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O ministro de Assuntos Exteriores turco, o islamita moderado Abdullah Gül, anunciou hoje que retirou sua candidatura à Presidência, após não conseguir, pela segunda vez, o quórum mínimo necessário no Parlamento, devido ao boicote dos partidos laicos.

"Não estou triste. Vou me retirar. Depois disso, minha candidatura está fora de lugar", disse Gül aos jornalistas, apesar de a decisão oficial estar a cargo do islâmico governista Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP).

Mais tarde, Gül afirmou em entrevista coletiva que "o processo de votação (parlamentar) não dará resultado", e que "não tem sentido manter uma nova rodada eleitoral" devido à paralisia a que o Parlamento está submetido por causa do boicote da oposição.

Gül deixou clara sua intenção de se retirar da eleição presidencial, embora os comentaristas turcos indiquem que o passo oficial será dado na segunda-feira, já que deve informar ao Presidente do Legislativo que retirou sua candidatura.

A retirada de Gül representa a vitória dos partidos seculares, que conseguiram impedir que o candidato do AKP chegasse à Presidência por temer que este possa criar uma agenda islâmica na Chefia do Estado. A desistência significa também mais um passo em direção à antecipação das eleições.

No entanto, com a decisão de Gül, candidato único ao cargo, a situação fica complicada, porque o artigo 102 da Constituição indica que as eleições deverão ser convocadas "imediatamente" caso fracasse a designação de um novo presidente.

Para sair da crise institucional e superar a divisão social entre islamitas e laicos, o Parlamento concordou em antecipar as eleições legislativas para 22 de julho.

"A Constituição pede eleições imediatas no caso de fracassar a nomeação do presidente", disse Mümtaz Soysal, ex-ministro de Exteriores e especialista em direito constitucional.

Ali Topuz, número dois da maior formação de oposição, o Partido Republicano do Povo (CHP, laico) defendeu hoje este cenário. "A Junta Eleitoral já declarou que as eleições ocorreriam em 22 de julho. Nós não consideramos (a data) realista. Achamos que pode ser inclusive antes", disse Topuz.

Nos últimos dias, o CHP havia mostrado sua oposição à data das eleições antecipadas, pois parte da população, principalmente seu reduto eleitoral - formado pelas classes médias urbanas -, estaria de férias em julho.

O AKP, por meio de uma emenda constitucional, pretende fazer com que, no dia 22 de julho, sejam realizadas eleições legislativas e presidenciais ao mesmo tempo.

Soysal afirma que a intenção do AKP poderia não se concretizar caso a Junta Eleitoral antecipasse ainda mais o calendário, pois não haveria prazo suficiente para que a Constituição fosse modificada para permitir a eleição direta do chefe do Estado.

Gül deixou claro que, se houver eleições diretas, se candidatará à Presidência. "O apoio com que conto é de 70%. Por isso, decidimos nos dirigir ao povo. Conseguirei a maioria no primeiro turno", afirmou na sexta-feira ao jornal britânico "Financial Times".

Apesar de todas estas questões ainda em aberto, os partidos políticos já estão se preparando para as legislativas. As formações laicas estão dando passos no sentido de unificar suas candidaturas, como exigem os manifestantes que protestam contra o Executivo do AKP.

No sábado, as formações laicas de centro-direita Partido da Mãe Pátria (Anap) e Partido do Caminho Verdadeiro (DYP), decidiram unir-se para as próximas eleições legislativas sob o nome de Partido Democrático (DP).

O objetivo das duas formações, que possuem juntas 24 das 550 cadeiras do Parlamento, é ultrapassar a marca de 10% dos votos para ter acesso à divisão proporcional das cadeiras no Parlamento.

Nas eleições de 2002, o DYP e o Anap conquistaram 9,54% e 5,13% dos votos, mas obtiveram representação apenas dos distritos onde venceram como primeira força política.

Entre a esquerda secular, também há um movimento de aproximação entre o CHP e o Partido Democrático da Esquerda (DSP). A imprensa especula que, nos próximos dias, poderia ser anunciada uma plataforma eleitoral conjunta entre os dois partidos.

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