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Imigrantes passam por buraco em cerca para tentar chegar ao Eurotúnel, que liga a França ao Reino Unido: tentativa de fuga. | Pascal Rossignol / Reuters
Imigrantes passam por buraco em cerca para tentar chegar ao Eurotúnel, que liga a França ao Reino Unido: tentativa de fuga.| Foto: Pascal Rossignol / Reuters

3,5 mil pessoas

tentaram entrar na Grã-Bretanha por meio do Eurotúnel nos últimos quatro dias, segundo a Eurotunnel, empresa que administra a ligação entre a França e o Reino Unido. Os refugiados, em sua maioria da África e do Oriente Médio, estão em acampamentos na cidade de Calais, no norte da França, e têm sido impedidos por policiais de chegar ao túnel. As tentativas de invasão têm atrapalhado o fluxo de veículos no túnel. Na semana passada, um sudanês morreu atropelado por um caminhão.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, disse que o governo está elaborando um plano para ajudar a França a enfrentar o aumento nas tentativas de entrada de imigrantes ilegais na Grã-Bretanha através do Canal da Mancha, mas alertou que não haverá solução rápida.

Cameron está sob pressão para solucionar o problema após a interrupção na travessia de passageiros e mercadorias pelo Eurotúnel. Ele apresentou os planos em uma reunião do comitê de emergência do governo, na última sexta-feira (31), depois que políticos defenderam que o Exército reforce o controle das fronteiras. A primeira ação será enviar cães e cercas à França.

“Viajei até a França em banheiros de trens”, diz refugiado sudanês

  • CALAIS (fRANÇA)

O sudanês Victor Mohamed, de 23 anos, cumpriu na manhã de sexta-feira a rotina de encher galões de água no acampamento onde vive em Calais, no norte da França. Ele chegou há uma semana ao local. Desembarcou há seis meses na Sicília (Itália), após uma viagem de quatro dias de barco pelo mar Mediterrâneo.

Viajou alguns dias de trem da Itália até Calais. “Da Sícilia, fui para Nápoles, depois para Milão. De lá, peguei um trem para Nice, com uma parada antes em Ventimiglia (ainda Itália). De Nice, vim para Calais”, conta. “Conseguia entrar no trem e passava a maior parte do tempo no banheiro dos vagões para não ser pego pelo cobrador.”

O jovem da capital sudanesa, Cartum, afirma que, por enquanto, não sabe se tentará uma travessia para o Reino Unido, como milhares de imigrantes em Calais têm feito.

Mohamed avalia que não teria futuro em sua terra natal. “A vida lá é muito ruim, não tenho qualquer chance”, afirma. Ele diz que sua família pagou US$ 2,5 mil a aliciadores no Sudão para levá-lo para a Europa.

Estima-se que entre 3 mil e 5 mil imigrantes vivem hoje em Calais. Nos últimos dias, a administração do Eurotúnel, que liga Calais ao Reino Unido pelo canal da Mancha, afirmou que 3,5 mil pessoas tentaram forçar a passagem para o lado britânico, aumentado a crise migratória na região.

“Nós vamos adotar medidas corretas do princípio ao fim. Vamos começar ajudando os franceses do seu lado da fronteira. Vamos colocar mais barreiras, mais recursos, mais equipes com cães farejadores, mais ajuda de qualquer maneira que pudermos”, disse Cameron. Ele quer ainda que terras do governo sejam usadas para aliviar os inconvenientes causados pelo congestionamento de caminhões do lado britânico do Canal.

“A situação é totalmente inaceitável. A prioridade deste governo é tentar resolver este assunto o mais rápido possível. Sabemos que é um tema complicado, que seguirá sendo durante todo o verão e que temos que trabalhar muito mais para solucioná-lo”, disse o primeiro-ministro.

Uma das primeiras medidas do governo britânico será investir sete milhões de libras (cerca de R$ 40 milhões) em medidas de proteção para caminhões com destino ao Reino Unido e na instalação de uma nova cerca de segurança.

Promessa em risco

Reeleito em maio, Cameron prometeu reduzir em dezenas de milhares o número de imigrantes por ano na Grã-Bretanha, um compromisso que ele não cumpriu no primeiro mandato (2010 a 2015), quando o país recebeu mais de 300 mil estrangeiros, um recorde.

A questão é sensível, já que está relacionada com um debate na Grã-Bretanha sobre sua presença na União Europeia. Cameron prometeu realizar até o final de 2017 um referendo sobre a adesão do país ao bloco.

Na semana passada, o premiê aumentou o tom contra os imigrantes ilegais, o que gerou reações na Grã-Bretanha. Ele se referiu aos refugiados como “uma praga” e classificou o fluxo de milhares de pessoas como um “enxame”. Cameron disse ainda que queria ter certeza de que os turistas britânicos “poderão ir para as suas férias”, referindo-se aos transtornos causados aos que tentam cruzar o Eurotúnel para o lado francês.

A Comissão de Refugiados do Reino Unido classificou a declaração como “desumana”. Líderes do Partidos Trabalhista e do Partido Liberal-Democrata também repudiaram as expressões.

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