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Guarda Nacional Venezuelana vigia três laboratórios de cocaína desmantelados em operação militar na Serra Perija, na região de Zulia
Guarda Nacional Venezuelana vigia três laboratórios de cocaína desmantelados em operação militar na Serra Perija, na região de Zulia| Foto: EFE/Manaure Quintero

Os resultados de um novo relatório produzido pela ONG Transparência Venezuela, que monitora dados sobre violência e atividades criminosas no país, revelam que a ditadura de Nicolás Maduro tem falhado em combater as ações do crime organizado. Pelo contrário, atores ligados a instituições públicas muitas vezes até facilitam a atuação desses mercados ilegais.

Os números colhidos pela organização mostram que apenas quatro atividades ilícitas geram um rendimento equivalente a 15% da economia de toda a nação. São elas o contrabando de minerais, o tráfico de drogas, a corrupção em portos e aeroportos e o contrabando de combustíveis, que totalizaram US$ 9,4 bilhões (R$ 46,5 bilhões) em 2022, mais de 15% do Produto Interno Bruto (PIB) da Venezuela.

O Índice de Economias Ilícitas, como é nomeado o documento, elencou alguns fatores que contribuíram para a prevalência dos novos negócios criminosos durante o período de análise. O estudo utilizou quatro categorias para a observação: a vulnerabilidade das instituições estatais, dos agentes criminosos, o alcance das economias criminosas e o impacto que esses crimes têm na sociedade.

O relatório deu particular destaque para a fraqueza das instituições públicas, incluindo diretamente o regime chavista, as forças de segurança e o sistema judicial, que teriam permitido o crescimento do crime organizado. Numa pontuação de 0 a 3, definida pelos organizadores dos dados, a categoria foi classificada com nota 2,69, sendo o número máximo - 3 - considerado a pior pontuação, o que torna visível o profundo impacto das redes do crime no controle da sociedade e da estrutura institucional do Estado.

Para a avaliação, foram analisados os níveis de corrupção entre funcionários do regime, a transparência na publicação de informações sobre questões criminais, a cooperação internacional, o sistema judicial do país e as suas forças de segurança. Segundo o relatório, essas partes contribuem significativamente para a continuidade das economias criminosas do país.

Um exemplo de casos nesse sentido, fornecido pela ONG Insight Crime, que monitora o crime organizado na América Latina, foi a Operação Relâmpago Catatumbo, que entre 2022 e 2023 teve como objetivo expulsar grupos armados que ocupam território no estado de Zulia, próximo à fronteira com a Colômbia, onde controlam as rotas do tráfico de drogas.

Embora a ação policial tenha resultado em múltiplas apreensões de cocaína, houve poucas detenções ou confrontos que sugerissem o enfraquecimento dos grupos envolvidos. Em alguns casos, as megaoperações destinadas a combater facções até à expansão dos mesmos crimes, como aconteceu com os moradores do estado de Guárico, que reclamaram que as forças de segurança começaram a extorqui-los durante a Operação Trueno, cujo intuito era eliminar gangues de extorsão da região.

As alianças entre redes criminosas e pessoas que ocupam cargos em instituições estatais foram responsáveis pela criança de economias híbridas, como o tráfico de sucata ou o contrabando de combustível, nas quais os negócios legais e ilegais se sobrepõem.

Os organizadores do documento ainda observaram que não há nenhuma disposição de entidades governamentais e agências de segurança do país para facilitar o apoio internacional no desenvolvimento de investigações relacionadas ao crime organizado. Somado a isso, o sistema judicial venezuelano possui capacidades e recursos muito limitados para responder a reclamações, iniciar investigações
ou sancionar envolvidos em atividades criminosas.

O relatório divide a diversidade de atores ligados ao crime na Venezuela em três subgrupos: as “organizações criminosas”, que incluem as maiores gangues do país, como o Trem de Aragua; os "grupos guerrilheiros", formados por duas organizações de origem colombiana, o Exército de Libertação Nacional ( ELN ) e a ex-máfia das FARC; e os "facilitadores", figuras como advogados e banqueiros que permitem a operação destes grupos.

Embora tanto as organizações criminosas como os grupos guerrilheiros tenham obtido a mesma classificação em termos de liderança definida, ligação com o Estado e uso da violência, a Transparência Venezuela considerou que as gangues são a principal ameaça devido ao maior controle territorial que possuem.

Em relação às economias ilícitas que geram receitas de até 15% do PIB do país, o documento deu destaque para os estados de Zulia, com suas múltiplas gangues de extorsão, e Bolívar, onde operam gangues de mineração como a Organização R.

Outras regiões não mencionadas no índice também enfrentam desafios com o crime organizado, como o estado de Guárico, onde o Tren del Llano exige pagamentos de extorsão aos trabalhadores agrícolas.

Embora seja difícil mensurar com exatidão ​as economias criminosas, os investigadores estimaram o valor com base em fatores objetivos, como a produção total estimada de ouro, apreensões de drogas, preços e produção de combustíveis e inquéritos relacionados com a extorsão.

A mineração ilícita de ouro é considerado o setor mais importante entre as atividades analisadas, à frente do tráfico de drogas, do contrabando de combustível, do tráfico de seres humanos e da extorsão. No entanto, no último ano, o tráfico de drogas gerou quase três vezes mais receitas.

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