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Presidente americano havia chamado Arábia Saudita de “pária” e negado relações diretas com o príncipe herdeiro MBS, mas confirmou esta semana que irá se encontrar com ele em julho
Presidente americano havia chamado Arábia Saudita de “pária” e negado relações diretas com o príncipe herdeiro MBS, mas confirmou esta semana que irá se encontrar com ele em julho| Foto: EFE/EPA/MICHAEL REYNOLDS

Durante sua campanha para a presidência dos Estados Unidos, Joe Biden chamou a Arábia Saudita de “pária” e anunciou que faria mudanças na relação entre os dois países. Depois de vencer a disputa com Donald Trump, pregou evitar relações diretas com o príncipe herdeiro Mohammad bin Salman (conhecido como MBS).

O presidente descartava ter MBS como interlocutor pela suposta responsabilidade deste na morte do jornalista saudita Jamal Khashoggi, assassinado em outubro de 2018 dentro do consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia.

Nesta semana, os dois países informaram que Biden viajará para a Arábia Saudita em julho e se reunirá com MBS. A mudança de postura tem constrangido aliados e gerado acusações de traição contra Biden.

A viagem incluirá também uma visita a Israel, a primeira de Biden como chefe de Estado, e à Cisjordânia, de acordo com informações divulgadas pelo governo americano, em comunicado.

Khashoggi residia nos Estados Unidos e era colunista do jornal The Washington Post. Depois de entrar no prédio da missão diplomática - onde buscava documentação para poder se casar com Hatice Cengiz -, nunca mais saiu.

Em outubro do mesmo ano, o procurador-geral da Turquia, Irfan Fidan, concluiu que, após entrar no consulado, o jornalista foi assassinado por asfixia e teve o corpo desmembrado. O governo da Arábia Saudita admitiu que agentes do Estado mataram Khashoggi, mas nunca deu informações sobre investigação e julgamento.

Órgãos de inteligência dos EUA concluíram que MBS ordenou o assassinato do jornalista, mas o príncipe herdeiro sempre negou envolvimento no caso.

Após a confirmação da viagem de Biden à Arábia Saudita, o senador democrata Dick Durbin, de Illinois, disse à CNN que, embora o presidente “tenha a tarefa difícil de lidar com os preços da gasolina e tentar arranjar maneiras de encontrar novas fontes e suprimentos para reduzir a inflação no setor de energia”, o parlamentar tem “sentimentos contraditórios” sobre a visita. Ele classificou o histórico saudita em direitos humanos como “ultrajante”.

Já o ativista de direitos humanos saudita Hala al-Dosari disse à Associated Press que o encontro de Biden com MBS será “uma traição”. Ele também criticou a decisão de visitar Israel num momento em que ainda está sendo investigada a morte da jornalista palestina de cidadania americana Shireen Abu Akleh, morta em maio na Cisjordânia. Os palestinos alegam que ela foi baleada por forças israelenses.

Al-Dosari acusou o governo Biden de “priorizar interesses imediatos em detrimento de objetivos de longo prazo de apoiar transições democráticas” em países árabes e “os interesses imediatos de garantir mais petróleo e apoio a Israel”.

Em entrevista coletiva, a secretária de Imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse que as exportações de petróleo são apenas um dos temas a serem discutidos na visita de Biden à Arábia Saudita em julho.

“A Arábia Saudita é parceira estratégica dos Estados Unidos há quase 80 anos. E não há dúvida de que interesses importantes estão entrelaçados com a Arábia Saudita, principalmente a recente extensão da trégua no Iêmen, que salvou inúmeras vidas”, afirmou Jean-Pierre.

A secretária desconversou, entretanto, quando perguntada se Biden deve falar diretamente sobre a morte de Khashoggi no encontro com MBS.

“Como você sabe, os direitos humanos sempre fazem parte da conversa em nossos compromissos no exterior. Então será sempre assim, independente de com quem ele [Biden] está se encontrando. O que eu quero dizer é que não estamos ignorando nenhuma conduta que aconteceu antes da posse do presidente. Emitimos um extenso relatório sobre Khashoggi e emitimos o chamado Khashoggi Ban”, afirmou, citando uma medida que permite ao Departamento de Estado americano negar visto a pessoas que, agindo em nome de um governo estrangeiro, estejam diretamente envolvidas em atividades contradissidentes extraterritoriais sérias.

Em seguida, porém, Jean-Pierre acrescentou: “É importante também enfatizar que, enquanto colaboramos e recolaboramos (sic) relacionamentos, não estamos procurando romper relacionamentos também”.

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