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Ele não pegou em armas para defender seu país. Mas com um laptop está tentando mudar o curso da história de Mianmar.

Ko Htike, de 28 anos, se tornou nos últimos dias um dos blogueiros mais atuantes do país asiático, apesar de viver há sete anos em seu exílio londrino. A 5.500 quilômetros de distância ele está servindo de ponte para que os cidadãos oprimidos pelo governo militar possam contar com suas próprias palavras e imagens o que está acontecendo nas ruas -exatamente o que o Exército de Mianmar tenta evitar.

"Eles estão assustados. Há mais de 200 mortos e pelo menos 300 monges presos", disse Htike em entrevista ao G1, por telefone - numa afirmação que contrasta com o saldo oficial de mortes nos confrontos (entre 10 e 12, dependendo da fonte consultada). "A cidade [Yangon] tem soldados por todos os lados, parece um cenário de guerra."

Há sete anos, Ko Htike deixou Minamar para estudar Ciências da Computação em Londres. Mas sua família e amigos ainda estão na Ásia.

Todos os dias ele faz no mínimo dez ligações e recebe dezenas de e-mails com informações da situação nas ruas das principais cidades da antiga Birmânia. Em uma palavra, ele define o que está acontecendo em sua terra natal: "carnificina"

Clique aqui para vistar o blog de Ko Htike (em inglês e em birmanês)

Leia abaixo a entrevista:.

G1 - Como está a situação agora no país?

Ko Htike - O enviado da ONU está no país, mas os militares querem que ele visite apenas Naypyidaw, a nova capital. Esta cidade é basicamente de militares, não existem muitos civis vivendo lá. Então eles estão tentando fazer com que Ibrahim Gambari, da ONU, não veja a movimentação na principal cidade, Yangon, e toda a carnificina que está acontecendo lá. Em Yangon eles estão batendo nas pessoas à toa e levando quem eles encontram nas ruas dentro dos caminhões militares, e essas pessoas estão desaparecendo. Estão tentando reprimir. E mesmo assim a população está tentando protestar contra o regime. Outra coisa que acontece no norte do país, principalmente na cidade de Myitkyina, ou nas regiões mais pobres, é que eles estão fazendo protestos falsos a favor do regime, pagando pessoas para que haja esse tipo de demonstrações. As pessoas são quase obrigadas a fazer isso, porque senão eles invadem suas casas. Essas demonstrações são mostradas na rede de TV estatal a todo momento.

G1 – O senhor acredita que a situação chegou a um limite? A população sempre tentou protestar, mas agora é diferente?

Htike - Sim, as pessoas sempre tentaram se libertar, mas acredito que agora a situação está muito tensa. Eles vão lutar até conseguir a liberdade que querem. Eu não vejo nenhum sinal de que essas pessoas vão desistir. Acredito que os protestos e as matanças continuarão acontecendo amanhã, depois e depois, até que algum dia a comunidade internacional faça alguma coisa para interceder.

G1 – O senhor acha que a movimentação internacional que acontece hoje por Mianmar mudará a situação?

Htike – A comunidade internacional está discutindo sanções para Mianmar. Acontece que a situação dentro do país não é simples, eles precisam fazer algo mais forte imediatamente para impedir as matanças nas ruas. Sanções não vão ajudar, eles não estão nem aí para as sanções. Eu não direi que tipo de ações tomar, porque não sou político, sou apenas um estudante tentando mostrar o que está acontecendo lá. Mas o meu pedido é: por favor, façam algo mais objetivo, mais intenso.

G1 – Além dos protestos nas ruas, que outro tipo de manifestação os monges fazem?

Htike – Eles fazem um tipo de greve há muito tempo: eles não aceitam nada que venha dos militares nem de ninguém de seu grupo. Nenhuma doação, nada. Porque, pela lei religiosa budista, os monges devem aceitar as doações das pessoas, mas eles não aceitam nada dos generais. Estão tentando colocar os militares fora da religião. É basicamente uma greve fundamentalista.

G1 - Quem são as pessoas que o senhor conversa em Mianmar?

Htike - São parentes, amigos, de diversas idades, a maioria de Yangon. Eu tomo muito cuidado, porque é muito perigoso para eles falar. A linha pode estar grampeada, isso não é raro lá. Quando ligo, eu falo rápido, procuro apenas saber se eles estão bem e saber as informações mais pontuais. Tenho falar com o máximo de pessoas possível, mas às vezes é muito difícil.

G1 – Como eles estão vivendo? Mantêm a rotina ou procuram ficar dentro de casa?

Htike – Eles estão assustados. Há mais de 200 mortos e pelo menos 300 monges presos. Eles são cruéis, nós temos essa experiência de 1998, há vídeos sobre isso na internet. Eles não mataram 8 ou 10 pessoas. Agora o sistema do país está meio em colapso, meio parado. Alguns têm medo de sair de casa. Outros enfrentam tudo e vão às ruas. Há muitas lojas fechadas. A cidade tem soldados por todos os lados, parece um cenário de guerra.

G1 – Há soldados monges?

Htike – Não. É incompatível com a filosofia do monge estar em um Exército. Uma coisa importante sobre a religião é que, no budismo, você precisa tentar ser monge pelo menos duas vezes na vida. Não sei porque os soldados são tão cruéis com os monges, não tenho idéia do motivo.

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