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O presidente americano Joe Biden fala à imprensa sobre a guerra na Ucrânia
O presidente americano Joe Biden fala à imprensa sobre a guerra na Ucrânia| Foto: EFE

O objetivo do discurso do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sobre o Estado da União na terça-feira: redefinir sua presidência, depois de um dos piores mandatos da história americana. Missão não cumprida.

Quão ruim foi 2021? As omissões de Joe Biden no discurso foram reveladoras. Ele não mencionou a retirada catastrófica do Afeganistão no ano passado. O médico Anthony Fauci, que tanto deu as caras na pandemia, não foi citado. O plano de que Biden tanto falava, o chamado Build Back Better [“construir de novo e melhor”, em tradução livre], de investimento na produção nacional, nem passou pelos lábios do presidente durante o discurso.

Em vez disso, ele falou sobre “construir uma América melhor” – sutil, eu sei. Biden se concentrou na invasão da Ucrânia pela Rússia, em um par de sucessos legislativos dele e numa série de propostas que têm poucas chances de aprovação pelo Congresso dividido em ano eleitoral.

Os dois principais projetos de lei que ele sancionou não custaram pouco. O Plano de Resgate Americano, de US$ 2 trilhões, foi uma expansão maciça do governo. Muitos economistas acreditam que ela ajudou a alimentar a inflação que assola a economia dos Estados Unidos.

Outro projeto de autoria do governo Biden, a Lei de Infraestrutura Bipartidária, de US$ 1 trilhão, prejudicou o apoio legislativo à lei Build Back Better, de US$ 4 trilhões, que o senador Joe Manchin declarou morta em dezembro do ano passado.

Pelo discurso de Biden, não dá pra dizer que esse projeto realmente acabou. O presidente repetiu as mesmas propostas de que falou o ano todo, sem citar o nome “Build Back Better”. Mas o plano de Biden tem ainda menos chances de ser aprovado em 2022 do que teve no ano passado.

Uma longa parte do discurso do presidente dos Estados Unidos foi direcionada à base democrata dele, que não será suficiente para salvar o desanimador índice de aprovação de Biden. Muito menos resgatará os democratas do bombardeio que os espera em novembro. Com exceção das máscaras e do retorno de funcionários federais aos prédios de escritórios, o presidente democrata não deu sinais de mudar de rumo na agenda progressista.

A invasão da Ucrânia pela Rússia é um ponto de virada histórico. O momento exige uma séria reavaliação da atual política energética, dos níveis de gastos com defesa, do armamento estratégico e do controle de armas. Biden não deu nenhuma indicação de que está pronto para focar nisso. Mas ele deu todos os sinais de que sua maior preocupação é perder ainda mais eleitores democratas, que não gostam de seu estilo de liderança e estão descontentes com a inflação e os rumos do país.

Mais uma evidência de que Biden está ciente de sua impopularidade foi a menção à crise na fronteira sul. "Precisamos proteger a fronteira e consertar o sistema de imigração". Em seguida, ele delineou políticas que pouco farão para impedir o fluxo de imigração ilegal e uma reforma da imigração que, certamente, não será aprovada no Congresso até o fim do mandato.

Todo o discurso teve essa cara de sonho: Biden desenhou uma agenda que um presidente popular com maiorias substanciais no Congresso teria dificuldade de transformar em lei. Sendo que, na verdade, Biden é um presidente impopular com as maiorias parlamentares mais restritas do século.

Ele começou e terminou o discurso com gestos em direção à unidade nacional, invocando a Ucrânia e o perigo da Rússia. Terminou com apelos para enfrentar a crise e ajudar os veteranos. A maior parte do discurso foi uma lista de desejos democratas, divorciada da realidade política e eleitoral.

Se Biden quiser transformar a presidência, as condições no país e no mundo precisam mudar. Para que isso aconteça, porém, ele deve reorientar sua agenda. O Estado da União demonstrou que Biden não tem interesse em fazê-lo. Talvez em novembro mude de ideia.

©2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

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