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violência

Autoridades indianas tratam vítimas de estupro como criminosas

Documentário que será exibido neste Dia Internacional da Mulher, em vários lugares do mundo, mostra como cultura do abuso sexual se dissemina

Membros de associação de jornalistas indianos protestam após estupro de uma jornalista de 22 anos, em agosto de 2013. | Utpal Baruah/Reuters
Membros de associação de jornalistas indianos protestam após estupro de uma jornalista de 22 anos, em agosto de 2013. (Foto: Utpal Baruah/Reuters)

Quando um assassino condenado afirma que a mulher que ele e mais cinco homens estupraram brutalmente em um ônibus de Nova Déli é a responsável pelo que aconteceu com ela, seu comentário choca pela frieza e falta de remorso. Mas esse ponto de vista tem grande aceitação na Índia.

Centenas de milhões de homens indianos aprendem que é correto culpar as mulheres pelo estupro que sofrem.

E a conduta para as mulheres da Índia é simples: vista-se de forma modesta, não saia à noite, não vá para boates e bares, não saia na rua sozinha. Se você não age de acordo com essa conduta, você será culpada pelas consequências.

Quando um dos quatro homens condenados à morte pelo estupro coletivo no ônibus que causou furor na Índia em 2012 declarou em um documentário sobre o caso em que “a mulher é muito mais responsável pelo estupro do que o homem”, ele repetiu os que dizem diversos líderes comunitários e religiosos de 1,2 bilhão de indianos.

“Uma mulher decente não vaga pelas ruas às 9h da noite [...] trabalhos domésticos são para mulheres, não ficar indo em bares e boates fazendo coisas erradas, usando roupas erradas”, disse Mukesh Singh, que dirigia o ônibus enquanto a jovem era violentada, em depoimento no documentário “Filha da Índia” (India’s Daughter), que deve ser exibido na Índia e em diversos países neste domingo, dia Internacional da Mulher.

O governador do estado de Haryana, Manohar Lal Khattar, não tem um discurso muito diferente: “Se uma mulher está decentemente vestida, um homem não vai olhar para ela de uma maneira suspeita”, disse Khattar à repórteres. “A liberdade deve ser limitada. Essas roupas curtas são influências do Ocidente. A tradição do nosso país requer que as mulheres se vistam de forma adequada.”

Comunidade

O estuprador afirma que apenas o que ouviu dos líderes de sua comunidade, disse Jagmati Sangwan, ativista dos direitos das mulheres que comanda a Associação Feminina All India Democratic. “Esse homem segue o exemplo que nossos governantes dão para os jovens”, observa.

Em 2009, quando um grupo radical de direita atacou uma mulher em um bar, o então ministro-chefe, B.S. Yeddyurappa, disse que queria “acabar com o hábito de meninos e meninas passearem de mãos dadas nos shopping s”.

“Sozinha até às 3h da madrugada, em uma cidade na qual as pessoas...você sabe...não dá para se arriscar”, ela disse à repórteres. Esse tipo de comentário, Sangwan escuta com frequência. “É um pensamento abominável, mas é o que pensam nosso líderes religiosos, comunitários, políticos”, lamenta a ativista.

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