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Islamofobia

Atentados em Paris complicam a situação de muçulmanos na Europa

Desde as mortes no Charlie Hebdo, 26 locais de culto na França foram atacados por bombas, disparos ou cabeças de porco

Manifestantes em ato no Mali seguram cartaz que diz: "Não sou Charlie nem terrorista. Pelo fim do Charlie. Sou muçulmano. Longa vida ao Islã" | Joe Penney/Reuters
Manifestantes em ato no Mali seguram cartaz que diz: "Não sou Charlie nem terrorista. Pelo fim do Charlie. Sou muçulmano. Longa vida ao Islã" (Foto: Joe Penney/Reuters)
Para Marine Le Pen, atentados foram vingança contra xenofobia |

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Para Marine Le Pen, atentados foram vingança contra xenofobia

Bombas incendiárias e cabeças de porco jogadas em mesquitas. Mulheres que usam véu insultadas nas ruas. A internet varrida por uma onda de insultos e ameaças. Os muçulmanos europeus estão sentindo na pele as reações aos atentados contra o jornal satírico francês Charlie Hebdo.

De acordo com Abdallah Zekri, diretor do Observatório Nacional Contra a Islamofobia, da França, desde o ataque ao jornal, em 7 de janeiro, 26 locais de culto em toda a França foram atacados por bombas incendiárias, disparos ou cabeças de porco. Uma mesquita foi atingida por quatro granadas. Foram registrados 34 insultos e ameaças.

Os três dias de terror em Paris mataram 17 pessoas e traumatizaram um continente inteiro. Autoridades correm para alertar o país sobre o risco de associar os muçulmanos aos terroristas.

"A religião desses extremistas não é o Islã, que eles estão traindo. É a barbárie", afirmou o ministro de Relações Exteriores da França, Laurent Fabius. Ele também pediu para que não seja usado o termo "islamita" para identificar os atiradores.

Em uma carta enviada à imprensa francesa, a mãe e as irmãs de Amedy Coulibaly, o homem que atacou um mercado kosher, prestaram condolências às vítimas e afirmaram que "não pode haver mistura entre esses atos odiosos e a religião muçulmana".

Ainda assim, muitos muçulmanos e especialistas acreditam ser inevitável que a desconfiança cresça depois dos ataques, mesmo que a marcha pela unidade realizada no último domingo, descrita como a maior da história francesa, tenha contado com a participação de muitos fiéis do Islã.

Na França, os muçulmanos veem crescer as animosidades desde os ataques de 2012, quando Mohamed Merah matou três crianças numa escola judaica, um rabino e três soldados paraquedistas. Desde então, incidentes anti-Islã e antissemitas vêm aumentando na França, país que abriga as maiores comunidades de ambas as religiões do continente.

"Para os muçulmanos, é difícil viver neste clima de islamofobia, de agressões contra locais de culto", afirmou em um comunicado Dalil Boubakeur, presidente do Conselho Muçulmano na França.

O estado de alerta na França, com o envio de 10 mil soldados para as ruas, pode aprofundar a sensação de cerco na população muçulmana.

As autoridades francesas há muito alertam que o país se tornou um dos alvos preferidos dos extremistas. A França expulsou a Al-Qaeda do norte do Mali e agora ajuda os Estados Unidos a realizar ataques aéreos contra posições do grupo extremista Estado Islâmico no Iraque. Ambas as organizações fizeram ameaças à França.

Atentados também afetam islamitas de outros países

Os atentados de Paris também tiveram efeitos em outros países. Na Holanda, grupos muçulmanos e governo mantêm contato desde o dia 9 e pretendem registrar incidentes contra muçulmanos no país. Um objeto em chamas foi jogado em uma mesquita em Vlaardingen, nos arredores de Roterdã.

"Todos estão desconfortáveis, sentindo-se ameaçados, porque estão com medo de serem estigmatizados", afirma Imade Annouri, deputado do Partido Verde da Bélgica para a região de Flandres e especialista em questões de integração.

Monitoramento

O Tell Mama, um grupo britânico que monitora atentados anti-Islã, contabilizou entre 50 e 60 casos de ameaças feitas pela internet a indivíduos específicos no fim de semana que se seguiu aos ataques de Paris.

"O volume de ameaças é inacreditável", afirmou o diretor da organização, Fiyaz Mughal. Ele teme que ameaças feitas pela internet possam se transformar em ataques reais no futuro.

Mohamed Ali Adraoui, pesquisador do Instituto Universitário Europeu, acredita que o ódio ao Islã pode se transformar em um ataque a uma mesquita na França ou em outro lugar do continente.

"Se você consegue fazer aquilo no escritório do Charlie Hebdo, pode atacar uma mesquita", afirma.

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