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Cristina Kirchner enviou ao Congresso um projeto de lei que disciplina os serviços de radiodifusão e aumentou o confronto com a mídia | Juan Mabromata /AFP
Cristina Kirchner enviou ao Congresso um projeto de lei que disciplina os serviços de radiodifusão e aumentou o confronto com a mídia| Foto: Juan Mabromata /AFP

Lei em debate prejudica o Grupo clarín

Na versão do governo argentino, seu projeto de lei de serviços audiovisuais objetiva aperfeiçoar a democracia, promovendo a desconcentração da propriedade de meios de comunicação de massa.

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Buenos Aires - O jornal Clarín, principal diário argentino, pertencente ao maior grupo de comunicação do país, interpretou como um ato de intimidação por parte do governo Cristina Kirchner o ingresso de cerca de 200 agentes da Receita Federal em sua sede, numa operação-surpresa de inspeção, ontem, em Buenos Aires.

"Não temos nenhum inconveniente em prestar informações à Receita. Mas esse é claramente um sinal de intimidação. O que chama a atenção é a desproporção do procedimento’’, disse Martín Et­­chevers, gerente de comunicação externa do Grupo Clarín, que em­­prega 15 mil profissionais – 1.500 deles no jornal.

O editor-geral do Clarín, Ri­­cardo Roa, associou a operação a reportagem publicada ontem pe­­lo jornal, que denunciava um operação irregular de 10 milhões de pesos (US$ 2,5 milhões) na Oncca, órgão de controle agropecuário ligado à receita federal. A fraude teria sido feita para favorecer um empresário próximo ao governo.

"A associação é obvia. Entendo que o kirchnerismo está buscando reter o poder e ter mais poder sobre a imprensa’’, afirmou Roa. O diretor da Receita Federal argentina, Ricardo Etchegaray, citado na reportagem, negou, em carta endereçada a Roa, ter dado a ordem para a operação. O procedimento da receita federal argentina, que o Clarín classificou de "invasão’’, foi imediatamente condenado pelas prin­­cipais vozes de oposição ao governo, como o deputado Fran­­cisco De Narváez e o líder agropecuário Hugo Biolcatti, que disse: "Este país está perdendo as regras do jogo’’.

Nas últimas semanas, desde que Cristina enviou ao Congresso um projeto de lei que disciplina os serviços de radiodifusão, in­­tensificou-se o clima de confronto entre o governo e o Grupo Clarín.

O ex-presidente e marido de Cristina, Néstor Kirchner, afrontou um repórter do grupo durante uma entrevista coletiva, na semana passada. Kirchner dis­­se que o Clarín o ataca não por ra­­zões jornalísticas, mas para "man­­ter sua posição monopolista’’ e afirmou que o repórter não deveria indagar sobre as finanças de Kirchner – alvo de investigação –, assim como ele não pedia explicações sobre o modo como a proprietária do Clarín, Ernes­­tina Herrera de Noble, gerencia a sua fortuna. Interlocutores de Kirchner fa­­zem chegar à imprensa a versão de que ele trata o confronto com o Clarín como "uma batalha de vida ou morte’’. De Noble já se referiu publicamente ao fato de que seria senso comum entre os governantes argentinos que "não se pode governar tendo o Clarín contra’’.

No mês passado, a presidente sugeriu ser vítima de um "fuzilamento midiático’’. O desentendimento de seu governo com o Clarín tem origem na cobertura que os diários, as emissoras de rádio e tevê e a agência de notícias do grupo fizeram do conflito en­­tre o setor agropecuário e o governo, em 2008. Na avaliação do governo, o Clarín insuflou a opinião pú­­blica contra Cristina, apoiou o locaute dos produtores agropecuários e foi determinante para a derrota imposta à Presidência pelo Con­­gresso no tema. Neste ano, o Clarín tem de­­di­­cado amplo espaço a reportagens com denúncias de corrupção no governo Kirchner e à investigação da hipótese de enriquecimento ilícito do casal Kirch­­ner, cujo pa­­trimônio aumentou declarados 158% no ano passado. Com tiragem média de 353 mil exemplares nos dias de semana e 713 mil exemplares nas edições de domingo, o Clarín in­­flui não apenas na formação da opinião de seus leitores.

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