
Muamar Kadafi lançou mais um desafiou nesta quinta-feira a seus inimigos líbios e estrangeiros, enquanto em alguns pontos da capital Trípoli seguidores leais ao regime combateram os rebeldes cada vez mais empenhados em encontrar e silenciar o líder foragido.
Rumores de que Kadafi e seus filhos estariam encurralados, ou mesmo que teriam sido vistos, proliferaram entre os rebeldes. Mas, dois dias depois da tomada do complexo governamental de Bab al Aziziya, violentas ações na retaguarda continuam frustrando as expectativas de que a guerra civil líbia estaria chegando ao fim.
Potências ocidentais exigiram a rendição de Kadafi e discutem formas de liberar para os rebeldes bilhões de dólares de patrimônio líbio congelado no exterior, o que permitiria iniciar a reconstrução do país após seis meses de conflito.
Mas os combates prosseguem em alguns bolsões da capital, no deserto e na região natal de Kadafi, que na quinta-feira divulgou mais uma mensagem de áudio em um canal de TV simpático ao seu regime.
"As tribos... devem marchar sobre Trípoli. Não deixem Trípoli para esses ratos, matem-nos, derrotem-nos rapidamente", afirmou. "O inimigo está delirante, a Otan está recuando", bradou ele, com voz mais firme e clara do que em um discurso semelhante transmitido na véspera.
Os rebeldes acreditam que Kadafi ainda esteja na capital ou arredores, mas temem que ele use uma rede de túneis e esconderijos subterrâneos para escapar à perseguição e iniciar uma insurgência contra o novo governo.
Recalcitrantes do regime -- talvez centenas deles -- impedem que os rebeldes assumam o controle total da capital. Em um bairro da zona sul, próximo à famosa prisão de Abu Salim, as forças rebeldes lançaram uma ofensiva coordenada, indo de casa em casa e tomando prisioneiros. Em outros lugares, forças pró-Kadafi fizeram disparos contra posições dos rebeldes no aeroporto de Trípoli, e aviões da Otan bombardearam Sirte, a cidade natal de Kadafi, a leste.
Moradores se aventuram
Em meio aos disparos esporádicos, alguns dos 2 milhões de habitantes de Trípoli se aventuraram a sair de casa pela primeira vez em vários dias, para comprar mantimentos.
Agências humanitárias alertaram para o risco de escassez de alimentos, água e medicamentos. Mas a nova liderança disse ter encontrado enormes estoques na capital, que aliviariam a situação.
Em um sinal de que a autoridade rebelde está gradualmente se apropriando das alavancas do poder, um membro do Conselho Nacional de Transição, Ali Tarhouni, disse na noite de quinta-feira que a entidade começou a se transferir de Benghzi, onde funcionou nos últimos meses, para Trípoli.
"Proclamo o começo da retomada do trabalho do escritório executivo em Trípoli", disse Tarhouni, encarregado de questões financeiras e petrolíferas, a jornalistas na capital. Essa mudança é considerada crucial para evitar divisões traumáticas no país, especialmente entre o leste e o oeste.
Também na quinta-feira, a África do Sul -- que relutava em aceitar o aval da ONU à liberação de patrimônio para os rebeldes -- fechou um acordo com os EUA que deve permitir o acesso do novo governo líbio a 1,5 bilhão de dólares, a serem usados para fins civis e humanitários, segundo diplomatas na ONU.



