O premiê britânico Tony Blair demitiu nesta sexta-feira dois de seus principais ministros em meio a uma grande reforma no gabinete de governo, realizada depois que os Trabalhistas sofreram sua pior derrota em eleições municipais desde 1997, ano em que o partido subiu ao poder.
O chanceler Jack Straw e o ministro do Interior, Charles Clarke, perderam seus cargos junto com John Prescott, vice de Blair, acusado de envolvimento em um escândalo sexual. A ministra do Meio Ambiente do país, Margaret Beckett, assume o lugar de Straw.
A reforma ministerial acontece em meio a acusações de incompetência e irregularidades no governo e depois da derrota nas urnas, fatos que aumentaram as pressões sobre Blair.
"Essa é, certamente, uma grande reforma ministerial", afirmou Ben Page, do instituto de pesquisas Mori. "Parece que ele (o premiê) optou por realizar uma mudança radical".
Clarke deixará o governo enquanto Straw se transformará em líder da Câmara Baixa do Parlamento. O ministro britânico de Defesa, John Reid, assumirá o lugar de Clarke, acusado de incompetência depois de prisioneiros estrangeiros terem sido libertados sem passar por um processo de avaliação.
"O comando de Margaret Beckett na pasta das Relações Exteriores é, realmente, algo que ninguém previu. Reid mostra ser uma carta importante nas mãos de Blair e eis que ele está salvando a pele do premiê novamente", disse Page à Reuters.
A eleição de quinta-feira foi realizada em 176 das 388 municipalidades da Inglaterra e colocou em disputa 4.360 vagas de assembléias municipais. Os resultados divulgados pelo site da rede BBC mostraram os trabalhistas perdendo 256 das 1.768 vagas defendidas, enquanto os conservadores (oposição), agora liderados por David Cameron, conquistavam 252 a mais.
"Esse é um tiro de advertência para o nosso governo", afirmou, antes do anúncio das demissões, Gordon Brown, ministro das Finanças. "A renovação do Partido Trabalhista precisa começar agora".
Resolvendo problemas
Brown, que está no cargo desde que os trabalhistas subiram ao poder, ambiciona há muito tempo o cargo de Blair. Ele é apontado como o próximo líder do partido antes das eleições gerais, previstas para 2010.
As relações entre os dois políticos têm sido marcadas pela tensão, apesar de eles terem feito campanha juntos para as eleições municipais e de Brown ter dito, na sexta-feira, que Blair e o Partido Trabalhista desejavam uma transição sem sobressaltos.
O premiê, que venceu sua terceira eleição consecutiva em 2005, afirmou que abandonará o cargo antes das próximas eleições gerais, mas não estabeleceu uma data.
Alguns criticaram o dirigente nas últimas duas semanas devido a uma série de acontecimentos, entre os quais o fato de o governo não ter avaliado o perfil de prisioneiros estrangeiros para decidir se os deportaria, o corte no número de funcionários de hospitais e a confissão de seu vice de ter mantido um caso extraconjugal.
"Temos de mostrar, nos próximos dias, e não apenas nas próximas semanas, que resolvemos esses problemas", disse Brown. "Vou conversar com Blair sobre esses assuntos no final de semana".
Os britânicos costumam utilizar as eleições municipais para punir o governo, mas, segundo analistas, a perda de mais de 200 cargos seria considerada um resultado ruim para Blair.
"Os conservadores tiveram o melhor desempenho desde 1992 e isso mostra que eles estão perto de retomar o poder", disse Page.
"Isso, porém, não significa que os trabalhistas vão perder a próxima eleição. O resultado das urnas aponta apenas para uma disputa apertada no pleito geral. Não se trata ainda de uma crise total".
A eleição municipal também serviu de teste para o partido Conservador e seu novo líder, que tenta transformar a legenda em uma força política moderna e tirá-la do ocaso em que mergulhou após as três derrotas consecutivas nas eleições gerais.
"Isso mostra que os conservadores estão ampliando seu apelo, que estão atraindo novos eleitores. Acho que o Partido Trabalhista enfrenta algum tipo de grave crise", disse Cameron ao canal GMTV. "Neste momento, sou um homem feliz".



