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O artista Kehinde Wiley com "Judite Decapitando Holofernes | Chad Batka para The New York Times
O artista Kehinde Wiley com "Judite Decapitando Holofernes| Foto: Chad Batka para The New York Times

Kehinde Wiley começou a pensar muito tempo atrás nos estereótipos que atingem os homens negros. "Eu sei como os jovens negros são vistos", disse ele em seu ateliê no Brooklyn.

"São meninos, muitas vezes assustados. Eu fui um deles."

Hoje com 37 anos, Wiley, que cresceu em Los Angeles, é um dos mais celebrados pintores de sua geração. Ele é conhecido por retratos vibrantes, baseados em fotos, de rapazes negros (às vezes mulheres) que são o oposto de assustados.

Wiley tem ateliês na China e no Senegal, além de Nova York. Homossexual, filho de mãe afro-americana e pai nigeriano, ele constitui um modelo do artista como itinerante multicultural.

Atualmente, o trabalho de Wiley é visto no seriado de sucesso na televisão "Empire", e sua primeira exposição retrospectiva em museu será inaugurada no Museu do Brooklyn em 20 de fevereiro, seguindo mais tarde para museus em Fort Worth (Texas), em Seattle (Washington) e em Richmond (Virgínia).

É fácil reconhecer uma pintura de Wiley. Com frequência, ela mostra uma figura solitária, um homem atraente de seus 20 anos, fazendo um personagem pintado por um antigo mestre.

Com roupas contemporâneas, o homem pode estar atravessando os Alpes suíços a cavalo, com o brio de um Napoleão, ou olhando para o alto, no estilo profeta, com uma luz dourada ao redor da cabeça. Sua pose é majestosa: o peito aberto, a cabeça ligeiramente erguida para revelar a curva do maxilar.

Cada quadro de Wiley é um estudo de contrastes —as figuras masculinas contrastam acentuadamente com os fundos cobertos de desenhos ornamentais.

Baseado em fontes tão variadas quanto os papéis de parede vitorianos e as tapeçarias do Renascimento, os fundos às vezes parecem milhares de pétalas de flores sopradas em formas geométricas pela tela.

Os apreciadores de Wiley tendem a ver sua obra em termos claramente políticos. Ele retifica a ausência de rostos não brancos nas obras-primas, "usando o poder das imagens para remediar a histórica invisibilidade dos homens e mulheres negros", como observou a curadora da retrospectiva do museu, Eugenie Tsai.

Mas você também pode ler seu trabalho em termos psicológicos, e o próprio Wiley enfatiza a tensão interminável nas pinturas entre seus aspectos masculinos e femininos. "É sobre uma figura na paisagem", disse ele sobre sua produção, acrescentando que os fundos simbolizam a terra. "Para mim, a paisagem é o irracional. A natureza é a mulher. A natureza é o negro, o marrom, o outro."

O artista disse que não conheceu seu pai na infância ou sequer viu uma foto dele. A mãe do pintor, Freddie Mae Wiley, natural do Texas, estudou linguística e se tornou professora. Kehinde foi o quinto de seus seis filhos e tem um gêmeo. Ele contou que durante a maior parte de sua infância a família subsistiu com benefícios da assistência social. Wiley estudou no Instituto de Arte de San Francisco e depois ganhou uma bolsa para a Universidade Yale, em Connecticut. Chegou a Nova York em 2001 como artista residente no Studio Museum, no Harlem.

Desde então, Wiley faz pinturas com um "elenco de rua": procurou seus modelos primeiro no Harlem e depois, quando ganhou mais dinheiro, no exterior, na China, em Israel e outros lugares.

Wiley delega grande parte de sua produção a assistentes, tanto que já foi acusado de terceirizar toda a sua produção. Ele admitiu que os assistentes geralmente cuidam dos fundos, cheios de detalhes. "Vamos encarar: eu não faço tudo aquilo", disse.

Depois que o fundo fica pronto, ele começa a trabalhar a figura, o rosto delicadamente erguido e o corpo, que ele parece considerar o centro de seu trabalho. Encontrar os tons certos de pele, especialmente negra e mulata, é um processo sutil, e, olhando de perto um trecho de rosto ou de testa em seus quadros, você provavelmente notará uma série de azuis-índigo e vermelhos-alaranjados.

Mesmo assim, suas superfícies têm finas camadas de tinta, e ele fala com desprezo sobre a tradição expressionista de pinceladas visíveis. "Meu trabalho não é sobre a tinta", disse.

"É sobre a tinta a serviço de outra coisa. Não tem a ver com a abstração machista e melada dos anos 1950, que permite que a tinta se acumule na superfície como se fosse o tema da pintura."

Quer trabalhe em óleo ou em aquarela, Wiley utiliza a mesma estratégia de inserir figuras de pele escura em antigas obras-primas muito brancas.

"Estou interessado na evolução interna do meu pensamento", disse ele. "Não estou interessado na evolução da minha pintura. Se eu fizesse pinturas espessas, amanteigadas, haveria críticas. Você apenas tem de seguir adiante."

Para ser justo, ele ainda tem apenas 37 anos, o que é jovem para um artista. Faria mais sentido falar sobre sua evolução quando ele tiver 60 ou 70.

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