Nova York - O Brasil se absteve ontem na votação em um comitê da ONU de uma resolução expressando "preocupação profunda com as recorrentes violações dos direitos humanos" no Irã. A resolução, aprovada no comitê de direitos humanos da Assembleia Geral, foi patrocinada por 42 países liderados pelo Canadá.
O texto condena, "entre outros [casos], a tortura, a alta incidência de aplicação de pena de morte, inclusive contra pessoas menores de 18 anos, a violência contra a mulher e a perseguição contra minorias étnicas''.
Ao defender a proposta, o canadense John McNee afirmou que "apedrejamentos, chibatadas, amputações, execuções de adolescentes, execuções por estrangulamento e discriminação contra mulheres e minorias não podem ser ignorados''.
Neste ano, o caso da iraniana Sakineh Ashtiani, acusada de adultério e de coautoria no assassinato de seu marido, ganhou repercussão mundial. Ela foi condenada em 2006 à morte por apedrejamento e aguarda decisão presa.
A resolução foi aprovada por 80 votos a 44, com 57 abstenções, e será adotada pela Assembleia Geral.
Aproximação
O Brasil se aproximou muito nos últimos anos do regime do presidente Mahmoud Ahmadinejad, opondo-se a sanções contra ele.
A presidente eleita, Dilma Rousseff, disse no início do mês que o apedrejamento é uma "coisa muito bárbara", o que pode sugerir uma inflexão sobre o tema quando ela assumir, em janeiro.
A delegação brasileira, ao justificar o seu voto, destacou pontos de preocupação com os direitos humanos no Irã, mas afirmou acreditar que a resolução é "produto de um processo que precisa ser melhorado".
"As resoluções [referentes ao Irã] são as únicas que não passam por um processo de consultas abertas e transparentes", afirmou o representante do Brasil. "Além disso, a maneira pela qual algumas situações de direitos humanos são destacadas, enquanto outras não são, serve apenas para reforçar o argumento de que questões de direitos humanos são tratadas de forma seletiva e politizada.''
O Brasil assegurou que também se preocupa com os direitos humanos no Irã, especialmente das mulheres. O país mencionou a importância do respeito a direitos civis e políticos e à liberdade de expressão e opinião.
O representante iraniano presente à reunião, Mohammad Larijani, disse que a resolução nada tem a ver com direitos humanos, mas procura servir à política norte-americana.



