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Computação

Biologia inspira um futuro para a inteligência artificial

Princípios biológicos ganham cada vez mais espaço como ferramenta na computação, em parte graças a avanços na neurociência

 | Gilberto Yamamoto
(Foto: Gilberto Yamamoto)

A metáfora biológica já existia no princípio da computação moderna, nos anos 1940. Os primeiros computadores – monstros do tamanho de salas inteiras – eram chamados de "cérebros gigantes" ou "cérebros eletrônicos" nas manchetes e conversas do cotidiano.

Conforme os computadores foram sendo aperfeiçoados e se tornaram capazes de algumas tarefas familiares aos humanos, como jogar xadrez, o termo usado passou a ser "inteligência artificial".

Na maior parte, a metáfora biológica tem sido somente isso – uma analogia simplificante em vez de uma plano esquemático sobre como trabalhar com computação. A engenharia, não a biologia, tem guiado a busca por inteligência artificial.

No entanto, os princípios da biologia estão ganhando espaço como ferramenta na computação. A mudança de pensamento resulta de avanços na neurociência e na ciência da computação e também da necessidade.

Circuitos em nanoescala não podem encolher muito mais. Os chips de hoje consomem muita energia, se aquecendo facilmente, o que limita o quanto os circuitos de um chip podem ser utilizados. Esses limites se aproximam conforme acelera-se a demanda por maior capacidade computacional para se dar conta de um surto de novos dados digitais a partir de sensores, comércios on-line, redes sociais, vídeos e bancos de dados de governos e corporações.

Para dar conta desse desafio, sem que se esgote o fornecimento de energia do mundo, uma abordagem diferente será necessária. E a biologia, dizem os cientistas, promete contribuir com mais do que metáforas. "Cada vez que olhamos para isso, a biologia fornece uma pista sobre como superar os limites da computação", disse John E. Kelly, diretor de pesquisa da IBM.

Kelly aponta para Watson, o computador que responde perguntas, capaz de jogar "Jeopardy!" [programa de perguntas e respostas da televisão norte-americana], e que venceu dois campeões hu­­manos no começo deste ano. A máquina inteligente da IBM consome 85.000 watts de eletricidade, enquanto o cérebro humano funciona com 20 watts. "A evolução resolveu isso", disse Kelly.

Vários caminhos inspirados pela biologia estão sendo explorados por cientistas da computação em universidades e laboratórios corporativos no mundo inteiro. Mas pesquisadores da IBM e de quatro universidades – Cornell, Columbia, a Universidade de Wisconsin e a Universidade da Califórnia, em Merced – estão engajados num projeto que parece ser particularmente intrigante.

O projeto é uma colaboração de cientistas da computação e neurocientistas que começou há três anos. Nos últimos meses, a equipe desenvolveu o protótipo dos microprocessadores "neuros-sinápticos", ou chips que operam mais como neurônios e sinapses do que como semicondutores convencionais.

Engenharia reversa

No princípio, Dharmendra S. Modha, o cientista da computação da IBM que chefia o projeto, descreveu a pesquisa de maneira grandiosa como sendo "a busca para, via engenharia, recriar a mente através da engenharia reversa do cérebro".

O projeto embarcou em simulações de supercomputadores com o propósito de igualarem-se à complexidade de cérebros animais – um gato, depois um macaco. A discussão e o debate entre cientistas auxiliou a orientar a pesquisa. A tecnologia produzida deverá ter as características de ser auto-organizada, capaz de "aprender", em vez de meramente responder aos comandos convencionais de programação, e consumir pouquíssima energia.

Tradução de Adriano Scandolara.

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