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Falta de mesários e cédulas marca a votação no país

Buenos Aires – Um problema no início e outro no final das eleições argentinas causaram fila e demora a quem compareceu às urnas ontem. Com início previsto para às 8 h (9 h no Brasil), a votação iniciou com mais de duas horas de atraso em várias seções eleitorais do interior do país. O problema foi a falta de mesários. Funcionários da Justiça da Argentina tiveram de ser convocados para trabalhar no lugar dos voluntários que não compareceram.

O outro problema surgiu próximo do fim do horário de votação, às 18h. Muitas das escolas, principalmente na capital Buenos Aires, ainda estavam lotadas de gente. As tevês argentinas mostravam imagens ao vivo de pessoas gritando "Quero votar". A ocorrência levou a Justiça Eleitoral a prorrogar em uma hora o prazo de votação. Foi a primeira vez que o horário foi estendido desde a volta da democracia na Argentina, em 1983. Como no país a votação não é eletrônica, muitos dos eleitores enfrentaram dificuldades em cortar as cédulas de votação, causando as filas.

Denúncia

Os cinco maiores grupos de oposição também denunciaram a falta de cédulas nas seções eleitorais. Representantes dos candidatos Roberto Lavagna, Alberto Saá, Lopez Murphy, Elisa Carrió e Fernando Solano se reuniram em Buenos Aires para apresentar a queixa às autoridades. As cédulas são proporcionadas pelos próprios partidos políticos, mas o grupo diz que muitas foram roubadas. Na Argentina, dentro da cabine de votação o eleitor encontra várias pilhas com as cédulas de cada coalizão e candidato.

A maneira de votar foi alvo de críticas e de comparação com o Brasil pelo candidato López Murphy. Depois de votar, ele falou com os jornalistas. "O Brasil, o Chile e muitos outros países têm voto eletrônico. É uma forma de evitar as fraudes", disse. "É importante que a gente mude isso para as próximas eleições", completou.

De acordo com o jornal La Nacion, três homens morreram ontem na fila de votação. Todos tinham mais de 60 anos. Dois tiveram uma parada cardíaca e não resistiram até chegar ao hospital. O outro homem também passou mal, mas a causa da morte não foi divulgada.

A bela e o kirchnerismo com botox

Buenos Aires – "Uma rainha dourada de um país sem monarquia, uma fêmea indomável, inteligente, polêmica, transgressora e ambiciosa como nenhuma outra desde Eva Perón". Essa é a definição aplicada pela jornalista e biógrafa Olga Wornat à Cristina Elisabet Fernández Wilhelm de Kirchner, que deverá estar no comando da Argentina nos próximos quatro anos. Ela deverá suceder seu próprio marido, Néstor Kirchner. "É uma sociedade política amorosa quase perfeita", pontifica Wornat, autora da única biografia da primeira-dama, "Rainha Cristina".

Mas, os pontos em comum dessa mulher, que nasceu no dia 19 fevereiro de 1953, com Evita (que havia falecido sete meses antes, em julho de 1952) com a "Mãe dos Descamisados", são poucos. Os analistas ressaltam que Cristina não possui o carisma da esposa do general Juan Domingo Perón nem sua capacidade de mobilizar as massas. Mas, sustentam que entre os pontos comuns estão o autoritarismo, a vaidade e a intolerância com as críticas.

Ela acorda cedo diariamente. Toma o café da manhã, lê os jornais e sublinha com uma caneta os assuntos mais importantes e depois passa duas horas fazendo ginástica entre esteira, pilates e os rollers (patins). Depois dessa sessão de fitness, senta à frente do espelho e inicia 40 minutos de maquiagem. "Nunca saio de casa sem estar maquiada", afirma.

As más línguas afirmam que ela passou por várias cirurgias estéticas e aplicações de botox. Cristina nega que as tenha feito. Mas, semana passada em declarações ao Canal Cinco afirmou que não descarta realizá-las no futuro.

No Senado, onde nos últimos quatro anos e meio foi a "tropa de choque" do marido, a senadora Kirchner conta com assessores que caminham apressadamente poucos passos na frente dela para abrir as portas. Seus colegas, que suportam seus ataques de ira e seu estilo de confronto a apelidaram – em francês – de "Madame Guillotine" (Madame Guilhotina). Em Santa Cruz, a província onde fez a maior parte de sua carreira política é também chamada de "La Bruja" (A Bruxa).

Mas, seu apelido preferido – e que segundo seus críticos ilustra bem sua personalidade – é o de "Rainha Cristina", título do filme protagonizado há 70 anos por Greta Garbo que relata a vida da determinada rainha sueca do século 17.

Cristina Fernandez de Kirchner é a nova presidente da Argentina, segundo as pesquisas de boca-de-urna divulgadas na noite de ontem. De acordo com a sondagem da rede de tevê argentina TN, ela teria 46,3% dos votos (para evitar o segundo turno, é necessário obter pelo menos 45% dos votos ou 40% e 10 pontos de diferença sobre o segundo colocado). Nas pesquisas, a segunda colocada, Elisa Carrió, aparece com 23,7%. Se essa previsão se confirmar na contagem oficial dos votos, será a primeira vez que uma mulher é eleita presidente do país (Isabelita Perón herdou o cargo, não foi eleita, em 1974).

Das 73.711 mesas eleitorais do país, os votos de apenas 4.254 foram apurados até o fechamento desta edição. Cristina Kirchner liderava com 41,7% dos votos. Roberto Lavagna estava em segundo, com 22%, seguido de Elisa Carrió, com 17,7% e Alberto Saá, 12,5%.

A eleição na Argentina foi marcada pela apatia dos eleitores. Apesar de Néstor Kirchner não tentar a reeleição, o clima nas ruas é o da continuação. Isso porque Cristina é a mulher do atual presidente e pouco deve alterar no comando do país. Foi o governo popular dele que proporcionou a vitória dela.

Herança do marido

Kirchner assumiu em 2003, depois do ano negro na Argentina, quando o país sofria com uma grave recessão econômica. Ajudado por um contexto internacional favorável, melhorou o índice de desemprego e pobreza. Deu também grande ênfase aos programas de transferência de renda para os mais pobres – tidos como os principais eleitores de Cristina. Uma pesquisa do instituto Poliarquia revelou que ela tinha a preferência de mais de 60% do eleitorado menos escolarizado.

A expectativa é de que Cristina mantenha as políticas do atual governo. Ela e o marido já declaram publicamente que governam juntos e pedem a opinião um do outro em relação às medidas a serem adotadas pelo Estado. Cristina foi eleita senadora pela primeira vez em 1995 e desde então sempre se manteve no Congresso. Seus aliados garantem que essa experiência faz dela uma negociadora mais hábil que o marido. Também teria melhores relações internacionais.

Chávez

Se eleita, uma mudança que poderá ocorrer é um distanciamento, ainda que tímido, de Hugo Chávez, acreditam especialistas que conversaram com a reportagem da Gazeta do Povo nesta última semana. Essa alteração de política externa ocorreria porque, com a recuperação da economia argentina e sua maior importância no cenário mundial, a tolerância da comunidade internacional com uma aliança muito próxima a Chávez seria menor e poderia prejudicar o governo de Cristina. Por outro lado, tampouco ela poderá se desvincular da Venezuela. A Argentina passa por um sério problema de oferta de energia e o país caribenho pode ser a solução.

Cristina também promete aprofundar as relações com o Mercosul e o Brasil. Em entrevista à Rede Globo, ela afirmou que o Brasil seria o primeiro país a que visitaria quando eleita.

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