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Donald Trump discursa durante comicio  | Sean Rayford/AFP
Donald Trump discursa durante comicio | Foto: Sean Rayford/AFP

O presidente americano, Donald Trump, acusou, nesta segunda-feira (1º), o Brasil de ser um dos mais difíceis do mundo para ter relações comerciais e disse que a forma como as empresas americanas são tratadas no país é injusta. “É uma beleza, eles cobram de nós o que querem. Se você perguntar a algumas das empresas, elas dizem que o Brasil está entre os mais difíceis do mundo, talvez o mais difícil do mundo.”

Para  Trump, o problema é que nenhum presidente americano anterior tentou negociar as relações comerciais com o Brasil. Foi a primeira vez que o americano reclamou das relações comerciais com o Brasil. Os EUA tiveram um superávit de US$ 90 bilhões apenas no comércio de bens com o Brasil nos últimos dez anos. "Se forem considerados bens e serviços, essa relação é favorável para os EUA em US$ 250 bilhões", afirmou o secretário de Comércio Exterior do Ministério da Indústria, Abrão Neto.

"No ano passado, nossas exportações para os EUA cresceram 6,2%, e nossas importações mais que o dobro, 13,3%. Existe um viés crescente da corrente de comércio", completou. 

De acordo com Abrão, é necessário entender melhor o contexto e teor das declarações de Trump. "Nós precisamos entender mais em detalhes qual é o contexto e o teor do pontos de preocupação externados pelos EUA. De maneira geral, temos uma relação comercial muito positiva com os EUA, é o nosso segundo principal parceiro comercial. Temos um comércio com um perfil muito complementar e estratégico de trocas comerciais", ponderou. 

Interesse eleitoral 

Um dos fatores que explicam as críticas de Trump ao Brasil são as eleições que os Estados Unidos terão em novembro, quando será renovado o Congresso e serão eleitos novos governadores. Segundo Vinícius Vieira, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) o republicano busca conquistar votos em áreas que foram vitais para ele chegar à Casa Branca: áreas rurais e o Centro-Leste do país, onde está concentrado o setor siderúrgico. A produção duas regiões disputam espaço com itens made in Brasil. “Trump também percebeu que não adianta ter só a China como alvo da sua retórica.” 

Antônio Jorge Ramalho da Rocha, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (IRI/UnB) ressalta que o presidente americano precisa dar satisfação a seu eleitorado. “A declaração sobre o Brasil tem mais a ver com o fechamento do acordo sobre com o Canadá.” Ele destaca que o acordo além das expectativas iniciais dos Estados Unidos, devido à postura mais firme adotada pelo primeiro-ministro canadense Justin Trudeau nas negociações. 

O presidente americano também foge do estereotipo da diplomacia tradicional, que busca resultados a longo prazo.Segundo o professor da UnB,

Trump segue uma lógica diferente: fechou um negócio, diz que obteve um acordo histórico e coloca outro fato no centro das atenções. Ele tem uma necessidade de gerar fatos novos.”

Vieira, da FGV, destaca que negociações comerciais são duras dos dois lados: tanto o Brasil e os Estados Unidos buscam acesso para seus produtos. Na área agrícola, por exemplo, o Brasil enfrenta, além das tarifas, barreiras técnicas, o que dificulta a entrada de produtos como o etanol e a carne. “O Brasil poderia exportar mais se não houvesse tantas barreiras na área agrícola.” 

Isto não quer dizer que o Brasil tenha uma equipe fraca de negociadores. Muito pelo contrário. Ramalho diz que o país sabe negociar de forma competente. E, segundo ele, não é só no Itamaraty, mas também no Ministério da Agricultura e no da Indústria. 

Uma das alternativas que o Brasil encontrou para conseguir melhor acesso ao mercado norte-americano foi por meio das compras de empresas locais, principalmente nos segmentos siderúrgico e de carnes. 

Novo alvo 

Não é a primeira vez que o Brasil se torna alvo do governo americano. A principal disputa no momento diz respeito ao desejo do Brasil de ingressar na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). 

Em junho de 2017, o país deu entrada no pedido formal. Em março deste ano, os EUA bloquearam o início do processo de análise da solicitação dentro do organismo internacional. Um dos motivos para a resistência seria a intenção americana de manter o grupo limitado – a OCDE tem 37 países. Em maio, porém, a Colômbia foi aceita no clube. 

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Os ataques ao Brasil ocorreram após um jornalista questionar o republicano sobre as relações comerciais com a Índia, também acusada de cobrar “enormes tarifas”. 

“A Índia cobra de nós tarifas tremendas. Quando enviamos Harley-Davidson, motocicletas, eles cobram elevadas tarifas. E eu falei com o primeiro-ministro Modi, ele vai reduzi-las, substancialmente”, afirmou. 

Ataques ao resto do mundo 

Trump acusou ainda “o resto do mundo” de querer tirar vantagem dos EUA. “Como região, temos que trabalhar muito perto de México e Canadá, porque conseguiremos competir com qualquer um. Temos coisas que ninguém tem, temos energia que ninguém tem. Temos madeira que ninguém mais tem”, disse. 

O republicano convocou a coletiva de imprensa para comentar a decisão do Canadá de embarcar no acordo comercial que os Estados Unidos já haviam negociado com o México no final de agosto. 

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Havia um prazo, que terminava à meia-noite de domingo (30), para que os governos canadense e americano chegassem a um consenso sobre os termos do pacto renegociado. Poucas horas antes do horário limite, os dois lados alcançaram um acordo. 

“Era um acordo injusto, seja em relação ao México ou ao Canadá. E agora é um acordo justo para todo mundo. É um acordo diferente, é um novo acordo, não é um Nafta refeito”, afirmou Trump nesta segunda. 

Até no nome. O novo acordo trilateral se chamará USMCA, acordo entre EUA-México-Canadá na sigla em inglês.

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