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Felix Tshisekedi foi declarado pela comissão eleitoral como presidente do Congo | JUNIOR D. KANNAH/AFP
Felix Tshisekedi foi declarado pela comissão eleitoral como presidente do Congo| Foto: JUNIOR D. KANNAH/AFP

A comissão eleitoral do Congo declarou Felix Tshisekedi o vencedor de uma eleição presidencial controversa na madrugada de quinta-feira (10), preparando o terreno para a primeira transferência democrática de poder do país, apesar de atrasos, irregularidades e evidências de fraude.  

A vitória de Tshisekedi foi anunciada 12 dias após a eleição de 30 de dezembro. Com pouco menos de 40% dos votos, dentre 21 candidatos, ele substituirá Joseph Kabila, que foi presidente nos últimos 18 anos. Tshisekedi representa o partido político mais antigo do Congo, fundado por seu pai, que passou décadas na oposição. 

O candidato escolhido por Kabila para ser seu sucessor, Emmanuel Ramazani Shadary, atraiu o menor número de votos entre os principais candidatos. Outro candidato da oposição, Martin Fayulu, ficou em segundo lugar apesar de consistentemente ter sido apresentado como favorito. Pouco antes do anúncio dos resultados, Fayulu, ex-funcionário da Exxon que virou parlamentarista, disse em uma mensagem que um acordo de compartilhamento de poder entre Tshisekedi e Shadary se tornou um "segredo aberto". 

"Minha resposta é simples: o povo congolês merece a verdade da cédula, não outro arranjo de bastidores", disse ele. Fayulu e outros candidatos perdedores têm o direito legal de apelar os resultados para um tribunal constitucional. 

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Na comissão eleitoral, havia aumentado a pressão para divulgar os resultados depois que um atraso em seu anúncio causou suspeita sobre a integridade dos votos. Poucas missões de observadores foram acreditadas para monitorar a votação, e a maior delas, liderada pela Igreja Católica, repetidamente pediu que os resultados fossem publicados fora dos locais de votação. 

Essa missão, conhecida como Cenco, foi a maior, com cerca de 40.000 observadores, e é particularmente influente, já que quase metade do Congo é católico. Ela informou que 38% das seções eleitorais observadas não tinham materiais suficientes no início do dia das eleições, que em centenas de casos as urnas não foram seladas antes da contagem e as seções eleitorais não verificaram adequadamente as identidades dos eleitores. Não ficou claro se a Cenco publicaria resultados contrastantes.  

Outra missão de observação interna chamada Symocel disse que testemunhou 52 irregularidades importantes, incluindo adulteração física dos resultados, nos 101 centros de contagem de votos que monitorou. Havia um total de 179 centros de votação em todo o Congo. 

Na semana passada, o governo dos Estados Unidos, os líderes da África do Sul e Zâmbia, o papa Francisco e numerosos grupos congoleses de direitos civis pediram que a comissão eleitoral publicasse resultados precisos ou sofreria consequências. 

Os Estados Unidos posicionaram 80 tropas de prontidão no vizinho Gabão para evacuar cidadãos americanos, caso ocorra uma violência generalizada nos próximos dias. Na tarde de quarta-feira, no entanto, o Departamento de Estado aconselhou os americanos a deixarem o Congo e disseram que não deveriam depender do governo para evacuação.

Esperança esvaziada 

A eleição representava uma chance rara de mudança através das urnas, algo profundamente desejado pelos eleitores congoleses. Mas as controvérsias em torno do pleito também levantaram o espectro da violência política, que acompanhou todas as eleições anteriores do Congo. 

A votação também foi complicada por um surto de Ebola em curso na província oriental de Kivu do Norte, que já é  o segundo maior da história. A comissão eleitoral adiou a votação nas cidades de Beni e Butembo, efetivamente impedindo mais de um milhão de pessoas de votar – áreas que deveriam apoiar fortemente Fayulu. 

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O Congo é o maior país da África Subsaariana e possui alguns dos depósitos minerais mais ricos do mundo. Cerca de 80% do cobalto mundial, componente essencial de baterias para telefones celulares e carros elétricos, vem das minas de suas regiões orientais. Essas mesmas regiões foram marcadas por décadas de insurreição quase constante, e dezenas de grupos armados ainda funcionam lá. Desejando a sua riqueza natural, a maioria dos congoleses vive na pobreza, sem acesso a eletricidade ou água limpa. 

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