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David Michael Miranda (à direita) vive com Glenn Greenwald (à esquerda), repórter do The Guardian, que publicou informações sobre o esquema de espionagem denunciado por Edward Snowden | Reuters / Ricardo Moraes
David Michael Miranda (à direita) vive com Glenn Greenwald (à esquerda), repórter do The Guardian, que publicou informações sobre o esquema de espionagem denunciado por Edward Snowden| Foto: Reuters / Ricardo Moraes

Anistia Internacional condena retenção de brasileiro em Londres

A organização não governamental (ONG) Anistia Internacional condenou a detenção, no Aeroporto de Heathrow (Londres, Reino Unido), do brasileiro David Michael Miranda, de 27 anos, que vive com Glenn Greenwald, repórter do jornal britânico The Guardian, que publicou informações sobre o esquema de espionagem denunciado por Edward Snowden, ex-funcionário de uma empresa terceirizada da Agência de Segurança Nacional norte-americana (NSA).

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O brasileiro David Miranda, de 28 anos, desembarcou no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio, na manhã desta segunda-feira, 19, após ficar detido por quase nove horas neste domingo, 18, por oficiais da Scotland Yard no aeroporto de Heathrow, em Londres, na Inglaterra. Ele é companheiro de Glenn Greenwald, jornalista norte-americano radicado no Rio, que revelou em reportagens no jornal britânico The Guardian os métodos utilizados pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês) para espionagem de cidadãos e governos de vários países, entre eles o Brasil.

As informações foram vazadas para Greenwald por Edward Snowden, ex-agente da Agência Central de Inteligência americana (CIA, na sigla em inglês), atualmente radicado na Rússia. "Eu fiquei numa sala, tiveram seis agentes diferentes, entrando e saindo, falando comigo. Fizeram perguntas sobre a minha vida inteira, sobre tudo, levaram o meu computador, videogame, celular, meus memory cards, tudo", contou Miranda à TV Globo, após desembarcar no Rio.

Miranda foi detido com base no artigo 7 da Lei Antiterrorismo britânica, de 2000, que permite a interceptação de indivíduos, pesquisa e aplicação de interrogatório em aeroportos, portos e áreas de fronteira. O brasileiro chegou ao aeroporto de Heathrow após sair de Berlim. Na Alemanha, ele havia se encontrado com a documentarista Laura Poitras, para dar prosseguimento ao documentário que Glenn Greenwald está fazendo sobre as informações da NSA. Na volta da Alemanha, ele faria uma escala de apenas duas horas em Londres.

Por volta das 8h30 de domingo (horário de Londres), Miranda foi informado de que passaria por um interrogatório. Sem qualquer acusação contra ele, foi liberado somente às 17h. Após se encontrar com o companheiro no aeroporto do Rio, Greenwald disse que a detenção de Miranda foi uma tentativa de intimidá-lo. "Agora vou ser mais radical com minhas reportagens no The Guardian. Tudo isso foi uma tentativa clara de intimidação."

Britânico pedirá explicações

O parlamentar britânico Keith Vaz deve pedir explicações para a polícia do país pela retenção de David Miranda. Keith Vaz disse que quer saber a razão pela qual a polícia abordou Miranda. Segundo o parlamentar, é preciso esclarecer os fatos rapidamente. "Agora você tem uma queixa de Greenwald e do governo brasileiro. Eles realmente disseram que estão preocupados com o uso da legislação de combate ao terrorismo para algo que não parece estar relacionado com o terrorismo."

O celular, o laptop e os cartões de memória do brasileiro foram confiscados, segundo Greenwald. Miranda foi detido durante uma viagem ao Brasil depois de visitar a Alemanha, onde ele se encontrou com Laura Poitras, um cineasta norte-americana que já havia trabalhado com Greenwald na reportagem sobre a Agência de Segurança Nacional, dos EUA. O jornal The Guardian informou que pagou pelos voos de Miranda, mas não deu mais detalhes sobre a sua participação.

Vaz afirmou que era "extraordinário" o fato de a polícia ter conhecimento de que Miranda era o parceiro de Greenwald, e que as autoridades tinham como alvo parceiros de pessoas envolvidas no caso de Edward Snowden.

"Tendo em mente que deter alguém nestas circunstâncias é uma nova utilização da legislação de combate ao terrorismo, eu certamente estou interessado em saber, por isso vou escrever para a polícia para pedir justificativas pelo uso desta legislação. Eles podem ter uma explicação perfeitamente razoável", disse Vaz.

O parlamentar do Partido Trabalhista Tom Watson questionou se os ministros do Ministério do Interior tinha sido avisados sobre o caso e descreveu a prisão como algo "vergonhoso para o governo". Segundo Watson, há o perigo de que este tipo de serviço de inteligência viole seus limites. "Eles estão claramente tentando intimidar Glenn Greenwald. E isso é um ataque ao jornalismo", disse à BBC.

O governo brasileiro classificou a retenção como "medida injustificável".

"Trata-se de medida injustificável por envolver indivíduo contra quem não pesam quaisquer acusações que possam legitimar o uso de referida legislação [de combate ao terrorismo]", divulgou por meio de nota o Itamaraty. O órgão informou, ainda, que o governo manifesta "grave preocupação" e espera "que incidentes como o registrado hoje com o cidadão brasileiro não se repitam".

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