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Nova cabine telefônica foi instalada na West End Avenu­e com 101st Stree­t, em Manha­ttan | YANA PASKOVA/NYT
Nova cabine telefônica foi instalada na West End Avenu­e com 101st Stree­t, em Manha­ttan| Foto: YANA PASKOVA/NYT

Era uma cabine telefônica, daquelas em que o Clark Kent se escondia correndo para sair transformado em Super-Homem.

Apesar do vidro todo pichado, dos painéis de metal enferrujados e da porta, há muito arrancada, o telefone público funciona perfeitamente. “Tem muita gente que ainda usa”, atesta Igor Gakh, porteiro diurno do prédio que fica ali pertinho, no Upper West Side de Manhattan.

Os homens retiraram o telefone e desparafusaram a cabine da calçada; a seguir, içaram a substituta do caminhão: uma estrutura prateada, um pouco maior, mas muito mais elegante. “Eu adoro. Toda vez que um amigo vem me visitar comenta sobre o fato de eu ter uma cabine bem na esquina de casa”, comenta Lisa Lieberman, professora universitária que mora ali perto.

Embora ainda haja algumas cabines espalhadas pela cidade, sobraram apenas quatro do modelo antigo em Nova York, sendo que todas ficam na West End Avenue, segundo a empresa operadora.

E ficaram famosas justamente por isso, por serem as “últimas da espécie” – sendo que a da 100th Street chegou a inspirar um livro infantil, em 2010, “The Lonely Phone Booth”.

A cabine de vidro quadradona que se via em praticamente todas as calçadas da cidade, no cinema e na TV, hoje não passa de lembrança.

Ela foi substituída, em grande parte, nos anos 1970, pela versão estilo pedestal, mais comum hoje em dia, por ser mais barata, mais fácil de manter e menos vulnerável ao vandalismo.

Apesar disso, as autoridades da Intersection decidiram manter as quatro antigonas na West End Avenue e, consequentemente, instalaram as substitutas.

Funcionários da Intersection instalam uma cabine telefônica na West End Avenue e 101st StreetYANA PASKOVA/NYT

Scott Goldsmith, diretor de imprensa da companhia, acompanhou a operação e disse que se sentia obrigado, como nova-iorquino apaixonado pela história da cidade, a manter as cabines em homenagem à sua importância passada.

“Fui criado em Nova York e usei muito esses telefones. Acho vital manter detalhes históricos como esse”, diz ele. A chamada local ainda custa US$ 0,25, mas Goldsmith afirma que em breve elas se tornarão gratuitas, como parte da graça de mantê-las em funcionamento.

Um dos motivos por que o quarteto sobreviveu, sem dúvida, foi a persistência de um homem: Alan Flacks, que se autodenomina “estudioso de cabines telefônicas” e mora na West 100th Street.

Flacks não desiste: para protegê-las, ligava constantemente para a administração da Verizon, empresa responsável pela manutenção.

Quando a cabine da West 100th Street foi substituída temporariamente, em 1996, por outra, no estilo pedestal, Flacks não deu sossego enquanto a companhia não a trocou pelo modelo antigo.

Suas táticas de preservação incluíram abaixo-assinados e lobby com os vereadores sobre a importância das estruturas que, para ele, valem muito a proteção, afinal são verdadeiros monumentos característicos da cidade.

“Uma razão óbvia para cuidar bem das cabines é o fato de serem tradicionalíssimas e parte do cenário local, mas a verdade é que, às vezes, a gente pode precisar do bom e velho telefone público. Nem sempre o celular funciona”, diz Flacks, que só recentemente comprou um.

Só que as cabines não são fáceis de achar: em 2003, quando a da 100th Street precisou ser substituída, a Verizon tinha só duas em estoque, sendo que ambas estavam alugadas para estúdios de cinema.

Uma foi usada na reposição, mas a outra acabou destruída durante as filmagens de “Por Um Fio”, suspense de 2002.

Funcionários da Intesection trocam cabine vandalizada por nova YANA PASKOVA/NYT

A decisão da Intersection em manter o quarteto também gerou dificuldades: a empresa entrou em contato com a Clark Specialty, companhia de Bath, Nova York, que faz e reforma cabines telefônicas, mas ela não tinha nenhuma sobrando.

“Hoje em dia são cada vez mais difíceis de encontrar”, conta James Presley, o dono da empresa, que vendeu os últimos exemplares de vidro, há mais de dez anos, para bases militares e colecionadores.

E explica que construir outras, novas, do zero, sairia muito caro; assim, começou a ligar para o pessoal do ramo e descobriu um galpão no Canadá que tinha várias, embora em péssimas condições. “Estavam maltratadas porque, imagina, estavam ali guardadas há uns quinze anos”, prossegue Presley, que comprou o lote e o reformou.

A operação de substituição do dia dez atraiu uma multidão de curiosos, a maioria feliz com a novidade. “Muita gente ficaria furiosa se tirassem essas belezuras daqui”, afirmou Aaron Frucher, morador local que chegou a perguntar a Goldsmith se poderia comprar a da 101st.

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