Montevidéu - Os argentinos são "totalmente irracionais, têm "reações de histéricos, loucos, paranoicos. Néstor e Cristina Kirchner, que comandam a Argentina desde 2003, são "gângsters, os ruralistas, "burros, e o ex-presidente Carlos Menem (1989-99) é "mafioso e "ladrão.
Essa é a opinião do candidato favorito à Presidência do Uruguai, José "Pepe Mujica, expressada no livro "Pepe, Colóquios, recém-lançado, cujo conteúdo alvoroçou as relações já desgastadas do Uruguai com a vizinha Argentina e esquentou a campanha para a eleição de 25 de outubro.
Em entrevistas concedidas este ano ao autor do livro, o candidato esquerdista que vem guinando ao centro para atrair eleitores conservadores disse ainda que "a Argentina não chegou ao nível da democracia representativa e a institucionalidade (do país)não vale porra nenhuma.
As declarações, publicadas pela imprensa uruguaia ontem, constrangeram aliados e se transformaram em armas da oposição, que durante a campanha vem acusando Mujica um ex-guerrilheiro Tupamaro de irresponsável, despreparado e radical.
Ontem, Mujica disse que as palavras divulgadas foram tiradas de seu contexto, mas reafirmou dizendo que falou aquilo "que o povo argentino diz por todo o canto. "Eu digo o que penso, não escondo nada. Por que é preciso maquiar tudo?
Sobre o constrangimento em relação a Cristina Kirchner, com quem se encontrou na semana passada, o candidato disse que a presidente está acostumada com a deturpação do que se diz e ontem entrou em contato para tranquilizá-lo e dizer que "não se preocupasse.
O conteúdo do livro, que já é raro nas livrarias de Montevidéu, deixa ainda mais tensa a relação entre os países vizinhos, estremecida desde 2005, quando os governos discordaram sobre a instalação de uma indústria papeleira finlandesa à margem do rio Uruguai, que divide os países.
A Argentina levou o caso para a Corte Internacional de Justiça, onde o processo está em fase final, argumentando que a fábrica polui o rio e que a decisão do Uruguai em licenciar unilateralmente a indústria é ilegal.
Estupidez
O presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, correligionário de Mujica, disse, desde Nova Iorque, discordar das palavras usadas por ele e que "algumas são simplesmente estupidez. Tanto Mujica como Vázquez integram a coalizão Frente Ampla, formada por setores de esquerda e de centro. Mais moderado, o presidente não queria Mujica como concorrente à sucessão, entre outros motivos pelo perfil verborrágico.



