações internacionais sobre o trágico incidente" e pedir por justiça.

Na noite de quinta-feira (18), o presidente dos EUA, Donald Trump, havia afirmado que "certamente parece" que o jornalista está morto e que a Arábia Saudita terá de sofrer "severas" consequências se isso for confirmado. 

A fala de Trump aconteceu após ele se encontrar com o secretário de Estado, Mike Pompeo, que acabou de voltar de viagem a Riad, onde se reuniu com autoridades sauditas para tratar do assunto. 

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Trump tem sido criticado por não condenar o desaparecimento do jornalista de forma incisiva e de manter uma postura benevolente em relação aos aliados árabes. 

Na última terça-feira (16), a Arábia Saudita transferiu para contas do governo dos EUA US$ 100 milhões (R$ 369 milhões), informaram os jornais americanos New York Times e Washington Post. 

O dinheiro havia sido prometido por Riad ao governo de Donald Trump como contribuição aos esforços americanos de estabilizar áreas da Síria liberadas do grupo terrorista Estado Islâmico.

CRONOLOGIA DO DESAPARECIMENTO
  • 2.out O jornalista entra no consulado da Arábia Saudita em Istambul e não sai de lá 
  • 6.out Investigadores turcos dizem que principal hipótese é de assassinato 
  • 8.out Turquia pede acesso ao prédio; Riad aceita, mas países divergem sobre condições 
  • 9.out Começa boicote de empresas e jornalistas a eventos de sauditas 
  • 10.out Imprensa divulga imagens de sauditas vindos ao país no dia do sumiço 
  • 12.out Turquia diz ter gravações do homicídio e esquartejamento do jornalista 
  • 17.out Policiais turcos fazem buscas na casa do cônsul saudita em Istambul, que teria testemunhado a ação 
  • 19.out A TV estatal saudita Ekhbaria confirma a morte do jornalista
Mais informações em breve
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